11ª temporada de ‘The Big Bang Theory’ chega ao fim neste domingo com casamento
Poucas imagens são um clichê tão grande na cultura americana quanto a do valentão do time de futebol americano intimidando o menino acanhado e estudioso no corredor da high school. Mas, semana passada, a vingança dos nerds se concretizou em forma de índices de audiência: um dos maiores fenômenos da TV da última década, “The Big Bang Theory” terminou a sua 11ª temporada nos Estados Unidos com uma média de 18,6 milhões de telespectadores, contra 18,2 milhões dos jogos de domingo da NFL, a liga nacional do futebol americano, de acordo com dados do instituto Nielsen.
Aqui no Brasil, o último episódio da 11ª temporada vai ao ar hoje na Warner. Centrado no casamento do adorável esquisitão Sheldon Cooper (Jim Parsons) com a igualmente esquisita e carismática Amy Farrah Fowler (Mayim Bialik), o episódio poderia tranquilamente ser o desfecho ideal, após mais de dez anos no ar, da comédia centrada em um grupo de amigos cientistas apaixonados pela cultura geek. Mas, em vez disso, uma 12ª temporada já está confirmada e já há conversas sobre a renovação para um 13º ano. Em entrevista ao Deadline, o showrunner da série Steve Holland disse ter mais o que tirar da cartola mesmo após fazer o antes avesso a relacionamentos Sheldon trocar alianças.
“Acho que vai ser divertido assistir Sheldon e Amy navegarem pela vida de casados. A dinâmica está sempre mudando gradualmente conforme os casais (da série) envelhecem. Raj é o único solteiro do grupo, e isso vai pesar nele. Quanto a bebês, nós já temos dois e um Sheldon, então isso deve ser suficiente por enquanto”, antecipou.
A longevidade da série parece não incomodar seus protagonistas. Afinal, Jim Parsons, Johnny Galecki (Leonard), Kaley Cuoco (Penny), Simon Helberg (Howard) e Kunal Nayyar (Raj) são atualmente os maiores salários da televisão americana.
Representatividade
Para o coordenador do curso de Cinema e Audiovisual da ESPM-Rio, Pedro Curi, há mais de um fator para explicar o sucesso da série. Para ele, um ponto central foi a adaptação da estrutura narrativa da sitcom, que deixou de ser apenas sobre homens nerds para explorar as relações de um grupo de amigos e namorados, na mesma linha de “Friends” e “How I met your mother”.
— A entrada de mais personagens femininas mudou completamente a dinâmica da série. É um produto diferente, mas com personagens já consagrados. Se eles tivessem continuado na rotina dos nerds com uma vizinha, dificilmente teria avançado tanto — observa o pesquisador, que acredita que o crescimento das vozes femininas na série também ajudou a fortalecê-la nos últimos anos, acompanhando a importância que o debate sobre igualdade de gêneros ganhou recentementena indústria do entretenimento.
— No começo, “The Big Bang Theory” era uma série muito masculina. Hoje, ainda tem problemas de representatividade, mas já mostra uma preocupação em ajustar seu discurso — diz Pedro Curi.
Outro fator apontado pelo pesquisador é a forma como a série soube espertamente se alimentar da cultura pop. Em uma via de mão dupla, o seriado ajudou a tornar o universo geek mais palatável para o grande público, ao mesmo tempo em que franquias da Marvel e da DC passaram a dominar as grandes bilheterias do cinema.
Não à toa, são comuns as participações especiais no seriado, que vão desde aparições do físico Stephen Hawking (1942-2018) até Mark Hamill, o eterno Luke Skywalker, que aparece no final desta temporada.
— O tempo todo, há um diálogo com as séries e os filmes do momento. Eles usam a narrativa dos outros para manter a sua própria história, e por isso não precisam inovar tanto como outras séries com narrativas complexas ou transmídia, por exemplo. Se você for ver “Star wars”, vai se lembrar do Sheldon — pontua.
Ninguém chega aos pés
Roteirista e autora do manual “Como escrever séries”, Sônia Rodrigues destaca também a construção firme dos personagens. Embora todos (com a exceção de Penny) sejam cientistas e geeks assumidos, cada um tem uma personalidade bem definida. Nenhuma, no entanto, se compara à de Sheldon. Com habilidades sociais inversamente proporcionais à estatura do seu QI, o PhD em Física interpretado por Jim Parsons é tão popular que rendeu uma prequela, a série “Young Sheldon”, que retrata a sua infância como um menino prodígio no Texas (e já renovada para uma segunda temporada).
— O Sheldon tem honestidade intelectual. Se você pensar, os personagens mais fascinantes são os que não mentem para eles mesmos. É o que o Sheldon faz. Se ele não entende sarcasmo, avisa que não entendeu. E faz isso sem se lastimar. É uma coisa muito terna, uma pessoa que diz que não sabe fazer diferente — analisa a escritora.
Definido por um amigo como “um Sheldon com um pouquinho de Howard”, Rodrigo de Lima, proprietário do pub Barzinga (alusão ao bordão “bazinga” usado por Sheldon Cooper), na Lapa, sabe bem disso. Para ele, os personagens são o grande trunfo de “The Big Bang Theory”.
— Todos os personagens são um exagero de um tipo de pessoa que a gente já conheceu na vida. Todo mundo conhece alguém que é um pouco Sheldon ou muito Penny — diz o empresário, de 41 anos.
Lima reconhece que a qualidade das piadas da série andou caindo com o passar dos anos, mas não é nada que o faça desistir de Sheldon & Cia.
— Mesmo assim, não tem nenhum seriado de comédia que chegue aos pés — pondera. — Quando assisto a “Big Bang”, sinto que é parte da minha vida.
Tudo indica, portanto, que ainda haverá muitos anos de “bazinga” pela frente.
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