PF investiga grupo de Cabral e Pezão até por cobrar propina para asfaltar cidades
RIO - Vinte e quatro horas após a prisão de Luiz Fernando Pezão, a Polícia Federal revelou que conseguiu reunir provas de que o grupo liderado pelo ex-governador Sérgio Cabral e o atual governador Pezão cobrou propina até de contratos para levar asfalto para as cidades fluminenses. O repasse de recursos foi feito supostamente por sete empresas que venceram a disputa para tocarem o programa “Asfalto na Porta”, orçado em R$ 700 milhões. Segundo a PF, cada empresa repassava 8% dos valores dos contratos. O programa foi lançado em 2012 a partir de um emprestimo de R$ 3,6 bilhões, concedido pelo Banco do Brasil ao governo do Rio.
Uma das empresas que fez parte do suposto esquema foi a JR Pavimentação, do empresário Luís Alberto Gomes Gonçalves, o Beto, que teve sua prisão decretada durante a Operação Boca de Lobo, a mesma que levou Pezão à prisão. Beto se apresentou nesta sexta-feira à PF, prestou um longo depoimento e foi encaminhado ao presídio. O teor de seu depoimento não foi revelado.
A descoberta de que houve distribuição de propina também de contratos para asfaltar cidades fluminenses surgiu em 2016, a partir da apreensão de planilhas na casa de José Orlando Rabello, operador do ex-secretário Hudson Braga, braço-direito de Pezão quando o governador comandou a secretaria estadual de Obras, no governo de Sérgio Cabral. José Orlando, Hudson e o ex-governador Sérgio Cabral foram presos em novembro de 2016, após a deflagração da Operação Calicute (a Lava Lato do Rio).
Segundo policiais federais informaram ao GLOBO nesta sexta-feira, vários nomes e valores constavam no documento. Nas planilhas, há referência a repasse de 2% a “Eu”; 4% a “Nós”; 2% para "BSB"; e ainda 2% para "BR". A PF diz que conseguiu apreender correspondência eletrônica e outros documentos que comprovariam o envolvimento do grupo no recebimento de propina.
Programa de recuperação de vias
Lançado em 2012 pelo governo do estado, o programa “Asfalto na Porta” prometia investir um total de R$ 700 milhões na melhoria da infraestrutura urbana em todos os município do estado, com foco na Baixada Fluminense. As obras de pavimentação e recuperação de vias fizeram parte de um programa estruturado a partir do empréstimo de R$ 3,6 bilhões concedido pelo Banco do Brasil ao governo do Rio. O pacote completo de intervenções previa aplicação de asfalto em vias urbanas, com drenagem, pavimentação, meio-fio, acessibilidade e sinalização.
No total, 1.380 vias das cidades de Mangaratiba, Itaguaí, Magé, Maricá, São Gonçalo, Niterói, Itaboraí, Tanguá, Belford Roxo, Duque de Caxias, Japeri, Mesquita, Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, São João de Meriti e Seropédica foram contempladas na primeira etapa do programa, com cerca de 653 quilômetros de ruas recuperadas. O "Asfalto na Porta" começou quando Pezão deixou o posto de secretário estadual de Obras para iniciar sua campanha ao governo do Rio. Ele foi substituído pelo seu subsecretário, Hudson Braga.
Segundo investigações da Polícia Federal, as sete empresas investigadas agora dividiram o estado em lotes. A empresa JR Pavimentação ficou responsável por pequenas e médias obras de engenharia civil e de pavimentação no sul do estado do Rio. Luís Alberto Gomes Gonçalves, o Beto, dono da JR, chegou a ser citado por Carlos Miranda, operador do ex-governador Sérgio Cabral, como o responsável por receber uma espécie de prêmio que Cabral pagava a Pezão . Ele teria guardado R$ 1 milhão em propinas para Pezão, valor repassado por Miranda a mando de Cabral.
Ainda durante sua delação, Carlos Miranda disse que Beto também pagou um percentual de 5% de propina de todos os contratos com o governo do Rio. Segundo ele, isso durou de 2007 até o fim do governo de Cabral.
A operação Boca de Lobo, da Polícia Federal, cumpriu nove mandados de prisão, entre eles o do governador Luiz Fernando Pezão. Ele é acusado de ter mantido em seu governo o esquema de propinas que já funcionava durante o governo de Sérgio Cabral, já preso. Os crimes apurados pela PF são corrupção, lavagem de dinheiro, participação em organização criminosa e outros crimes ligados à fraudes em licitações.
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