'Mataram meu irmão': parentes dos 44 tripulantes do submarino se revoltam
MAR DEL PLATA, Argentina - Os familiares dos tripulantes do submarino San Juan ficaram furiosos com as autoridades navais ao ouvirem que a embarcação pode ter explodido no fundo do mar há oito dias. E, no mesmo momento em que se inteiravam do pior dos cenários possíveis, a raiva veio à tona:
— Mataram meu irmão! Filhos da puta, mataram-no porque os mandam navegar (numa embarcação) com arame — denunciou um parente entre a dor e a revolta.
O comunicado da Marinha foi lido ante os familiares que esperavam num salão da Base Naval de Mar del Plata, mas a leitura não pôde ser concluída porque quando se ouviu a palavra “explosão” a reação veio forte. Houve empurrões, tentativas de agressão e insultos contra os chefes navais.
— Foi caótico, um desastre, gente que gritava e outros que tinham de ser contidos porque quiseram agredir os porta-vozes — contou indignada Itatí Leguizamón, mulher do operador de radar do submarino Germán Oscar Suárez. — Saí porque não pude suportá-lo. São uns perversos, mentirosos, manipuladores. Por que não nos disseram antes que tinha ocorrido uma explosão?
Segundo contou, seu marido lhe havia relatado que em 2014 o submarino tinha sofrido “um sério incidente” após o reparo de meia vida por que passara. Leguizamón, que é advogada, foi a primeira a falar de uma frota naval precária.
— Está tudo atado com arame. Basta olhar o orçamento das Forças Armadas para entender a precariedade em que se trabalha — disse ela, acrescentando que entrará na Justiça contra o governo.
Enquanto em Buenos Aires o porta-voz da Marinha, Enrique Balbi, explicava a “anomalia hidroacústica” (termo que logo se definiu como explosão), em Mar del Plata, a 400 km de distância, mães mulheres e amigos dos 44 submarinistas reagiam. Houve cenas dolorosas de pesar até de marinheiros.
Além dos psicólogos que prestavam atendimento, foi necessária na quinta-feira a assistência de clínicos, com ambulâncias. As famílias se consolavam, se sustentavam umas as outras em abraços intermináveis. Mas a dor muito rapidamente se transformou em ira.
— Aqui os chefes roubam o dinheiro! — gritou um homem de dentro de um carro que se afastava a toda velocidade.
Em outro carro, uma mulher fazia coro:
— Mentiram para nós, mentiram para todos!
Os porta-vozes da Marinha em nenhum momento mencionaram a palavra “mortos”, embora para as famílias “essa seja a suposição lógica”, disse a advogada Leguizamón.
— Acabaram de dizer-nos que a explosão foi na quarta-feira às 11h (dia do último contato por rádio), que aí houve a explosão e o incêndio e o submarino afundou a três mil metros (de profundidade). Esta foi a explicação, que segundo eles acabam de saber, mas não acredito que não soubessem.
A saída de vários familiares se deu em meio a momentos de extrema tensão, e alguns foram escoltados por suboficiais da Marinha por uma saída alternativa da base naval para despistar os jornalistas que aguardavam na entrada principal. Mas nem isso foi capaz de impedir que o irmão do submarinista Víctor Enríquez, integrante da tripulação do San Juan, tivesse um acesso de fúria:
— Estavam nos enganado — afirmou, antes de seguir, berrando insultos.
A mulher do cabo Fernando Santilli, Jessica Gopar, afirmou que ainda que não espere muito das autoridades, cabe ao presidente Macri dar explicações.
— Hoje, tudo o que sei é que não trarão meu marido de volta — afirmou, desconsolada. — Não posso acreditar que tenham sido tão cruéis de não nos informar, de deixar que se passassem oito dias. Não posso acreditar.
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