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Scapinelli, o designer das formas curvas, é tema de exposição de seu mobiliário

Por Folha de São Paulo

07/04/2025 9h45 — em
Arte e Cultura


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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Decorador de ambientes José Scapinelli. Na ausência da palavra designer e com o seu nome traduzido para o português, era assim que o italiano Giuseppe Scapinelli vendia seus serviços em anúncios nas páginas da revista Casa e Jardim, nos anos 1950 e 1960, periódico no qual também assinava uma coluna onde respondia dúvidas dos leitores sobre a decoração de suas casas.

Scapinelli aportou em São Paulo três anos depois do fim da Segunda Guerra, com um diploma de arquitetura obtido em Florença debaixo do braço. Mas, por aqui, ele não projetou prédios nem casas. Se dedicou ao mobiliário, desenvolvendo uma linguagem própria durante a sua atuação no ramo, que se estendeu até 1964.

Em seus projetos, feitos sob encomenda de uma elite financeira ou intelectual, ele prezava por peças curvilíneas e que tendiam à delicadeza, desenhando todos os móveis de uma sala ou um quarto, por exemplo, para os quais também pensava em detalhes como as maçanetas das portas. Era o ambiente completo.

Agora, parte desse legado pode ser visto numa exposição na galeria Teo, em São Paulo, que recupera cerca de 80 peças do designer, todas de época. É uma das maiores —senão a maior— mostra já feita sobre a obra de Scapinelli, o tipo de projeto que, pela extensão da pesquisa, não ficaria fora de lugar no Museu da Casa Brasileira, caso a instituição não tivesse sido desmontada pelo governo paulista.

Na galeria Teo, o organizador Francesco Perrotta-Bosch separou os móveis por categorias, uma escolha didática e que possibilita ver a evolução do trabalho do decorador. Estão expostos cadeiras, bancos, sofás, divãs, mesas laterais e de jantar, camas de casal e de solteiro, uma estante, um espelho, algumas luminárias e até um berço, coletados pelos sócios da galeria ao longo dos 18 anos de funcionamento da empresa.

Do conjunto, notamos que Scapinelli imprimia leveza às peças, adicionando elementos curvos nos encostos das cadeiras ou criando pés nestas mesmas cadeiras que afinavam ao tocarem o piso. Neste sentido, fica claro o contraste estético com as peças robustas de Sérgio Rodrigues, por exemplo, outro grande nome do móvel moderno no Brasil, autor da poltrona Mole e de sua irmã compacta, a Moleca.

Lis Vilela Gomes, uma das sócias da galeria, observa que Scapinelli "não é totalmente moderno", na acepção que a palavra tem para designar o móvel autoral feito no Brasil em meados do século 20. "Ele transita ente o clássico e o moderno, mas com um desenho mais limpo", ela afirma. Há uma diferença clara no traço do italiano para outros designers da mesma geração no Brasil, como o polonês Jorge Zalszupin e o português Joaquim Tenreiro.

Scapinelli também se diferenciava pela matéria-prima. Cerca de 80% de sua produção era feita com caviúna, em contraste ao jacarandá preferido por seus colegas, um tipo de madeira usado em menor proporção por ele. Ambas as variedades, ameaçadas de extinção, não são mais empregadas na confecção de móveis, o que torna seu valor de mercado alto, e a sua correta identificação foi uma das formas de garantir a autenticidade das peças expostas.

Além disso, o organizador da exposição destaca que Scapinelli não produzia em série, de modo que muitas peças são únicas ou, no caso de cadeiras, há cinco ou dez exemplares fabricados do mesmo modelo. Seus móveis compunham ambientes em casas de famílias, e muitos deles foram fotografados para revistas —assim, comparar as imagens em preto e branco do passado com a mobília encontrada foi outra forma de assegurar a autoria do que se vê.

A produção do designer se concentra num período de menos de 20 anos, porque na década de 1960 ele mudou de rumo e virou dono de um restaurante de comida italiana. Ao olhar para o passado, portanto, a mostra resgata um legado e atesta o exímio trabalho com a madeira que marcou a carreira do decorador. Para o organizador, "é a dimensão escultórica do mobiliário de Scarpelli que esta exposição reivindica".

SCAPINELLI E SEUS ESBELTOS ELEMENTOS

- Quando Até 31 de julho; de seg. à sex., das 9h às 18h; sáb., das 10h às 14h

- Onde Galeria Teo - r. João Moura, 1298, São Paulo

- Preço Grátis


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