Paulo Coelho sobre Bolsonaro: 'vou perder leitores, mas é compromisso histórico não ficar calado'
Em entrevista à BBC nesta quarta-feira (25), Paulo Coelho expôs sua opinião sobre Jair Bolsonaro. "Vou perder leitores", anunciou o escritor, antes de criticar o presidente.
“O compromisso histórico é não ficar calado. Eu tenho que falar. Vou perder leitores? Vou. Tenho perdido? Devo estar perdendo? Não sei. Eu não fico contabilizando”, declarou, na conversa. “Um Brasil totalmente polarizado que está caminhando para o mesmo clima de terror da ditadura. Já vivi ditadura, democracia, muitas fases do Brasil, mas nunca vi o que está acontecendo agora. É um delírio. Necessitava (Howard Phillips) Lovecraft, um escritor de ficção científica, para descrever o Brasil. Fico muito triste com o que está acontecendo.".
Residente em Genebra, na Suíça, Paulo - que é o escritor mais traduzido no mundo inteiro - falou, ainda, sobre a reação dos estrangeiros ao cenário político atual no Brasil, mais especificamente sobre Bolsonaro: “As pessoas ficam muito constrangidas em perguntar sobre o Brasil. Elas não perguntam. Tenho que dar uma entrada para as pessoas perguntarem. Eles vêm e dizem: ‘Ah, pois é, você viu que ele ofendeu a primeira-dama francesa’. Aí eu tenho que falar alguma coisa. Mas eu procuro evitar a conversa ‘Brasil’, porque não posso no momento falar bem do meu país, e falar mal é muito chato”, disse.
Na conversa, Coelho também elogiou o jornalista Glenn Greenwald e o youtuber Felipe Neto, que no início do mês, se opôs à censura do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, às HQs da Marvel que traziam uma capa com um beijo LGBT. “Não só elogiei, senti uma certa inveja positiva”, disse ele, sobre Felipe Neto. “E eu resolvi me posicionar para que a pessoa seja defendida. Na época da repressão, digo no governo militar, quando as pessoas eram presas, elas eram agarradas na rua, sei lá, em qualquer lugar, e elas tinham que gritar o nome para que todo mundo soubesse que a pessoa estava sendo presa. Porque uma vez que as pessoas sabem, isso já é um escudo de proteção. A mesma coisa valia para o Felipe Neto. Não vamos deixar que as coisas sejam assim, não.”
Sobre Glenn Greenwald, ele foi incisivo e chamou o vencedor do prêmio Pulliter de ídolo. "Esse cara é um ícone para mim. Ele está lá, está falando tudo aquilo e desmascarando uma coisa que você diz "Ah, vamos fazer isso porque está certo".
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