Experimentações de César Oiticica são expostas na galeria Andrea Rehder
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Investigações artísticas em torno da forma, da cor e da luz têm se tornado algo raro de se ver, numa época que privilegia mais o discurso que a estética na arte. Mas é o que o artista César Oiticica propõe na exposição "Corluz", que acaba de abrir na galeria Andrea Rehder Arte Contemporânea, como parte da celebração de seus 15 anos de atividade.
As seis obras expostas são de grande formato pinturas acrílicas em tela e feitas a partir de cromos monocromáticos fotografados pelo artista durante a pandemia da Covid-19. Enquanto todos estavam fechados em seus apartamentos e de olho nas lives e no Big Brother Brasil, Oiticica dispunha os cromos sobre uma mesa de luz, combinando-os em diferentes posições, e os fotografava com uma câmera digital. Na sequência, as imagens foram impressas. Oiticica define a criação de imagens a partir da cor, luz, fotografia e impressão de "pintura quântica".
"Depois, resolvi fazer um encontro dessa pintura quântica, que vem da fotografia, com a pintura de pigmento", afirma. "Hoje, quando você imprime a fotografia ela já passa a ser pigmento sobre alguma coisa. Fazia sentido fazer essa experimentação, uma espécie de transição. É uma pesquisa em cima da cor."
Desta forma, a versão impressa recebeu intervenções do artista, em tinta acrílica. As obras nascidas desse processo, chamadas Encontro e tituladas pela numeração, foram criadas ao longo do último ano. As pinturas colocam cor e luz em diálogo nas formas geométricas, estabelecendo um diálogo com o neoconcretismo. O encontro da cor impressa e da tinta produziram um terceiro elemento. "Entrar com a pintura também joga um pouco de cor, de luz e muda a própria cor."
Essa experiência do diálogo entre a cor e a luz já havia sido feita anteriormente pelo artista, numa exposição no Centro Cultural Justiça Federal (CCJF), no Rio de Janeiro, na qual os cromos ficavam pendurados com nylon no espaço expositivo e iam gerando diferentes cores e matizes a partir da luz e do posicionamento do observador.
A proposta da mostra do CCFJ tirava o público do lugar de mero espectador, oferecendo-lhe uma experiência interativa, como é, aliás, tradição nas criações da família Oiticica. Seu tio, Hélio Oiticica, foi um revolucionário das artes com seus parangolés, estruturas de tecido e plástico que o próprio artista considerava como "antiobras" de arte, e da Cosmococa, uma série que convidava o público à imersão e utilizou a cocaína como pigmento branco pela primeira vez na história da arte. Opção que lhe custou décadas de censura e estigmatização, até ser celebrada pelo valor que tem no seu 50º aniversário, no ano passado.
Os formatos concretos observados nas telas também dialogam com a tradição familiar. César Oiticica Filho é neto do fotógrafo José Oiticica Filho, pioneiro da fotografia concreta no Brasil, e filho de Cesar Oiticica, arquiteto e artista integrante do Grupo Frente, de 1954, um marco da arte construtiva no Brasil.
Celebrando 15 anos de existência, a Andrea Rehder Arte Contemporânea foi fundada em 2009 como Galeria Paralelo. Em 2015, passou a ter o nome atual. Entre suas principais exposições destacam-se a mostra do cineasta Ivan Cardoso, sobre o movimento neoconcretista brasileiro.
"O Ivan Cardoso que me trouxe esse mundo do Hélio pela primeira vez", afirma a galerista.
O acervo de Cardoso a levou também "aos poetas visuais, que eram da mesma geração [do Hélio Oiticica]". Há pouco mais de dez anos, a poesia visual, embora prestigiada, não tinha espaço nas galerias, embora os irmãos Haroldo e Augusto de Campos fossem homenageados mundialmente por essa linguagem.
Esse encontro levou a duas mostras na galeria: a individual "Objetos e Poesia Visual" (2014), reunindo obras do poeta e artista Augusto de Campos, e a coletiva "Visual Assim como o Verbal" (2017), com curadoria de Omar Khoury.
"Todos os artistas foram muito importantes para mim, mas tem alguns que me marcaram mais como um lado de ensino", afirma a galerista, que foca no presente sem esquecer a tradição.
CORLUZ
- Quando Seg. a sex., das 11h às 18h. Finais de semana sob agendamento. Recesso de 30 de dezembro a 11 de janeiro. Em cartaz até 25 de janeiro
- Onde Andrea Rehder Arte Contemporânea - av. Brasil , 2079, São Paulo
- Preço Grátis
ASSUNTOS: Arte e Cultura