Em depoimento de três horas, Pezão nega propina e cita nome de Cabral
RIO - No primeiro depoimento que deu após ser preso, o governador Luiz Fernando Pezão negou que tenha recebido propina e usado dinheiro ilícito para pagar despesas pessoais. Ele afirmou que movimenta uma conta pessoal, mantida com seus próprios proventos, e não a que foi apresentada pela Polícia Federal, que está desativada e zerada.
‘Nada a esconder’
Pezão também disse à Polícia Federal que não se envolveu com a arrecadação de dinheiro para a sua campanha a governador em 2014. Segundo ele, a tarefa teria ficado por conta de Cabral e do ex-secretário de Obras Hudson Braga. Na delação do doleiro Álvaro Novis, é citada também uma suposta propina paga como caixa dois pela Odebrecht naquele ano. Em troca, a companhia teria conquistado contratos importantes no governo.
O depoimento, acompanhado pelo advogado do governador, Flávio Mirza, na sede da PF na Praça Mauá, durou cerca de três horas. Mirza disse que Pezão, se quisesse, tinha o direito constitucional de permanecer calado. Mas optou por falar, de acordo com o advogado, por entender que “nada tem a esconder”.
Um dos pontos principais da defesa de Pezão é demonstrar, com a entrega de extratos, que o governador usava contas pessoais e dinheiro do seus proventos para pagar suas próprias despesas.
— O delegado apresentou uma conta de Pezão que estava praticamente zerada para sustentar que o governador era mantido por propina. Porém, tal conta está desativada há tempos. Pezão usa uma outra conta para pagar as despesas pessoais. Isso é um erro da investigação — garantiu Mirza.
Pezão, ainda segundo Mirza, estava tranquilo durante o depoimento e não se negou a responder qualquer pergunta.
Pezão diz que ‘home theater’ foi presente
Carlos Emanuel Carvalho Miranda, ex-operador da propina de Sérgio Cabral, sustenta que, além de uma mesada de R$ 150 mil, paga pelo ex-governador entre 2007 e 2014, 13º salário e dois bônus, cada um no valor de R$ 1 milhão, Pezão também teria recebido como regalo um sistema dehome theater no valor de R$ 300 mil, instalado em sua casa de Piraí e bancado pela High Control. A empresa é dos irmãos Luís Fernando e César Augusto Craveiro de Amorim, que atuaram no consórcio das obras do Arco Metropolitano do Rio, concluído no governo Pezão.
No depoimento dado à PF, o governador afirmou que o sistema de home theater foi um presente de aniversário dado por Cabral. Não caberia, segundo ele, pedir ao então governador do Rio uma nota fiscal do equipamento.
— Pezão confirmou a instalação do sistema, mas garante que foi presente de Cabral. Não sabia da relação com a empresa. Para ele, Cabral era um amigo rico — disse o advogado Flávio Mirza.
O governador admitiu ser amigo dos empreiteiros Cláudio Fernandes Vidal e Luiz Alberto Gomes Gonçalves, sócios da J.R.O Pavimentação, também presos. De acordo com Miranda, Pezão teria recebido R$ 1 milhão em propina dos dois.
— A J.R.O realmente se instalou no Sul Fluminense, mas na época em que Pezão era prefeito. E a empresa já tinha contratos com o governo do estado, na época do governador Marcello Alencar ( já morto ) — disse Mirza.
Nesta quinta-feira, a defesa de Marcelo Santos Amorim, suspeito de repassar recursos de origem ilícita ao governador, negou que ele tenha participação em esquemas de corrupção. Já o advogado de Cesar Amorim, da High Control, alegou que a empresa recebeu por serviços prestados na casa de Pezão.
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