Em meio a memes engraçados e polêmicas, ‘Carreta Furacão’ faz sucesso em todo o Brasil
Ferrovias fazem parte da história de Ribeirão Preto (SP), a 316 km da capital paulista, mas é um trem que não passa pelos trilhos abandonados da cidade que faz barulho nas ruas, atrai fãs pelo Brasil e começa a colecionar polêmicas.
O Trenzinho Carreta Furacão é um fenômeno na internet com milhões de visualizações em vídeos no Youtube e uma enxurrada de memes que se espalham pelas redes sociais com a mesma força do fenômeno da natureza que carrega no nome.
Como um furacão também surgiram alguns problemas envolvendo o nome da carreta. O impacto da fama obrigou os donos a fazerem alterações em um dos personagens da trupe, que há um mês começou a sair em turnê pelo Brasil e já passou por São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
A carreta, com marca registrada, ganhou cópias pelo país e motivou a abertura de processos por plágio e difamação a favor do pai da ideia, o empresário e policial militar afastado Wellington Cardoni Dameto, que responde, por outro lado, a uma ação por homicídio culposo envolvendo um de seus trenzinhos. Ele não fala sobre o assunto, que corre em segredo de Justiça.
Inspirada nos trens de rua que animavam festas infantis entre os anos de 1980 e 1990, a carreta faz sucesso há seis anos, após atrair adultos que passaram a seguir Fofão, Mickey, Popeye, Capitão América e um palhaço pelas ruas de Ribeirão ao som de funk e pagode.
"Só fazia escolinha, festa de criança, mas os pais começaram a querer ir junto e o trenzinho começou a ficar curto", relembra Fabiana Cardoni, proprietária da Furacão, carreta que é o topo de linha na frota de cinco trenzinhos mantidos na empresa que montou em 2005 após sugestão do marido.
Depois disso, a Carreta Furacão passou a animar casamentos, despedidas de solteiro, formaturas e até festa de cachorro. "Foi a coisa mais estranha que já fizemos, uma latição dentro do trenzinho com os cachorros querendo pegar os personagens", comenta Fabiana.
Personagens
A escolha por figuras do universo infantil e do mundo dos super-heróis envolve um apego emocional e uma estratégia para atingir pessoas de várias idades. "Quisemos pegar de várias épocas e o Fofão a gente achou interessante para pegar os pais das crianças, eu sempre gostei dele", explica Fabiana, de 35 anos.
O rebolado e o entrosamento dos personagens nos passos de dança – que surgem como improviso, mas que são ensaiados três vezes por semana – e manobras de parkour em muros e obstáculos que surgem no caminho construíram uma imagem carismática do grupo.
Nas redes sociais, as coreografias malucas se multiplicam com rapidez e ganham clipes com hits inusitados. Capitão América e o palhaço já dançaram, por exemplo, ao som de bandas internacionais como Strokes, Phoenix e da cantora Nina Simone.
Os personagens também já viraram tema de jogo para celular e chegaram a ser anunciados como uma das atrações do Rock in Rio, em brincadeira de 1º de abril feita pela própria organização do evento.
Os memes, que caíram na graça dos brasileiros, também agradam os donos da carreta. "Tudo que vem de uma forma para chamar atenção e as pessoas rirem, a gente gosta", diz Fabiana, que viu o faturamento da empresa aumentar 70% depois do sucesso na internet.
Turnê pelo Brasil
A simpatia conquistada gerou uma mobilização na internet que acabou rendendo uma turnê "oficial" pelo Brasil, que começou no mês passado em Santa Catarina e já passou por São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
"Estamos com a agenda lotada até agosto", comenta Fabiana, que não divulga o faturamento da empresa. O Movimento Brasil Livre (MBL) chegou a arrecadar R$ 14,3 mil para bancar a presença da Furacão em um ato contra a presidente Dilma na Avenida Paulista, em abril.
A participação dos personagens na manifestação pró-impeachment também foi responsável por uma polêmica envolvendo o criador do Fofão, única figura originalmente brasileira entre os homenageados pela trupe.
O ator Orival Pessini proibiu o uso do personagem para fins políticos e a decisão foi respeitada pela proprietária da carreta, que não levou Fofão para a apresentação, mas faz ressalvas sobre as posições políticas da Carreta Furacão.
"Nós temos uma ideia de imparcialidade, se tivessem nos chamado para ir ao evento a favor da Dilma, teríamos ido. Somos profissionais, não estamos nem contra nem a favor, foi mais um serviço que prestamos", diz Fabiana.
A atitude fez com que o personagem passasse por uma repaginação e fosse rebatizado entre os integrantes do trenzinho. Agora é Fonfon que sai às ruas com uma peruca vermelha – não mais marrom – e maior, que chega quase aos pés da fantasia.
"A roupa dele [Fofão] é uma camisa listrada, com macacão jeans, escrita com um F, o nosso é todo colorido, então não tem nada a ver, pode falar que é parente do Fofão", afirma Fabiana sobre as mudanças após acusações de plágio.
Processos
Além da polêmica envolvendo o personagem bochechudo, depois da fama, a Carreta Furacão passou a ter clones pelo Brasil e começou a ser relacionada em problemas que, segundo a proprietária, nada tem a ver com a original.
Desde 2011, a marca Carreta Furacão foi patenteada e a empresa de Ribeirão Preto é a única a poder usar esse nome. Apesar disso, o trenzinho é autor de pelo menos seis processos contra "carretas-cópias".
"Tem vídeo dos personagens brigando de soco na internet, os caras saem de porrada, numa outra vez vem uma moto e atropela, fica caído no chão, você coloca Carreta Furacão e aparece tudo isso aí, mas não somos nós", afirma Fabiana.
Homicídio
Entretanto, o marido de Fabiana responde a um processo de homicídio culposo – quando não há intenção de matar – por atropelar um motociclista de 35 anos com um de seus trenzinhos na Avenida Patriarca, importante via de Ribeirão Preto, em 2014.
O caso ainda corre na Justiça, sob segredo, e Wellington Cardoni Dameto responde ao processo em liberdade. Questionado sobre o assunto, o empresário e policial militar afastado negou participação no atropelamento, confirmado pela Secretaria de Segurança Pública.
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