Compartilhe este texto

Marcelo Odebrecht diz cerca de 3/4 das campanhas do Brasil foram abastecidas por caixa dois

Por Agência O Globo

14/04/2017 16h04 — em
Brasil



BRASÍLIA — Em um dos depoimentos de seu processo de delação premiada, o ex-presidente do grupo Odebrecht Marcelo Odebrecht conta que o PT foi o primeiro partido a centralizar o processo de arrecadação de verbas junto à empresa na figura do ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci. Marcelo narra os problemas das doações via caixa dois e estima que 3/4 de todas as campanhas do Brasil eram irrigadas dessa forma. O empresário diz que o instituto do caixa dois gerava um círculo vicioso sobre o qual ninguém tinha controle, pois era impossível rastrear quanto desse dinheiro ia realmente para campanha eleitoral e quanto ia para outros caminhos.

— Esse era um problema que a gente tinha no Brasil todo, se criava um círculo vicioso. Eu estimo que três quartos (75%) das campanhas do Brasil eram de caixa dois — afirmou Marcelo Odebrecht aos procuradores no Paraná, onde está preso.

Apesar dos problemas relacionados ao caixa dois, Marcelo admite que esta também era uma forma de a empresa se resguardar do apetite de outros candidatos. Pois se o total doado para um fosse revelado, outro procuraria a empresa querendo o mesmo ou até mais. Essa lógica foi explicada pelo empreiteiro no capítulo em que ele fala das doações de R$ 2 milhões ao então candidato ao governo do Acre, Tião Viana (PT). Desse total, só R$ 500 mil foram declarados à Justiça Eleitoral. O restante foi por caixa dois. Segundo ele, quem negociou com Marcelo foi o irmão de Tião, o senador Jorge Viana (PT-AC).

— Às vezes você até gostaria de doar mais oficial, daria menos problema. Mas e a referência que você cria? Imagina: a gente doar R$ 2 milhões para uma candidatura a governador do Acre. Imagina quanto criaria de expectativa para o (candidato a) governador de São Paulo — comparou.

No depoimento, Marcelo Odebrecht diz ter certeza de que nesse caso de Tião Viana, os R$ 2 milhões foram pagos parte por caixa um, parte por caixa dois. Mas disse que a empresa também tinha outras formas de pagar compromissos assumidos com os políticos, como a contratação de um laranja para receber a verba e depois repassá-la ao destinatário final.

— A gente tinha várias maneiras de pagar, além da oficial. A gente podia usar outros, terceiros, e depois remunerar os terceiros. Mas nesse caso específico foi feito por meio de caixa dois — afirmou.


Siga-nos no
O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

ASSUNTOS: Brasil

+ Brasil