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EUA têm futuro mais incerto do que o nosso, diz Rubens Ricupero na Feira do Livro

Por Folha de São Paulo

29/06/2024 16h00 — em
Arte e Cultura



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O ex-embaixador Rubens Ricupero disse, em debate neste sábado (29) na Feira do Livro, em São Paulo, que o futuro dos Estados Unidos parece mais ameaçador do que o futuro do Brasil.

O diplomata, que está lançando no evento literário um livro de memórias, pela editora da Unesp, conversou com o jornalista João Paulo Charleaux no auditório Armando Nogueira --no encontro, ele relembrou sua trajetória no Itamaraty e discutiu a situação do mundo.

"Nunca achei que chegaria à idade em que o futuro dos EUA pareceria mais incerto do que o nosso", afirmou ele. "É incrível, mas absolutamente verdade. O debate eleitoral outro dia [entre Joe Biden e Donald Trump] aprofundou essa preocupação."

Já o Brasil, acrescentou, vive um período de relativa normalidade política, depois de quatro anos de instabilidade institucional durante o governo Jair Bolsonaro. "Já o mundo está muito complicado. Amanhã tem eleição na França, e as apreensões são muito grandes."

Neste domingo (30), a França realiza o primeiro turno de uma eleição legislativa, depois que o atual presidente, Emmanuel Macron, decretou a dissolução do parlamento do país. Macron tomou essa decisão depois que o partido dele ficou atrás da ultradireita nas eleições para o Parlamento Europeu.

"A extrema direita nos desvia do grande problema que nos ameaça, o aquecimento global", afirmou o diplomata. "Com outras causas, pode haver retrocessos temporários e ainda haverá esperança de avançar de novo lá na frente. O meio ambiente não."

Já quanto ao Brasil, embora diga não poder ter absoluta confiança, Ricupero demonstrou mais otimismo.

"Não é que eu tenha uma esperança infundada no Brasil. Tenho confiança porque pela primeira vez estamos incorporando à vida ativa contingentes gigantescos que estavam excluídos."

"Se olharmos as pequenas coisas, como o gasto público, há muitos problemas. Mas as grandes correntes que impulsionam a história são outras", afirmou ele, se referindo a questões como direitos humanos, igualdade de gênero e combate à pobreza.

Questionado por uma pessoa da plateia sobre o papel internacional do Brasil hoje, Ricupero disse não acreditar que o país possa ser mediador de grandes conflitos, como as guerras na Ucrânia ou na Faixa de Gaza.

"Na vida internacional, a mediação é algo raríssimo. Normalmente, os países em conflito não querem saber de acabar com o conflito. É preciso que os dois lados queiram, e nenhum dos lados nos conflitos atuais quer", afirmou.

"Além disso, para ser mediador você tem que ser da região. A Turquia era o país que tinha tudo para ser mediador [na guerra da Ucrânia]. Tentou, mas não conseguiu. No Itamaraty, se houver quatro pessoas que falam russo é muito. Como o Brasil vai ser mediador num conflito desses?"


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