Fórmula 1 quer manter contrato com São Paulo, mas vê Rio como favorito para 2021
Há uma disputa entre Rio de Janeiro e São Paulo para receber o GP do Brasil de Fórmula 1. Apesar de os paulistas terem a seu favor fatores importantes como o contrato em vigor (assinado pelas partes) para sediar a prova até 2020, a capital fluminense desponta com força no cenário para ser a sede da corrida a partir do ano seguinte, em 2021. O Rio tem projeto de construção de um novo autódromo em Deodoro com apoio do presidente da República Jair Bolsonaro. E há ainda o próprio interesse do comando da categoria pela cidade.
Na próxima semana, o comando oficial da Fórmula 1 vai enviar ao Rio de Janeiro a diretora global da categoria para promoção e negócios, Chloe Targett-Adams, conhecida nos bastidores como uma diplomata da F-1. Em sua agenda no Brasil, estão encontros com representantes do poder público e com os idealizadores do projeto do novo autódromo em Deodoro, que seria erguido ao custo aproximado de R$ 700 milhões e no prazo de seis a sete meses.
Jair Bolsonaro queimou largada ao dizer na quarta-feira que a corrida do ano que vem já seria realizada no Rio de Janeiro, mesmo ainda sem nenhuma obra em andamento da empreitada, a não ser a intenção formal. Os donos da Fórmula 1 foram procurados pela reportagem, mas disseram que não comentariam o assunto. Porém, o Estado apurou que o comando da categoria internacional não trabalha com a possibilidade de mudar o GP do Brasil de São Paulo para o Rio antes do vencimento do atual contrato, portanto, a F-1 mantém a realização do GP em São Paulo até 2020, como prevê o acordo feito com a prefeitura em 2014. Os novos donos da F-1, o grupo Liberty Media, têm interesse especial em continuar com o Brasil no calendário, principalmente por razões estratégicas do negócio.
O País é quem dá à Fórmula 1 a maior audiência nas transmissões de TV no mundo, além de representar um mercado importante na América do Sul para os patrocinadores da competição. Os dirigentes responsáveis pela categoria estão em busca de novas cidades interessadas em sediar GPs pelo mundo e consideram o Rio como a melhor opção para integrar o calendário em 2021, aí sim como substituição a São Paulo. Mas sem rasgar o atual contrato. Pesam como fatores favoráveis ao Rio o novo projeto e o atrativo turístico da cidade, além, claro, de um possível aperto de mão com Bolsonaro.
A candidatura carioca ganhou força na quarta-feira, quando o presidente assinou, em evento no Rio, um termo de compromisso para construção de um novo autódromo na cidade e afirmou que a corrida em 2020 já seria na capital fluminense. "A Fórmula 1 do ano que vem será realizada no Brasil e, no caso, no Rio de Janeiro. São milhares de empregos, o setor hoteleiro feliz com toda certeza. Serão 7 mil empregos diretos e indiretos", disse o presidente.
Porém, a informação de que GP do Brasil de 2020 será no Rio é rebatida nos bastidores. A Fórmula 1 reitera ter contrato até o próximo ano com Interlagos. A empresa promotora da corrida, a Interpub, explica que a categoria nunca cancelou acordos firmados para realização de provas e mesmo se decidisse pelo rompimento, teria de pagar uma multa, cujo valor não foi revelado.
A prefeitura e o governo de São Paulo também discordam que exista risco de o GP do Brasil de Fórmula 1 ser no Rio em 2020 e emitiram notas oficiais para afirmar que estão em andamento as negociações para renovar o contrato para os p´roximos quatro três ou quatro anos. Nesta quinta-feira, em entrevista à Rádio Bandeirantes, o governador paulista, João Doria, disse acreditar que Bolsonaro mencionou que a corrida será no Rio no próximo ano "movido pelo entusiasmo".
"Gostaria de deixar registrado que a Fórmula 1 tem contrato com a prefeitura de São Paulo até dezembro de 2020, então não procede a informação que em 2020 a Fórmula 1 vai mudar para o Rio de Janeiro", afirmou Doria. O governador considerou ser improvável a transferência para o Rio no próximo ano, principalmente por São Paulo contar com uma infraestrutura completa, enquanto o terreno para o possível autódromo carioca é, segundo ele, "um descampado".
Doria contou que o governo estadual e a prefeitura querem estender o contrato de São Paulo com a Fórmula 1 até 2030. O plano de desestatizar Interlagos continua, mas agora com um novo formato. Segundo Doria, o autódromo não será mais privatizado, mas sim concessionado por prazo determinado, o que poderia agilizar o processo e facilitar a aprovação da pauta na Câmara dos Vereadores. Antes de Bolsonaro, o governo Federal injetou R$ 160 milhões nas reformas em Interlagos, em três fases de obras.
IMPACTO FINANCEIRO
A disputa entre Rio e São Paulo para sediar a Fórmula 1 reside principalmente no impacto econômico para sediar o evento. A prefeitura carioca divulgou nota em que estima um impacto de R$ 625 milhões por ano com a realização do GP na cidade, principalmente pelo movimento turístico e pela movimentação de patrocinadores.
Em São Paulo, os números do GP de 2018 apresentados pela Secretaria Municipal de Turismo (SPTuris) mostram que durante o fim de semana da prova, em novembro, o impacto no turismo na cidade foi de R$ 334 milhões, 19,2% superior ao registrado no ano anterior. Nesta sexta-feira, o prefeito Bruno Covas e o governador João Doria darão entrevistas sobre o assunto. É inegável, no entanto, que, com a construção do circuito no Rio, São Paulo terá um forte concorrente para os próximos contratos da F-1.
ASSUNTOS: Deodoro, fórmula 1, Interlagos, rio de janeiro, São Paulo, Esportes