Parceria entre Embraer e Boeing pode ampliar mercado para aviões militares
RIO, SÃO PAULO e WASHINGTON - A possível associação entre Boeing e Embraer pode abrir o mercado global para o KC-390, avião de transporte militar da fabricante brasileira em fase final de certificação. As duas empresas já têm acordo de comercialização e suporte no pós-venda para mercados específicos onde foram identificadas sinergias. Essa parceria, dizem observadores, poderia ser ampliada dada a capilaridade da companhia americana. Hoje, existe uma encomenda firme de 28 KC-390 para a Força Aérea Brasileira (FAB), além de negociações avançadas com o governo português para a compra de até seis aeronaves. O contrato com a FAB é de R$ 7,2 bilhões.
O KC-390 é um cargueiro com capacidade de 26 toneladas. É considerado concorrente direto do C-130 Hércules, da americana Lockheed, que começou a ser produzido na década de 1950 e que, hoje, tem uma frota mundial de cerca de 2.700 unidades. Apesar de dominar esse segmento do mercado de defesa, a maior parte dos C-130 Hércules está no fim de sua vida útil. A idade média das aeronaves em operação é de 34 anos e sua capacidade de carga é de aproximadamente 20 toneladas.
— A Embraer percebeu esse mercado potencial e desenvolveu o KC-390, que é mais moderno, mais rápido e tem capacidade ainda maior de transporte — diz Jorge Leal, professor de Transporte Aéreo da Escola Politécnica da USP.
A Embraer tem três parceiros industriais para o KC-390: Portugal, Argentina e República Tcheca. Esses países produzem peças para o avião e assinaram cartas de intenção de compra do modelo, mas apenas Portugal avançou nas negociações de encomendas. No ramo da defesa, é comum que os pedidos só aconteçam depois de os aviões estarem voando em seus países de origem. A eventual união com a Boeing pode ampliar a lista de potenciais compradores, na avaliação de especialistas que acompanham o setor.
Além de fortalecer a Embraer comercialmente, a possível união com a Boeing abre um mercado para a companhia americana neste segmento. A Boeing tem uma família de aviões de transporte militar de porte maior, os C-17, cuja capacidade é superior a 40 toneladas.
Há tempos a fabricante sediada em Seatlle está de olho no KC-390. As duas empresas firmaram acordo de cooperação técnica na fase de desenvolvimento da aeronave, o que acabou evoluindo para o acordo de venda e assistência operacional.
Em encontro com a imprensa na semana passada, o presidente da Embraer, Paulo Cesar de Souza e Silva, lembrou que o KC-390 — que hoje é montado em Gavião Peixoto (SP) — tem vários componentes americanos, o que poderia levar a empresa a vender o modelos nos Estados Unidos também.
— Se isso acontecer, teremos que montar os aviões lá, como acontece com os Super Tucanos que fornecemos à Força Aérea americana — disse o executivo na ocasião.
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Para vender os A-29 Super Tucanos aos EUA, a Embraer Defesa & Segurança se associou à americana Sierra Nevada Corporation (SNC), para montar as aeronaves numa fábrica instalada em Jacksonville, na Flórida. As duas empresas já entregaram 12 unidades e, em outubro, receberam a encomenda de outras seis. A fuselagem é feita no Brasil, onde também há uma linha de montagem.
Na área de aviação civil, a Embraer também tem operações nos EUA, país onde está presente há 38 anos e onde estão dois mil dos 18 mil funcionários da companhia. É na cidade de Melbourne, na Flórida, que são fabricados os jatos executivos da família Phenom. A mesma cidade abriga a segunda linha de montagem do Legacy. A primeira linha é em São José dos Campos (SP), cidade em que também são produzidos os jatos E-170, E-175, E-190 e E-195, para transporte de passageiros.
Considerada uma empresa com fama de identificar corretamente nichos de mercado, a Embraer registra em sua história apenas um fracasso em suas apostas, o CBA-123, uma parceria com a Argentina, fechada quando a fabricante brasileira ainda era estatal.
Colaborou Henrique Gomes Batista, correspondente
ASSUNTOS: Boing, Embraer, fusão, Brasil