Na SPFW, João Pimenta mostra alfaiataria e Walério Araújo desfila transparências
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - João Pimenta abriu o penúltimo dia de desfiles da São Paulo Fashion Week, nesta quinta (10), com uma apresentação que uniu moda, encenação e música no novo espaço de concertos da Sala São Paulo. É a cara do estilista, que também já mostrou coleções no Theatro Municipal de São Paulo e no topo do edifício Martinelli, ambos locais símbolo da cidade.

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Os modelos saíam por uma entrada lateral próxima ao palco, subiam as escadas e passavam por entre as fileiras onde a plateia estava sentada, antes de retornarem e se colocarem em pé próximos ao palco. Enquanto isso, o pianista carioca Jonathan Ferr, uma revelação do jazz, tocava ao vivo suas composições.
As roupas eram elegantes, calcadas numa alfaiataria de proporções largas, com calças delgadas pareadas com blazers superlongos, por exemplo. Mas também ousadas o estilista criou looks com ombreiras exageradas, estilos anos 1980, e blazers com uma manga só, preso ao torso por um botão na lateral da cintura. Nenhum look parecia subtilizado ou sobrando no contexto de um desfile muito bem amarrado.
Mais tarde, sob os olhares atentos de uma plateia lotada, a marca soteropolitana Dendezeiro apresentou "Brasiliano 2: A Puxada pro Norte", segundo capítulo da trilogia que investiga a identidade brasileira por meio da moda. Após o sertão nordestino, os estilistas Hisan Silva e Pedro Batalha voltam suas lentes criativas para a região Norte, suas tradições, cores, crenças e fauna.
A passarela foi ponto de encontro entre streetwear e alfaiataria ampla, com peças marcadas por tons terrosos e verdes, que pontuaram a narrativa amazônica da coleção. Entre os destaques, uma estola feita de folhas verdes, saias plissadas e camisetas com frases provocativas como a que exaltava o "açaí sem xarope".
Artistas também deram o tom da apresentação. Majur surgiu com um look verde vibrante e calça baggy, Liniker desfilou com um conjunto oversized de alfaiataria, e Gaby Amarantos estreou nas passarelas com visual inspirado nos tradicionais chapéus de palha.
A coleção ainda trouxe bolsas em formatos de animais como boto e caranguejo, bordados de peixes, estampas de vitórias-régias criadas por Bernardo Conceição, tapeçarias de Renan Estivan e peças em palha assinadas por Ed Carlos.
Em sua estreia na semana de moda, a novíssima Mnmal lê-se minimal, que abriu uma loja no bairro de Pinheiros há menos de um ano, levou para a passarela looks básicos e fáceis de usar, sem estampas, numa proposta que lembra bastante a marca americana Fear of God Essentials.
A busca pela simplicidade se aplica também a outras marcas brasileiras como Hering, Básico e Oriba, mas o que diferencia a Mnml das demais é a estrutura das roupas. O estilista Flávio Gamaum investe em ombros deslocados e modelagens oversized e trabalha com uma gramatura mais pesada nos tecidos, o que gera malhas mais grossas, enquanto as concorrentes optam por modelagens tradicionais, mais ajustadas ao corpo, e tecidos mais leves.
Nos bastidores antes do desfile, Gamaum afirmou que estava cansado "do exagero da logotipia" nas roupas que via no mercado e que resolveu se propor o desafio de criar "produtos limpos e sem logos". O resultado na passarela foi misto enquanto o look todo de moletom com uma camisa branca por baixo e um sobretudo de pele falsa por cima trouxe uma combinação interessante, o conjunto jeans desbotado com regata branca foi apenas genérico.
De todo modo, a marca tem boas peças individuais que você pode usar para compor um look, a exemplo das jaquetas de neoprene e das jaquetas bomber e também dos shorts que misturam tecidos pretos e azuis. Vale prestar atenção.
Walério Araújo encerrou o quinto dia de SPFW em tom provocativo. Conhecido por sua estética glam e ousada, apresentou um desfile que brinca com o avesso tanto literal quanto conceitual para discutir identidade, sexualidade e o poder da roupa como linguagem.
A coleção mistura alfaiataria com fetichismo, sensualidade com humor. Na frente, blazers, vestidos e ternos que remetem à formalidade; atrás, calcinhas fio-dental, vinil, transparências e recortes inesperados revelam o outro lado, o mais íntimo e expressivo.
Walério subverteu formas com blazers usados ao contrário, calças viradas do avesso e rendas transparentes sobre cuecas, enquanto bordados e estampas com corpos nus reforçavam a mensagem.
A coleção ainda apresentou peças mais comerciais, como tricôs com o logo da marca e camisetas com a frase "Im not sorry", refletindo a nova fase do estilista, agora também à frente de um e-commerce.

ASSUNTOS: Arte e Cultura