Nova secretaria de Moro vai focar em operações contra 'quadrilhas violentas'
BRASÍLIA - A decisão do futuro ministro da Justiça , Sergio Moro, de criar a Secretaria de Operações Policiais Integradas obedece a um plano ambicioso: o ex-juiz pretende transformar a secretaria numa máquina de produzir operações contra o tráfico de drogas e o contrabando de armas e drogas, entre outros crimes de dimensão interestadual. A ideia é promover, em ritmo crescente, operações de forte impacto contra o crime organizado que hoje controla presídios e responde por boa parte das estatísticas de homicídio no país.
Numa recente conversa reservada, Moro não deixou dúvidas sobre o papel da nova secretaria, que é coordenar mais e melhores operações contra quadrilhas violentas de atuação em vários estados. A expectativa, entre auxiliares do ex-juiz, é de que se o plano for concretizado, as operações poderiam ser um marco no combate a criminalidade comum, da mesma forma que a Lava-Jato tem sido no histórico corretivo contra corrupção.
"A ideia é fazer mais e aumentar a intensidade das operações", disse Moro em conversa com interlocutores sobre o eixo de atuação da Secretaria de Operações. O futuro ministro explicou que hoje a Secretaria Nacional de Segurança Pública já coordena operações executadas por policiais civis e militares. Mas estas operações tem mais caráter pedagógico e fiscalizatório. Em geral, não há compartilhamento ou coordenação coletiva de operações destinadas a desmantelar quadrilhas específicas.
Os exemplos mais recentes sobre essa linha de atuação da Secretaria de Segurança foram as operações Midas e Fronteira Segura. Na Midas, policiais de vários estados prenderam 1.496 pessoas, num único dia, 26 de setembro deste ano, contra as quais constavam mandados de prisão em aberto. Na Fronteira Segura, 300 policias foram destacados, em julho deste ano, para reforçar as fronteiras de nove estados nas regiões Norte e Centro-Oeste.
Estas ações tiveram efeito simbólico. Moro espera resultados efetivos. Para isso, as operações terão alvos específicos, da mesma forma que tem as operações de combate à corrupção. A secretaria de Operações será comandada pelo ex-superintendente da Polícia Federal no Parana Rosalvo Franco. O delegado deverá levar para a secretaria a experiência acumulada ao longo de sucessivas etapas da operação Lava-Jato.
Iniciativa Inédita
A Secretaria de Operações Policiais Integradas unirá nas mesmas ações as policiais federal, civil e militar. A iniciativa é inédita, já que hoje as forças policiais trabalham de maneira paralela e totalmente independente. O objetivo da unidade é potencializar o poder de investigação e de combate das polícias.
Não está claro, ainda, como Moro fará para que os governos estaduais participem, e não apenas simulem a participação, nestas operações. Segundo um observador dos passos do ex-juiz, o sucesso dessas operações vão depender mais do nível de engajamento dos governadores, e das polícias estaduais, que da capacidade administrativa de Moro e do futuro secretário de Operações.
Nesta segunda-feira, Moro anunciou o nome de Rosalvo Ferreira Franco para comandar a área. Delegado da Polícia Federal, ele foi superintendente da Polícia Federal do Paraná de 2013 a 2017, ocupando a chefia desde o início da operação Lava-Jato, em março de 2014. Com 33 anos de atuação na PF, ele já vem atuando na equipe de transição do governo ao lado de Moro.
A secretaria está no guarda-chuva da pasta da Justiça e foi vista com bons olhos pela nova cúpula da PF que assumirá a corporação com a posse do governo de Jair Bolsonaro. Maurício Valeixo, anunciado como novo diretor-geral da PF, foi o sucessor de Franco na superintendência do Paraná, no final do ano passado. Ele deixará o cargo para assumir o mais alto posto do órgão em Brasília, também a convite de Moro.
Valeixo se reuniu na tarde de segunda-feira com Moro, em Brasília, quando soube os detalhes da nova secretaria. A estrutura da unidade já está sendo trabalhada para que ela entre em operação no início do ano reforçando as investigações.
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