Compartilhe este texto

Senador vê riscos para segurança em projeto de polícia internacional

Por Portal Do Holanda

27/09/2023 16h37 — em
Amazonas


Foto: Divulgação

Por Ana Celia Ossame, especial para Portal do Holanda

 

A instalação do chamado Centro de Cooperação de Polícia Internacional em Manaus, que vai introduzir agentes de outros países em território nacional, com objetivo de combater crimes ambientais e narcotráfico na Amazônia, é motivo de preocupação para o senador Plínio Valério (PSDB-AM).

Em entrevista ao Portal do Holanda (PH), o senador questionou a presença de policiais que vão aprender a conviver no território amazônico e levar esse conhecimento, representando riscos claros para a segurança nacional.

Para ele, a cooperação internacional é importante, deve existir e vir dos países que são os destinos das drogas. Mas se querem ajudar, que seja por meio de financiamentos, sem que venham para a Amazônia dizer o que deve ser feito para a proteção da região. Leia a entrevista:

 

(Portal do Holanda) - O senhor acha que esse projeto de criação do Centro de Cooperação Polícia Internacional em Manaus deveria ser mais discutido com a sociedade como o Congresso e outros setores?

(Plínio Valério) - Sem dúvida. Projetos assim, impactantes, propondo policiais estrangeiros dentro do coração da Amazônia, têm sim, que transpor ampla discussão, e passar pelo Congresso Nacional. A coisa é muito séria e não pode ser assim, goela abaixo.

(Portal do Holanda) - O senhor questionou os motivos pelos quais o Brasil será o financiador do Centro de Cooperação, destinado a combater crimes ambientais e narcotráfico na Amazônia. Esse financiamento será só do Brasil? Quais informações o senhor tem a esse respeito?

(Plínio Valério) - O financiamento será só do Brasil, policiais dos oito países da América do Sul, a sede desse centro em Manaus e deverá ficar entre R$ 6 e R$ 7 milhões custeado pelo Brasil.

(Portal do Holanda)- Se o Brasil não consegue hoje fazer essa vigilância somente com seus recursos, a cooperação não seria uma alternativa mais interessante?

(Plínio Valério) - A cooperação é imprescindível, mas ela não precisa ser uma cooperação de pessoal, pode ser de equipamentos e recursos para custeio, pois temos o Exército, a Marinha e a Aeronáutica, que podem agir, se forem injetados recursos, assim como helicópteros, drones, aviões. Acho que essa ajuda internacional para combater o narcotráfico não pode prescindir da ajuda de onde droga chega, que é nos Estados Unidos, Europa, agora não necessariamente com a polícia deles. Acho que deve ser mais importante para a segurança nacional que venham equipamentos e custeio.

(Portal do Holanda) - O senhor alertou ainda sobre a criação de uma estrutura de caráter multinacional que vai trazer agentes de outros países ao território nacional, que pode representar uma interferência e colocar em risco a segurança nacional. O senhor pode exemplificar algum risco nesse sentido?

(Plínio Valério) - O risco nesse sentido é que já fomos invadido com cavalos de troia, que derrubaram a muralha de troia que foram as ONGs (organizações não-governamentais) e hoje a Amazônia está complemente dominada por esse pessoal internacional. As ONGs representam os grandes grupos das transnacionais do petróleo, gás, madeira, carvão, que financiam fundos e estes financiam as ONGs. Hoje, estamos dominados porque as inúmeras  demarcações de terras indígenas e reservas florestais imobilizam a Amazônia. Agora, essa etapa aí que vai trazer policiais para aprender a lidar na Amazônia, na qual que não têm experiências, que vão aprender o que nosso Exército e Marinha já sabem é muito perigoso. Vejo como perigo, sim, um policial francês, um oficial americano vai responder a quem? Ao Brasil? Mas quando for embora vai ser fonte de informações e aprendizagens. Podem achar que isso é fantasia, mas não é. Os policiais estrangeiros vão aprender a viver na Amazônia e esse aprendizado é nosso, é demorado, por isso vejo como uma questão de segurança nacional, que deveria ser estudada com mais carinho. Se querem ajudar, que seja com recursos, que até hoje não passam de promessas.

(Portal do Holanda) - Como o senhor vê o desafio do uso de tecnologias avançadas nessa região, porque sabemos das limitações da Internet em muitas comunidades do interior do Amazonas e não deve ser diferente nesses outros países das fronteiras?

(Plínio Valério) - A Internet tem que chegar a todo interior do Amazonas. Eu mesmo acabei de levar Starlink (antenas) ao Rio Tupana, com Internet para a Comunidade Castelo Branco, dos índios Baniwa e tem uma série de outros compromissos, como a Starlink para o Alto Rio Negro, que tem que ser colocada sim. Mas precisamos também de drones, lanchas supervelozes para concorrer com os traficantes, além de helicópteros, aviões rápidos e anfíbios e esse pessoal poderia ajudar com dinheiro, pois nós sabemos o que fazer, mas faltam recursos.

(Portal do Holanda) - A realidade econômica dos oitos países é bem diversa, ao contrário dos problemas nas fronteiras, que são semelhantes. Isso pode ser mais positivo ou negativo para a criação do Centro de Policiamento?

(Plínio Valério) - Essa realidade é diferente, mas aqui na América do Sul acho que os narcotraficantes usam muito o rio e a floresta para se esconder. O que vai mudar é para essa gente que não tem conhecimento. As polícias brasileira, colombiana e peruana sabem como lidar com isso, mas precisa de condições, pois os rios são muito sinuosos, com muitos meios para fugir. A sabe disso e os outros vão aprender a fazer isso e quando forem embora? O mesmo aconteceu com os pesquisadores que vieram aqui e foram embora levando nossos conhecimentos.

(Portal do Holanda) A tão temida internacionalização da Amazônia está ocorrendo de forma passiva e com a colaboração do governo brasileiro?

(Plínio Valério)- Quando se fala em internacionalização da Amazônia e já se fala há muito tempo, está patente isso. Eles dominaram a região com essa história de demarcação, áreas protegidas, pois hoje temos locais onde há riqueza isolados em área indígena ou reserva de proteção florestal. Nesse esquema, estamos imobilizados, já estamos internacionalizados, não tenho dúvidas que eles conhecem lá fora, em termos de riqueza, têm informações do que nós. Quando um cientista publica uma tese, um livro, dá palestra, ele roubou centenas de conhecimento e não dá crédito, então isso é roubo. Somos roubados desde a época de borracha, quando um inglês levou 70 mil mudas de seringa e acabou sendo condecorado pela rainha Vitória. Martim Afonso quando chegou no Brasil em 1530 se deparou com caravelas francesas cheias de Pau-brasil.

(Portal do Holanda)- Como deve ser essa cooperação externa?

(Plínio Valério) - Que fique bem claro, não sou contra auxílio, parceria externa, mas entendo que, se quisessem colaborar de verdade, dariam os recursos para que nossas polícias e forças armadas pudessem se equipar com equipamentos modernos e vigiar as fronteiras, além de dar mais condições aos habitantes dessas áreas que, dessa forma, ajudariam a guardar aquelas regiões. A ajuda externa é bem-vinda, desde que não nos digam o que temos que fazer para guardar nosso território.  


Siga-nos no
O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

ASSUNTOS: Amazonas

+ Amazonas