Documentário do BBB foge das controvérsias do reality show da Globo
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Pode soar estranho, mas a primeira edição do Big Brother Brasil, em 2002, foi lançada num cenário de descrença. Não sem motivo. Fazia pouco mais de um mês que Silvio Santos havia abalado as estruturas da TV com a Casa dos Artistas. O programa, que reuniu Alexandre Frota e Supla, virou o grande fenômeno da TV em 2001, dando ao SBT índices de audiência acima dos 40 pontos, algo que só era obtido pela antiga novela das oito em horário nobre.
Mas foi o BBB que sobreviveu a seus antecessores, o que "Casa dos Artistas" e "No Limite" não conseguiram. O programa, que chega à sua 25ª temporada nesta segunda-feira (13), algo raro na TV, ganhou um documentário sobre sua história.
Dividido em quatro episódios, "BBB: O Documentário" busca trazer um breve contexto de 2002, ignorando a "Casa dos Artistas", e estabelece brevemente o diferencial entre a versão brasileira e as de outros países e centra a narrativa nos depoimentos de alguns de seus participantes. Uns mais marcantes, como Gil do Vigor e Vanessa Cristina, a Tina, do BBB2, e outros tantos esquecíveis.
Para quem maratonou o documentário "Para Sempre Paquitas", o documentário do BBB pode soar decepcionante. O primeiro apresentou ao espectador uma narrativa bem construída, por meio de uma pesquisa sólida, entrevistas que mostraram as nuances da época e das personagens e trouxeram uma Xuxa mais complexa que a que foi vista em sua própria série. Já o do BBB traz depoimentos sem novidade, uma pesquisa de acervo tímida e não consgue envolver o espectador.
Um dos poucos depoimentos interessantes é de Solange Vega, do BBB 4, que se notabilizou por sua versão de "We Are the World", eternizada na voz de Michael Jackson, conhecida como "Iarnuou". Vinte anos depois, vemos na tela uma mulher sólida, elegante e com um português correto que em nada lembra a participante simples, ingênua e que ficou marcada pelos erros gramaticais que cometia.
Outro bom momento é o depoimento de Gil do Vigor, do BBB 21, que une humor e sensibilidade e aborda com franqueza sua relação com o participante Lucas Penteado, que causou uma verdadeira comoção quando anunciou sua saída do programa --a ponto de as pessoas não deixarem o Twitter enquanto ele não deixou a casa.
Embora discuta bem essa relação, a edição do documentário ignora a pressão a que Penteado foi submetido durante sua participação, que extrapolou os limites do entretenimento. Isso apesar de parte do documentário dedicar-se ainda à correção política, como também ocorre no das Paquitas. Ao contrário deste, porém, o do BBB não aprofunda as questões para além dos discursos já conhecidos das áreas de diversidade das empresas. A exceção é o depoimento de Emily Araújo, cujo namorado Marcos Harter foi expulso do programa por indícios de violência.
O documento deixa de analisar a relação do público com personagens que ficaram marcados por comportamentos discriminatórios e até violentos. Embora o BBB tenha em sua história vencedores do campo progressista, como Thelminha, do BBB 20, vários personagens conquistaram o público justamente pelo comportamento oposto. É o caso de Marcelo Dourado, ganhador do BBB 10, que faz uma mea culpa em relação ao passado, quando se notabilizou pela oposição ao participante Dicésar, gay e drag queen.
Mas este é apenas um dos temas que o documentário não aborda. Não se esperaria, claro, que um produto da Globo sobre outro produto da empresa fosse explorar fatos mais controversos, como a dura vida de uma série de ex-BBBs após a fama. Mas mesmo histórias que repercutiram, como a anorexia da participante Leka, do BBB1, ficaram de fora do documentário.
Em resumo, quem se dedica a acompanhar os quatro episódios chega ao final sem saber, para além das declarações no primeiro deles, o que faz do BBB brasileiro o fenômeno que ele é. A criatividade da direção do programa, o prazer voyeurístico do público, o gosto por brigas por biscoitos e fatias de pão e as idiossincrasias de uma série de personagens ficam fora da narrativa. Quem sabe as encontraremos na nova edição do programa.
BBB: O Documentário
Onde: Disponível no Globoplay
Classificação: 12 anos
Produção: Brasil, 2025
Direção: Bruno Della Latta e Rodrigo Dourado
Acessibilidade: Closed Caption
Avaliação: *Ruim*
ASSUNTOS: Arte e Cultura