Cabral trocou obra no Maracanã por anel para mulher, diz empreiteiro
RIO — Dois dos episódios mais marcantes na história da Lava-Jato no Rio têm uma até aqui insuspeitada relação entre si, conforme revelou nesta segunda-feira, em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7a Vara Federal Criminal, o empreiteiro Fernando Cavendish. O dono da construtora Delta, que atualmente cumpre prisão domiciliar, contou que o anel de brilhantes, de mais de R$ 800 mil, que ele deu de presente à ex-primeira dama Adriana Ancelmo, mulher de Sérgio Cabral, foi a porta de entrada para a Delta participar da licitação fraudada da reconstrução do Maracanã, conforme antecipou em outubro de 2016 reportagem do GLOBO.
Tanto a joia paga pelo empresário a Adriana Ancelmo, numa viagem à costa mediterrânea da França, quanto as irregularidades no estádio da final da Copa de 2014 são passagens famosas do período Cabral. Ambas ocorreram em 2009, e o relato de Cavendish à Justiça nesta segunda explica como estão relacionados.
— As coisas coincidem. Em 2009, eu sabia que a Odebrecht era favorita para ganhar a licitação do Maracanã. Fui ao governador Cabral, de quem era amigo próximo, e disse que tinha interesse em participar da obra (o Maracanã seria reconstruído pela Odebrecht e Andrade Gutierrez e, por decisão de Cabral, a Delta ficou com 30% da obra). Ele concordou com a entrada da Delta, e aí vale recordar o episódio do anel — iniciou Cavendish.
— Três meses antes (do pedido para participar da obra do Maracanã), estávamos viajando eu, minha mulher, o governador e Adriana, que faria aniversário durante a viagem. Estávamos perto de Nice, em alguma pequena cidade da costa, e ele me levou a uma joalheria, disse que iria presentear Adriana e me disse 'gostaria que você pagasse'. Não me pareceu algo tão natural, o valor era representativo, de 220 mil euros. Na ocasião, eu falei que a gente iria acertar aquilo depois. Deixei claro que não era um presente meu.
Fernando Cavendish disse que a obra do Maracanã foi a chance de Cabral pagar pelo anel dado a sua mulher.
— A obra do Maracanã, meses depois, foi a oportunidade de resolver essa contrapartida. Eu pedi, o Cabral colocou a Delta na obra. E pediu propina de 5% da participação da Delta. Depois eu abati o valor (pago pelo anel da propina de Sérgio Cabral). Este anel nunca foi um presente, como o ex-governador disse, é mentira. Nāo foi um presente, foi um negócio.
Cavendish prestou depoimento no processo em que ele, Sérgio Cabral e outras pessoas são réus pro suspeita de formação de organização criminosa e fraude nas licitações do Maracanã e do PAC das Favelas. Além deste, Cabral é réu em outros 14 processos na Justiça Federal do Rio, sendo que em dois deles ele já foi condenado em primeira instância.
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