Jovem que teve estômago perfurado durante lipo será ouvida pela polícia no hospital
RIO - A estudante de Educação Física Gabriela Nascimento de Moraes, de 23 anos, que teve o intestino perfurado, após passar por uma hidrolipo com a médica Geysa Leal Corrêa, vai prestar depoimento à Polícia Civil nesta segunda-feira. A jovem que chegou em estado grave ao Hospital Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, passou por cirurgias e segue internada em estado estável na enfermaria da unidade. Como não pode se deslocar até à 77ª DP (Icaraí), onde o caso é investigado, uma equipe colherá o depoimento da jovem no próprio hospital.
—A Gabriela ainda está muito debilitada e falando com dificuldades. Ela teve o estomago perfurado durante o procedimento que fez com a dra. Geysa. E mesmo depois de passar por uma cirurgia para tentar reverter o problema, ela ainda sente muitas dores e está com o corpo muito inchado — disse Guilherme Frederico, advogado da paciente.
Advogado mostra imagem de paciente de médica Geysa Leal que está internada - Domingos Peixoto / Agência O Globo
A delegada Raíssa Celles, titular da 77ª DP, conta que tomou ciência deste novo caso na sexta-feira, quando o advogado da paciente fez o registro de ocorrência:
—Como a mulher continua internada, vamos mandar uma equipe ao hospital, nesta segunda-feira, para ouvi-la. Queremos saber os detalhes dos procedimentos que ela realizou na clinica da Geysa.
O advogado de Gabriela também entregou aos investigadores cópias dos áudios em que a médica Geysa Corrêa aparece debochando da cliente e sugerindo que ela comesse a secreção que saia do ponto por onde o procedimento foi feito para saber se realmente era comida.
A jovem realizou o procedimento estético na clínica de Geysa, no último dia 10 de julho, e pagou R$ 4,2 mil à médica. Mas assim que chegou em casa já começou a sentir muitas dores pelo corpo. No dia seguinte, uma secreção passou a sair da barriga dela. Assustada, a jovem mandou mensagens para para médica em que relatava que havia tomado uma sopa e que tinha a impressão de que o alimento estava saindo pelo ponto por onde havia sido feito o procedimento.
A médica, que aparentava não acreditar na mensagem da paciente, respondeu de forma irônica:
“Amore, eu acho que você deveria comer para ver se é tomate ou cenoura. Que isso aí para mim é gordura. Me desculpe, mas não fala besteira. Quanto mais besteira você pensar, mais vai ficar estressada e vai me estressar à toa. Então deixa eu ver primeiro antes de você ficar falando besteira. Uma hora é agrião, daqui a pouco vira uma salada de frutas. Isso é gente que está botando coisas na sua cabeça. Então vem aqui. Eu vou ver direito. Se você quiser, você come pra provar para ver se é uma coisa ou outra”, disse a médica, que terminou o áudio se desculpando e dizendo que era uma brincadeira.
Médica manda paciente comer secreção
Depois disso, Gabriela chegou a voltar ao consultório de Geysa, que receitou muitos antibióticos e anti-inflamatórios, o que gerou uma despesa de mais de R$ 700. Mesmo assim não adiantou em nada. No dia 18, a jovem acabou sendo internada.
CONSULTÓRIO PERICIADO
A clinica onde a jovem realizou o procedimento é a mesma por onde passou a professora Adriana Ferreira, de 41 anos, que morreu na última segunda-feira, uma semana depois de fazer uma lipoescultura com a dra Geysa.
Na tarde desta sexta-feira, a delegada Raíssa Celles foi ao local acompanhada de um médico perito da Polícia Civil e um agente da Vigilância Sanitária, para fazer uma pericia na clínica:
— A nossa parte já foi feita. E já liberamos o consultório da médica. Agora, vamos enviar alguns questionamentos para os conselhos Estadual e Federal de Medicina sobre a atuação da profissional.
A delegada titular da 77ª DP, Raíssa Celles, foi na tarde desta sexta-feira à clínica de Geysa, em Icaraí, para periciar o local. O consultório está fechado desde segunda, quando a professora Adriana morreu - Divulgação / Polícia Civil
Na quinta-feira a médica prestou depoimento na 77ª DP (Icaraí). Ela disse aos investigadores que, apesar de não ter registro para atuar na área de cirurgia plástica, está habilitada para praticar qualquer ato médico. Geysa, ficou por duas horas e meia dando explicações aos investigadores e saiu do local sem falar com a imprensa. Em seu depoimento, ela disse que pediu exames para que a paciente pudesse realizar a cirurgia tanto em sua clínica, como em um centro cirúrgico.
O grupo intitulado “Divas da Dra. Geysa”, com cerca de 15 pacientes e amigas da médica, se reuniu em frente à delegacia para apoiá-la. Demonstrando muita agressividade, algumas chegaram a agredir jornalistas. Empolgadas, elas gritavam o nome da médica e tiravam muitas fotos. Questionada por uma jornalista da "TV Globo", que teve o braço arranhado, uma delas respondeu: “Nós também estamos trabalhando".
ASSUNTOS: intestino perfurado, lipoaspiração, médica, Brasil