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Brasileiro que trabalhou em 'Moana 2' conta curiosidades sobre a animação de filmes

Por Folha de São Paulo

10/01/2025 5h15 — em
Arte e Cultura



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Pense em uma cena de seu filme de animação favorito. Para cada movimento que um personagem faz, um monte de coisas acontecem no corpo dele: os olhos abrem e fecham, as sobrancelhas levantam e abaixam dependendo da emoção que ele sente, os lábios se mexem de acordo com as falas, os dedos das mãos se movem um a um quando ele segura um objeto, os cabelos voam com o vento.

É tanto detalhe que parece que estamos diante de alguém real -e por isso, conseguimos mergulhar na história como se fosse verdadeira. Essa mágica só é possível graças aos profissionais de animação. A reportagem conversou com um deles: Carlos Fraiha, um brasileiro que trabalha nos estúdios de animação Walt Disney.

Carlos, 42, vive no Canadá e foi um dos animadores do recém-lançado "Moana 2". Antes disso, ele morou na Inglaterra e na Nova Zelândia e trabalhou em produções como "Guardiões da Galáxia" (2014), "Planeta dos Macacos: A Guerra" (2017) e "Vingadores: Guerra Infinita" (2018).

O brasileiro contou detalhes curiosos de seu dia a dia. A animação em 3D é feita no computador, a partir de uma "marionete" virtual dos personagens.

"Cada articulação do corpo tem um controle para a gente mexer. Para fazer uma mão fechada, temos que dobrar cada dedo, um por um. No rosto, tem controles para as sobrancelhas, as bochechas, as pálpebras, os lábios, a língua, o canto da boca, até para os cílios: quando o personagem está olhando em uma direção, a gente pensa no volume e na direção dos cílios também", diz.

É tanta coisa para pensar que uma cena de 10 segundos pode levar um mês para ficar pronta.

Assim como muitos animadores, Carlos gosta de gravar a si próprio fazendo os movimentos das cenas, para depois assistir aos vídeos prestando atenção em tudo. Para isso, é preciso ser um pouco ator.

"Quando fui me filmar como Moana, tinha uma cena em que ela estava sentada sobre os tornozelos e mudava de posição. Eu me filmei da primeira vez e pensei: não, não é assim que ela se levantaria; assim é como alguém com a minha idade se levantaria. Moana é jovem, faz os movimentos com muita agilidade, conta.

Eles também recebem os diálogos das dublagens, o que ajuda a entender os personagens. "Ouvir a entonação, o ritmo das falas, nos inspira para saber a personalidade, os trejeitos, a velocidade com que eles se movimentam: se são mais rígidos, soltos, distraídos."

O público raramente percebe tantos detalhes, mas eles são cruciais para transmitir sinceridade. "Pode ser invisível, mas faz muita diferença. Se um personagem está sentindo uma emoção forte, precisa parecer mais ofegante. Quando você consegue animar essa respiração, as pessoas sentem essa emoção enquanto assistem."

Quando criança, Carlos fazia desenhos nos cantos de seus cadernos, que pareciam se mexer quando ele passava as páginas rapidamente. Também era muito fã das produções da Disney e tem até hoje as fitas VHS com curtas de animação do Mickey que gravava da TV.

Transformar isso em profissão parecia um sonho distante para quem cresceu entre Belo Horizonte e Belém, mas depois de um curso em Londres e de trabalhar com efeitos especiais, ele entrou na área. Recebeu muitos "nãos", mas insistiu e conseguiu trabalhar com ídolos seus, como Steven Spielberg e Glen Keane, animador de "A Pequena Sereia" (1989). Em 2023, foi contratado pela Disney e agora participa de "Tiana 2", sequência de "A Princesa e o Sapo".

Segundo Carlos, ser animador é divertido, mas também exige bastante esforço. "É muito trabalho, muito tempo na mesa sem falar com ninguém, concentrado. Mas eu acho super especial trabalhar em algo que vai virar parte da vida de milhões de pessoas."

CURIOSIDADES

- Do storyboard ao quadro final, cada filme leva de 3 a 5 anos para ficar pronto

- Cada segundo de animação é formado por 24 quadros (imagens)

- Cada quadro fica na tela por aproximadamente 0,04 segundo.

- Moana 2 teve 129.507 quadros.


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