MPE vai analisar vídeo de MC candidato cantando em baile com homens armados
RIO — O Ministério Público Eleitoral (MPE) vai fazer uma análise do vídeo em que o funkeiro Fabiano Baptista Ramos, conhecido como MC Tikão, candidato a deputado federal pelo Solidariedade, aparece cantando no Baile da Gaiola, no Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio. O MPE vai analisar as imagens para verificar se toma alguma medida cabível na Justiça Eleitoral. O vídeo mostra homens dançando com fuzis e pistolas nas mãos enquanto Tikão embala a multidão, durante um show.
A Executiva Estadual do Solidariedade no Rio de Janeiro informou que vai encaminhar o caso do candidato para o Conselho de Ética do partido para "tomar as devidas providências". Em nota, o partido lamentou o ocorrido e disse que aguarda as investigações sobre o caso e que está à disposição das autoridades no que for necessário.
A apresentação de Tikão foi no último dia 18. O flyer de divulgação do show menciona a gravação do clipe do cantor e cita ainda a participação de mais de 10 DJs convidados.
O delegado Rodrigo Freitas, titular da 22ª DP (Penha), disse que pretende ouvir MC Tikão no inquérito que investiga a festa. O baile, que ocorre sempre aos sábados, é conhecido por ser frequentado por traficantes armados e tocar músicas de apologia ao tráfico de drogas. O inquérito da 22ª DP apura ainda se o evento é um ponto de encontro de chefes do Comando Vermelho (CV). Ao comentar sobre a presença de homens armados durante a apresentação do funkeiro, o delegado alegou que não havia como o MC não tê-los percebido.
— Como não viu? Ele é cego? — questionou o policial.
No baile, MC Tikão canta a música "Faixa de Gaza", do funkeiro MC Orelha, uma clara apologia ao tráfico de drogas que cita nomes de bandidos. Em vários trechos fala também da maior facção criminosa do Rio e comenta o uso de armas.
No vídeo feito no baile, um homem sem camisa, que está no alto do palco dançando, faz gestos. Ele simula que está retirando duas armas da cintura e aponta para a plateia. É ovacionado e, nesse momento, pega MC Tikão no colo. No Facebook, o funkeiro se autodescreve assim: "Mc Tikão não faz apologia ao crime, não faz apologia ao tráfico, o Mc Tikão relata o que acontece nas comunidades."
Em nota, o advogado Leonardo Ferraz Cuerci, que representa o funkeiro, diz que o MC foi contratado para se apresentar no 'Baile da Gaiola" e que no mesmo evento ocorreu a gravação do seu novo video clipe. Ao advogado, MC Tikão disse que não percebeu a presença de homens armados. Também frisou que não tem qualquer relação com facção criminosa. O funkeiro disse ainda que está à disposição das autoridades policiais parea prestar esclarecimentos.
Sobre o funk, que faz apologia ao tráfico, o advogado disse que MC Tikão cantou para atender a pedidos do públicos. Acrescentou ainda que cantou apenas um trecho da música e não citou o refrão que fala da facção criminosa.
O Baile da Gaiola chega a reunir mais de 30 mil pessoas e não tem autorização das autoridades. Em março deste ano, pelo menos 77 pessoas ficaram feridas durante uma correria que começou após tiros seres disparados.
FUNKEIRO JÁ FOI PRESO
MC Tikão foi preso em outubro de 2017 suspeito de ligação com o tráfico de drogas da favela da Rocinha. Ele ficou um mês atrás das grades e foi solto em novembro do ano passado, após a Justiça ter negado a renovação de sua prisão temporária.
Apesar disso, continuou sendo investigado pela Delegacia de Combate às Drogas (Dcod) e foi indiciado por associação para o tráfico de drogas no início de junho deste ano. No fim do mês, Fabiano foi denunciado pelo mesmo crime pelo Ministério Público estadual. A denúncia ainda não foi aceita pela Justiça.
Tikão é acusado de ter ajudado na fuga do traficante Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, em setembro do ano passado, quando as Forças de Segurança iniciaram uma operação para tentar conter a guerra pelo controle do tráfico na Rocinha.
De acordo com as as investigações da Dcod, Rogério fugiu da comunidade da Zona Sul do Rio na garupa da moto pilotada por Fabiano. Ainda de acordo com o inquérito, o funkeiro é íntimo do traficante e participou de reuniões de sua quadrilha. Além disso, ficou em algumas situações com armas de Rogério 157, tendo feito disparos de arma de fogo durante bailes funk.
Tikão é candidato a deputado federal pelo Solidariedade, partido que faz parte da coligação do candidato ao governo do Rio, Eduardo Paes. O EXTRA procurou o Solidariedade, que informou que a Executiva Estadual no Rio de Janeiro vai encaminhar o caso para o conselho de ética do partido para tomar as devidas providências. A nota enviada diz ainda que o Solidariedade lamenta o ocorrido, aguarda as investigações sobre o caso e se coloca à disposição das autoridades no que for necessário.
Procurada, a assessoria de imprensa de Paes disse, por meio de nota, que a coligação é muito ampla e o candidato Eduardo Paes não tem responsabilidade sobre o que fazem os candidatos de todos os partidos. A responsabilidade de responder por este candidato é do partido ao qual ele está filiado.
Leia a íntegra da nota da defesa de MC Tikão:
A defesa esclarece que Fabiano foi contratado para fazer um show na Penha, qual seja, “baile da gaiola”. No mesmo evento ocorreu a gravação de seu novo clipe que já está sendo veiculado em suas redes sociais. No que condiz ao vídeo que está sendo divulgado, MC Tikão declara que no referido evento, realizado para milhares de pessoas, não percebeu a presença de indivíduos que estariam ostentando armas de fogo, que não conhece os mesmos, que não tem e nunca teve nenhuma relação com quaisquer facções criminosas, que não tem o apoio das mesmas em sua candidatura, e que neste, ou em qualquer outro show, cantou apenas trecho de uma musica, que não fez e não faz apologia, que atendeu e sempre atende a pedidos do público fazendo menção a diversas pessoas.
Por fim, MC Tikao informa que está à disposição das autoridades policiais para contribuir e prestar qualquer esclarecimento.
Advogado Leonardo Ferraz Cuerci
ASSUNTOS: Eleições 2018, homens armados, mc candidato, Brasil