Arqueólogos acham ossadas da época da escravidão
Um grupo de arqueólogos identificou resquícios do Cemitério dos Aflitos, o primeiro cemitério público da cidade de São Paulo, no bairro da Liberdade, sob os escombros de um edifício. De acordo com os pesquisadores, ao menos sete esqueletos da época da escravidão no Brasil, enterrados no período de 1775 a 1858, foram localizados entre outubro e dezembro de 2018.
Segundo o G1 São Paulo a área localizada entre as ruas Galvão Bueno e dos Aflitos, atrás da Capela de Nossa Senhora dos Aflitos, é uma propriedade particular e até o início deste ano abrigava um prédio. A proprietária do espaço decidiu demolir o edifício por causa de problemas estruturais e construir um novo empreendimento comercial no local.
“Esta é uma obra particular, mas por estar no entorno da capela, que é um bem tombado, está sob a regulamentação dos órgãos de preservação do patrimônio histórico e cultural”, explica Lúcia Juliani, diretora da empresa A Lasca, contratada pela proprietária do terreno para a consultoria arqueológica. "Por isso, antes de dar seguimento às obras, as instituições recomendaram uma pesquisa arqueológica para saber se havia evidências do antigo cemitério que historicamente sabia-se que existia aqui."
Três arqueólogos especialistas em sítios do tipo funerário identificaram sete esqueletos entre outubro e o início de dezembro deste ano na área de 400 m², cerca de um metro abaixo do nível da rua.
O último esqueleto foi encontrado na segunda-feira (3), então, de acordo com os pesquisadores, ainda não é possível identificar a origem dos indivíduos, a idade, a causa da morte, nem o sexo, mas significam a prova material do que estava documentado e com detalhes que não foram registrados.
“Os esqueletos não foram enterrados com pertences e pelo menos um deles usava um colar com contas de vidro, o que indica o pertencimento a alguma religião de matriz africana. Assim, no mínimo, a descoberta comprova que o primeiro cemitério de São Paulo era destinado às populações marginalizadas socialmente, aos escravizados, aos presos, aos pobres, às pessoas com doenças contagiosas, aos condenados à forca e àqueles que não possuíam família”, explica Sônia Cunha, arqueóloga coordenadora da pesquisa em campo.
A arqueóloga afirma que a identificação do sítio arqueológico na Liberdade ajuda a remontar a história de São Paulo, acrescentando informações aos documentos históricos, confirmando ou desmentindo-as.
"Esta identificação já ampliou o conhecimento que se tinha, pois acreditava-se que os restos mortais haviam sido transferidos para o Cemitério da Consolação, a segunda necrópole pública de São Paulo, e pudemos ver como era o procedimento – um dos esqueletos foi enterrado em cúbito lateral, como se dormisse de lado, com as mãos fechadas sob a cabeça. Isso denota um certo cuidado de quem o posicionou aqui”, diz Cunha.
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