Paolo Sorrentino se encanta por musa em 'Parthenope', sobre beleza e juventude
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CANNES, FRANÇA (FOLHAPRESS) - Não é segredo que Paolo Sorrentino é um cineasta obcecado pelos temas da beleza e da juventude, retratados em filmes como "A Mão de Deus" e "A Grande Beleza" com uma plasticidade que os transforma em experiências também estéticas. Em nenhum deles, porém, o italiano esteve tão enamorado por seus cenários, figurinos e atores quanto em "Parthenope: Os Amores de Nápoles".

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Exibido na competição principal do último Festival de Cannes, o longa atualiza o mito da sereia com uma protagonista que tem como grande dádiva, e de certa forma maldição, sua aparência estonteante. Ela seduz todos os homens em seu caminho sem fazer esforço tampouco usando o intelecto ou a personalidade forte.
Como se não bastasse, Sorrentino também é gentil com Nápoles, sua cidade natal, filmando-a com um esmero que transforma praias de águas cristalinas e palacetes majestosos em adornos de um filme que parece mais preocupado em mostrar do que em dizer qualquer coisa ao espectador.
Talvez por isso sua recepção no festival francês tenha sido gélida, com críticos e jornalistas reclamando de "Parthenope" por sua obsessão estética, que teria deixado o roteiro de quase duas horas e meia em segundo plano. De fato, não há muito a dizer sobre a sinopse do longa.
"Parthenope" acompanha a personagem-título do nascimento, nos anos 1950, à velhice, nos dias atuais. Entre seus amores e ambições, vemos a protagonista se apaixonar pela liberdade, conforme mais e mais homens tentam impôr amarras a ela.
"Por que eu deveria mostrar a feiúra numa tela de cinema?", questionou Sorrentino em maio passado, em Cannes, numa manhã de ressaca causada pela première que se estendeu madrugada adentro. Já ciente da recepção não tão bela a seu filme, o italiano estava impaciente, sem se demorar nas respostas lançadas pelo grupo de jornalistas.
"Há muita coisa feia por aí, então eu gostaria de usar o cinema para destacar as coisas bonitas da vida. Eu sempre olho para os meus personagens de forma apaixonada, então esse olhar é transmitido para o espectador, eu quero que ele se encante por aquilo também."
Como em "Juventude", em que escalou veteranos de Hollywood como Jane Fonda e Michael Caine, Sorrentino tem como principal objetivo, em "Parthenope", encarar a finitude da vida e a trajetória descendente do corpo humano.
Desta vez, escalou o galã veterano Gary Oldman, aos 67 anos, para contrastar com o frescor da italiana Celeste Dalla Porta, aos 27. Em cena, seus personagens estabelecem uma conexão intelectual, cientes do abismo etário que os separa e usando justamente a diferença geracional como motor para sua relação.
"Você tem noção do quão desconcertante é a sua beleza?", diz ele, abatido pelas doses de uísque e os cigarros, à protagonista, pouco depois de um helicóptero sobrevoar a praia onde ela tomava sol, apenas para admirar seu corpo.
Sem muito compromisso com a realidade, a primeira parte de "Parthenope" bebe livremente do mito grego das sereias que enfeitiçavam com seu canto, daí o nome do filme e de sua protagonista. Assim, Parthe, como é apelidada, nasce nas águas salgadas de Nápoles já sob os olhares curiosos e predatórios de tios, vizinhos e até do irmão.
Sua beleza pode ofuscar outras características, mas houve cuidado no roteiro a fim de não reduzir Parthe à aparência. Inteligente e determinada, ela se esquiva das investidas masculinas, que não chegam a ser agressivas, distanciando "Parthenope" do tom de denúncia do machismo e aproximando-o de uma narrativa um tanto fantástica, às vezes até ingênua.
"Você se casaria comigo se eu fosse 40 anos mais novo?", pergunta um velho amigo de família a Parthe, em determinada cena. "Você se casaria comigo se eu fosse 40 anos mais velha?", responde ela, ágil e perspicaz.
A câmera de Sorrentino se apaixona pela beleza e juventude de seu elenco, com cenas que se demoram fixadas nos rostos e corpos de Dalla Porta e também de seus pares masculinos, os italianos Dario Aita e Daniele Rienzo. Os dois caminham pelo palacete onde moram de shortinho e com as camisas abertas, como num convite ao olhar do espectador.
Quando o clima não é de praia, sua beleza é embrulhada pelos igualmente atraentes figurinos da Yves Saint Laurent, que cada vez mais adentra o mundo do cinema, produzindo filmes de cineastas também de grife, como David Cronenberg e Pedro Almodóvar.
"Eu fiquei feliz de recebê-los como produtores, porque, sabe, eles são belos", diz Sorrentino, em mais uma amostra de sua obsessão.
PARTHENOPE
- Quando Estreia nesta quinta (27), nos cinemas
- Classificação 18 anos
- Elenco Celeste Dalla Porta, Dario Aita e Daniele Rienzo
- Produção Itália, França, 2025
- Direção Paolo Sorrentino

ASSUNTOS: Arte e Cultura