'Não dá para o PT pedir desculpas porque venceu', diz Gleisi
BRASÍLIA – Em uma reunião marcada para afinar o discurso dos partidos que apoiam a candidatura de Fernando Haddad (PT) contra Jair Bolsonaro (PSL) nesta reta final de segundo turno, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann , disse nesta segunda-feira que a legenda não tem que “pedir desculpas por ter chegado ao segundo turno”. A frase, segundo participantes da reunião, foi endereçada ao pedetista Ciro Gomes e ao seu partido, que não enviou representante ao encontro de siglas, na sede do PSB, em Brasília.
O PDT também ficou fora de nota divulgada depois da reunião, assinada por seis partidos (PT, PCdoB, PSB, PCB, PSol e Pros), que conclama o voto em Haddad contra uma candidatura “que rompe o pacto democrático da Constituição de 1988 e lança sobre o país a sombra do fascismo”.
— Não dá para o PT pedir desculpas porque venceu (para ir ao) segundo turno. Temos uma base social. O PT tem 30% dos votos desse país. Isso é muito significativo. É uma força social. Podem ter críticas ao PT. É natural que tenham. Somos uma organização humana com todas as nossas falhas e todos os avanços que tivemos. Agora, não dá para pedir que o PT peça desculpas e nem acusar o PT de ter ido para o segundo turno — disse Gleisi.
Ao ser questionada sobre a ausência do PDT na reunião, a senadora disse que o presidente do PDT, Carlos Lupi, ligou para ela informando que estaria num ato de apoio à candidatura de Márcio França (PSB), em São Paulo. Lupi também não mandou representante para o encontro. Depois de ficar em terceiro lugar no primeiro turno, o PDT decidiu declarar “apoio crítico” a Haddad, o que incomodou os petistas, que esperavam o embarque da legenda na campanha do ex-ministro. Ciro Gomes (PDT) viajou para a Europa, de onde deve voltar esta semana, sem dar declarações pedindo voto para Haddad.
A vice de Ciro, senadora Kátia Abreu (PDT-TO), foi ainda mais dura com os petistas ao afirmar, em entrevista ao GLOBO, que "Haddad seria um governo Dilma 2, piorado", porque não conseguiria maioria no Congresso para governar. Antes da entrevista, durante o evento em que o PDT anunciou o apoio ao petista, ela já havia defendido a renúncia de Haddad, para que Ciro, o terceiro colocado, pudesse disputar o segundo turno contra Bolsonaro.
Na reunião desta segunda, parte dos petistas presentes defendeu uma nota mais “enfática” em relação aos que ainda titubeiam sobre o apoio a Haddad, cobrando que não haja “vacilações”. Mas a maioria dos presentes discordou e defendeu uma nota mais moderada, na tentativa de não fechar portas com líderes de outros partidos. Questionada sobre Ciro, Gleisi disse que “todo mundo tem seu momento”.
— Eu já falei com Lupi. Haddad ligou para Ciro. A gente tem de respeitar também o tempo das pessoas. Tem tempo pós-eleitoral. Acho que ele está procurando refletir, recompor, mas eu não tenho dúvidas da caminhada democrática de Ciro e do lado que ele vai estar na história — disse.
Outro apoio esperado pela frente é o do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Questionada se o PT tomará a iniciativa de procurá-lo, Gleisi desconversou e apenas elogiou o tucano.
— Estamos abertos a todos aqueles que querem apoiar a democracia. Tenho referência na vida de Fernando Henrique como um democrata. Hoje mesmo, ele disse que tem uma porta para Haddad. Era bom que ele tivesse o entendimento de que não é uma porta para Haddad. Nós não estamos tratando de uma candidatura de um partido político agora. Estamos tratando de uma candidatura que faz frente a movimento que é neofascista no Brasil — comentou.
A presidente do PT deixou a reunião antes do fim, alegando ter outros compromissos. Após sua saída, o presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros, negou que tenha ocorrido pressão dos aliados por uma autocrítica petista.
— O PSOL não apoiou o PT no primeiro turno e outorgou apoio a Haddad no segundo turno sem fazer esse tipo de exigência porque o momento é grave. Nossas avaliações sobre os governos do PT são divergentes, mas não são suficientes para que nós nos omitamos neste momento grave da história brasileira, diante dos riscos que a candidatura do Bolsonaro impõe — afirmou o presidente do PSol, Juliano Medeiros.
Na reunião, os líderes partidários decidiram fazer um esforço concentrado, esta semana, para atrair políticos, artistas e intelectuais que apoiaram outros candidatos no primeiro turno. De acordo com os presentes, cada um conversará com quem “tem mais trânsito”, independentemente do partido, “de DEM a MDB”, disseram. Segundo Gleisi, o PT está disposto a mudar pontos do programa de governo de Haddad para atrair alianças. Citou que o partido já cedeu ao decidir abandonar a ideia de propor nova constituinte.
Na nota, os partidos dizem que “o Brasil vive um momento histórico que exige resposta firme de todos e todas que defendem a democracia, a liberdade, a soberania nacional, os direitos do povo e a justiça social”. “As sementes do ódio e da violência, plantadas nos últimos anos pelas forças reacionárias e pelos donos das grandes fortunas, deram vida a uma candidatura que é o oposto desses valores; que rompe o pacto democrático da Constituição de 1988 e lança sobre o país a sombra do fascismo”, diz.
Os partidos afirmam que o voto em Haddad é “a resposta a esta ameaça, porque sua candidatura representa os valores da civilização contra a barbárie, representa um projeto de país em que todos têm oportunidades, não apenas os privilegiados de sempre”. “Votar em Fernando Haddad é a resposta às fábricas de mentiras e à violência que se espalha pelo país; o prenúncio de um estado autoritário, contra a vida, contra os direitos das pessoas, contra a liberdade e a justiça”, registra.
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