Capitão do submarino San Juan relatou mesma falha em viagem anterior
BUENOS AIRES — O ministro da Defesa da Argentina, Oscar Aguad, reconheceu que, para o governo, estão mortos todos os 44 tripulantes do submarino ARA San Juan, desaparecido desde 15 de novembro. Ele ainda revelou, em entrevista ao canal "Todo Notícias", que o capitão da embarcação já havia reportado em viagem anterior uma avaria elétrica pela entrada de água nos sistemas — um incidente similar ao reportado antes do sumiço — e pedido reformas em 2018.
Na decisão de suspender o resgate, o governo já aludia ao fato de que não havia possibilidade de sobrevivência dos tripulantes àquela altura das buscas. Mas a declaração de Oscar Aguad representou a primeira vez que as autoridades reconheceram publicamente a morte dos marinheiros.
O ministro explicou que a suspensão da missão de resgate se deu após "um informa da Armada" declarar que "as condições extremas do ambiente onde ocorreu o fato e o tempo transcorrido (desde o sumiço) eram incompatíveis com a vida humana". "Quer dizer que todos estão mortos?", questionou um jornalista. "Exatamente", frisou Aguad, na noite desta segunda-feira (horário local).
Em viagem anterior, o capitão do submarino já havia reportado incidente semelhante ao que os investigadores acreditam ter sido o motivo do desaparecimento. O ARA San Juan comunicou uma avaria elétrica depois que a água do mar invadiu o snorkel da embarcação — o que desta vez pode ter gerado um curto-circuito na alimentação das baterias.
"Houve um incidente similar. Entrou água pelo snorkel, com a diferença de que a água não chegou às baterias. O capitão deu conta disso e pediu que, em 2018, quando o submarino entrasse em reparação, se verificasse esse problema", destacou Aguad ao canal argentino.
Segundo o ministro, antes da missão que resultaria no desaparecimento, "todos os controles" foram realizados e o capitão teria informado que a embarcação estava "em perfeitas condições de navegar".
O governo também investiga se houve corrupção no processo de reparação feito no submarino durante a gestão da ex-presidente Cristina Kirchner. O ministro alega que uma denúncia que apontava anomalias no processo foi arquivada sem investigação. Relatórios da auditoria mostrariam que houve sobretaxas e que os materiais usados no trabalho, entre 2008 e 2014, não tinham a qualidade exigida. Mas teria sido possível consertar o submarino a ponto de estar apto a missões como a do mês passado.
Apesar de não considerar possível encontrar sobreviventes, o governo se comprometeu com os parentes dos tripulantes a continuar as buscas. "É um compromisso que o presidente (Mauricio Macri) assumiu com todas as famílias e vamos cumprir", frisou Aguad.
O último contato do submarino com a base em Mar del Plata ocorreu na manhã do dia 15 de novembro, quando navegava pelo Atlântico Sul, na altura do Golfo San Jorge, a 450 km da costa. Em sua última mensagem, o ARA San Juan informou que havia superado uma avaria nas baterias, reportada horas antes, provocada pela entrada de água pelo snorkel.
Um ruído similar a uma explosão ocorreu na mesma zona onde estava o submarino três horas após a última comunicação. O ARA San Juan havia zarpado no dia 11 de novembro, de Ushuaia (3.200 km ao sul de Buenos Aires) para regressar a Mar del Plata (400 km ao sul da capital).
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