Cabral confessa caixa dois e pede desculpas à população
RIO - O ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) voltou a falar que fez uso de caixa dois para campanha e de sobras para suas despesas pessoais e pediu desculpas ao povo do Rio, em um novo depoimento ao juiz Marcelo Bretas nesta quinta-feira.
- Esses recursos aí (retratados na denúncia) foram pegos na Carioca Engenharia para caixa dois. Peço desculpas à população de ter feito uso de caixa 2 e de ter feito uso da sobra dele — afirmou.
Bretas perguntou a Cabral se ele teria como provar os gastos com caixa dois, e o ex-governador respondeu:
- Excelência, isso implicaria em citar companheiros meus de todas as lutas politicas que realizamos ao longo dessa jornada...
Cabral também chamou o amigo de mais de 40 anos e agora delator da Lava-Jato, Carlos Miranda, de traidor e mentiroso. Miranda reconheceu ser o operador do esquema, controlando o recebimento de recursos e gastos, e teve o acordo de colaboração homologado pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O ex-governador atacou os delatores do esquema e afirmou que "todo mundo" que fala seu nome "se dá bem".
- Todos os que apontaram o dedo para mim tiveram benefício - disse Cabral. - O que me impressiona é que é tudo sem prova.
Segundo Cabral, Miranda ficou magoado por não ter sido chamado para ter cargo em seu governo, recebendo a função de seu "amarra-cachorro", pagando contas e outras despesas. A procurador Fabiana Schneider perguntou se Miranda era pago. Cabral afirmou que o salário era de R$ 70 mil, R$ 75 mil por mês e que, no final do ano, dava algum dinheiro que sobrava ao delator.
Miranda foi retirado da ala de Cabral e colocado em outra após a notícia de que a delação havia sido homologada. Os advogados Fernanda Freixinho e Daniel Raizman, que defendem o operador, disseram que consideram a mudança benéfica. A defesa de Miranda também repudia "os insultos que estão sendo feitos ao colaborador simplesmente pelo fato de que o mesmo está cumprindo o seu dever legal de dizer toda a verdade sobre os fatos em apuração".
O ex-governador disse ainda que não enriqueceu com as olimpíadas no Rio.
- Nós não aproveitamos a olimpíada para ganhar dinheiro - afirmou.
EX-SECRETÁRIO DE OBRAS
Também em depoimento hoje, o ex-secretário estadual de Obras Hudson Braga negou ter cobrado ou recebido qualquer propina da Carioca Engenharia. Disse que recolheu apenas uma vez, da Andrade Gutierrez, dinheiro relativo a 1% da obra do PAC de Manguinhos, a mando do ex-secretário de Governo Wilson Carlos.
- Isso me foi comunicado pelo Wilson Carlos, que teria esse percentual da obra Manguinhos para um grupo de pessoas que trabalhava especificamente nessa obra, subsecretários, assessores, etc - disse Hudson Braga, negando que tenha ficado com parte do dinheiro nessa ocasião ou que tenha pedido propina em outros casos. - O meu erro foi esse, de ter acatado isso (ordem de Wilson Carlos). Não pedi e não criei (a taxa de 1%).
Hudson Braga é acusado de cobrar uma "taxa de oxigênio" de 1%, segundo delatores de empreiteiras.
Os réus foram denunciados nesse processo por desvios de R$ 47 milhões em obras como o PAC Favelas, Arco Metropolitano e Linha 4 do Metrô, confirmados em delações de funcionários da Carioca Engenharia.
O Ministério Público Federal aponta que houve formação de cartel, fraude na licitação e lavagem de dinheiro. E que Cabral teria recebido, por meio dos operadores Carlos Miranda e Luiz Carlos Bezerra - 5% dos valores das obras.
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