Videoteca em prisão de Cabral é suspensa após denúncias de irregularidades
RIO — A Secretaria de Administração Penitenciária do Estado do Rio (Seap) cancelou nesta terça-feira a suposta doação de equipamento de TV, DVD e home theater para a instalação de uma videoteca na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, na Zona Norte do Rio. A Seap informou que os aparelhos foram doados pela Igreja Batista do Méier e pela Comunidade Cristã Novo Dia. Na unidade, estão presos o ex-governador Sérgio Cabral e outros detentos ligados a ele, como o ex-secretário estadual de Saúde Sérgio Côrtes. A decisão foi tomada após três voluntários da Igreja Batista do Méier, que assinam o termo de doação ao presídio, afirmarem que foram enganados por alguém de dentro da cadeia.
Segundo o Jornal Nacional, a compra dos equipamentos teria sido feita em dinheiro vivo a mando de Wilson Carlos, ex-secretário de governo preso junto com Cabral. Ele seria o responsável por operar a sala. A cada três dias de trabalho, a pena de Wilson diminuiria um dia. A nota fiscal da aquisição estava em nome de Eliana Nogueira do Carmo, que negou que tenha comprado os objetos.
O pastor Cesar Dias de Carvalho, da Comunidade Cristã Novo Dia, conta que assinou o documento a pedido de Clotildes de Moraes, coordenadora dos voluntários da igreja, que disse ter sido procurada pela direção do presídio para obter três assinaturas no documento para liberar a doação.
— Não doamos nada. Fomos, e eu vou dizer isso sem medo de me sentir vítima, iludidos pela ideia de que estávamos fazendo apenas uma liberação burocrática para o ingresso dos equipamentos para os presos. Eu não sei quem doou. A direção do presídio disse para a coordenadora a que eu me reporto (Clotildes) que os presos tinham ganhado um sistema de vídeo e televisão, e que, para entrar no sistema, tinha que constar a doação de uma entidade religiosa e ela me perguntou se eu podia fazer isso também. Na hora, só pensei nesses caras. Não pensei que poderia haver alguma coisa por trás dos panos.
A terceira pessoa que assina o termo, pastor Carlos Alberto de Assis Serejo, afirmou não saber a origem da doação.
— A tal televisão só pode entrar por doação. A Igreja Batista não doou nada. Meu erro foi assinar o documento. Não sei de onde vieram os objetos. A maioria dos presos não tem nada, nosso trabalho é ressocializá-los. Achei que a doação era para beneficiar os presos.
De acordo com a Seap, as duas unidades religiosas são cadastradas para trabalhos missionários dentro das unidades prisionais do Estado. Após as revelações de possíveis irregularidades, a secretaria decidiu suspender “qualquer tipo de doação feita por entidades religiosas para unidades prisionais", mas não informaram se doações feitas recentemente serão revistas.
O pastor João Reinado Purin, presidente da Igreja Batista, afirmou que os três voluntários não têm autorização para assinar termos em nome da instituição.
— A doação não foi feita pela Igreja. O que desqualifica esse documento, o tal termo de doação, é que, os nomes que assinaram ali não têm autoridade para representar a igreja.
Segundo o pastor João Reinaldo, os três voluntários foram afastados após a suspeita de irregularidades .
— Conversei com eles internamente falando e eles estão afastados até que tudo se esclareça — falou.
MISSIONÁRIOS NÃO SÃO CONTRATADOS, DIZ SEAP
De acordo com a Seap, as unidades religiosas são cadastradas para trabalhos missionários dentro das unidades prisionais do Estado. E os missionários que assinaram o termo de doação não possuem contato com a direção da unidade.
"Eles são cadastrados e ao chegarem nas unidades prisionais seguem diretamente para os cultos religiosos onde tem contato com os presos. Tais doações somente são recebidas mediante termo de doação assinado pelos doadores e com as referidas notas fiscais dos produtos doados", informa a secretaria em nota.
ASSUNTOS: Cabral, presídio, videoteca, Brasil