Moro abre inquérito para investigar propina de R$ 3 milhões a Bendine
SÃO PAULO. O juiz Sergio Moro autorizou abertura de inquérito para apurar pedidos de propina feitos pelo ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras ao Grupo Odebrecht. Segundo três dos delatores da empresa, incluindo o empresário Marcelo Odebrecht, Bendine recebeu R$ 3 milhões em espécie, entregues em três vezes num endereço da Rua Sampaio Viana, no bairro do Paraíso, em São Paulo, entre os dias 17 de junho e 1 de julho de 2016. Quando a propina foi paga, Marcelo já havia sido preso e a Lava-Jato estava em seu terceiro ano.
Segundo os depoimentos, entre 2014 e 2015 executivos da Odebrecht foram procurados várias vezes pelo publicitário pernambucano André Gustavo Vieira da Silva, que falou em nome de Bendine e pediu que fosse pago um percentual de 1% sobre um alongamento de dívida da Odebrecht Ambiental com o Banco do Brasil. Inicialmente, a empresa resistiu em pagar, pois a negociação com a área técnica do banco transcorria normalmente. Os pedidos, porém, se tornaram cada vez mais insistentes.
Num dos encontros com o executivo Fernando Cunha, o publicitário teria dito que Bendine estava insatisfeito, pois cumpria ordens de Guido Mantega, o coordenador das negociações do governo, e "no final não via nada". Inicialmente, pediu entre R$ 58 milhões a R$ 87 milhões em propina. Depois, baixou o percentual para 1%, o que significava R$ 17 milhões, segundo a delação de Marcelo Odebrecht.
O primeiro contato do empresário com Bendine teria ocorrido em janeiro de 2015 na sede do Banco do Brasil em São Paulo. Bendine chegou na sala de reunião com uma pasta verde, com brasão da Presidência da República, que continha uma anotação que o próprio Marcelo havia endereçado a Alozio Mercadante, que foi ministro da Casa Civil da presidente Dilma Roussef entre fevereiro de 2014 e outubro de 2015. Na conversa, teria se apresentado como "interlocutor da presidente da República" e disse que coordenaria soluções com o sistema financeirom, com poder para atenuar os avanços da Lava-Jato.
Poucos dias depois do encontro, Bendine, considerado homem de confiança da presidente, foi nomeado novo presidente da Petrobras.
O publicitário continuou cobrando o valor da propina, que não havia sido pago, e marcou um encontro entre Marcelo Odebrecht e o próprio Bendine para reforçar a necessidade de pagamento. O encontro ocorreu em maio de 2015, na casa de André Vieira, em Brasília, três ou quatro dias antes da prisão de Marcelo Odebrecht na Lava-Jato, em 19 de maio.
O publicitário disse que a "senha" do então presidente da Petrobras para confirmar a cobrança do pedágio seria uma menção ao empréstimo feito à Odebrecht Agroindustrial durante a conversa. Segundo os participantes, Bendine mencionou o financiamento e chegou a forçar o tema no meio de uma conversa que girava em torno da Petrobras.
Mesmo depois da prisão do empresário, o publicitário manteve o achaque. Um dos executivos da Odebrecht chegou a ser chamado durante um encontro de Bendine com o publicitário no restaurante Roma, no bairro de Higienópolis, em São Paulo. Bendine disse que queria "dar um abraço" em solidariedade à prisão de Marcelo Odebrecht.
O dinheiro repassado a Bendine saiu do departamento de propina da Odebrecht e foi registrado na planilha com o codinome Cobra. Segundo Marcelo Odebrecht, havia receio que ele retaliasse a empresa nos negócios com a Petrobras.
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