Agronegócio pode ver os números da soja caírem, Volkswagen não quer greve e o que importa no mercado
SÃO PAULO, SP (SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Agronegócio pode ver os números da soja caírem, Volkswagen não quer greve, mas tem planos de cortar o salário dos trabalhadores alemães em 10%, e outros destaques do mercado nesta terça-feira (3).
**APAGÃO DO AGRO?**
Um apagão logístico pode acontecer nos próximos anos se o Brasil não aumentar a estrutura de exportação, segundo uma pesquisa da Macroinfra, consultoria especializada em infraestrutura.
Os terminais graneleiros dos portos podem não fazer frente à demanda crescente por commodities brasileiras.
A falta de diversidade nas opções de transporte para o escoamento de grãos do interior até os portos também é um entrave para o crescimento do faturamento brasileiro a maior parte tem que usar rodovias para entregar os produtos.
ENTENDA
Projeções apontam que o Brasil deve continuar crescendo enquanto exportador de grãos.
A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) projeta um recorde da safra de soja. A de 2024/2025 pode atingir 166,28 milhões de toneladas, alta de 12,82% ante o ciclo anterior.
Em uma condição climática normal, a área plantada com soja no Brasil pode crescer 3%, para históricos 47,4 milhões de hectares.
Desafios no transporte. Carregar tudo isso não é tarefa simples e exige uma infraestrutura que aguente o fluxo.
Mais de 91% da capacidade portuária brasileira para exportação está sendo usada. O patamar está acima do limite de segurança operacional, estimado em 85%.
Em 2028, a operação pode não ser capaz de absorver a demanda de exportação, que pode chegar em 238,9 milhões, segundo a Macroinfra.
Dá para aumentar? Dá. A consultoria mapeou projetos de ampliação e construção de terminais portuários que, juntos, poderiam adicionar 173,5 milhões de toneladas de capacidade de embarque dos granéis sólidos por ano aos portos brasileiros.
Os cálculos levam em consideração a demanda de exportação de soja, açúcar, trigo, malte, milho e outros grãos.
SÓ CAMINHÕES
Em comparação com outros modais de transporte, as rodovias podem ser caras e menos eficientes. O Brasil depende muito delas por lá passam dois terços do escoamento da produção de grãos.
O transporte depende da construção de estradas e da compra de caminhões. Além disso, preços de peças dos veículos, combustíveis e pedágios afetam o custo da entrega.
Compare com as ferrovias, por exemplo. O custo de manutenção é menor, o transporte é mais rápido e os trens conseguem levar mais contêineres em uma viagem, carregando mais peso.
O risco de acidentes e o número de trabalhadores envolvidos no processo também é menor.
O que dizem os especialistas? Que a situação ainda não é crítica, mas o Brasil precisa pensar em aumentar a infraestrutura, se quiser manter sua posição como maior produtor e exportador mundial de soja.
"Infraestrutura é sempre isso. Quando atinge um limite, já tem que pensar à frente, porque a demanda é crescente, afirma Jesualdo da Silva, diretor-presidente da ABTP (Associação Brasileira dos Terminais Portuários).
"O caminhão tem um custo muito, muito mais elevado do que uma ferrovia ou uma hidrovia", diz Olivier Girard, da Macroinfra.
**VOLKSWAGEN EM GREVE
Trabalhadores de nove fábricas de automóveis e componentes da marca em toda a Alemanha fizeram paralisações de horas nesta segunda-feira (2), interrompendo as linhas de montagem.
Milhares se reuniram na sede da VW, na cidade de Wolfsburg. As plantas de Hanover, Emden, Salzgitter e Brunswick também estão mobilizadas.
POR QUE IMPORTA
A disputa entre a empresa e as forças sindicais é histórica na Alemanha. Em meio à necessidade de realizar cortes nas despesas, a montadora quer reduzir os salários dos funcionários em 10%.
A Volkswagen também ameaçou fechar fábricas no país-sede pela primeira vez em seus 87 anos de história.
Desde o início das operações, a montadora é vista como uma peça importante na manutenção dos empregos dos alemães. O fechamento de fábricas pode deixar pequenas cidades do país em situação difícil.
A administração quer enfiar ainda mais o prego, disse Lucia Heim, funcionária da fábrica de Hanover que participou da paralização.
A VW pode ser prejudicada pela greve? Sim. Uma greve de duas horas na principal planta da marca significa que centenas de carros deixaram de ser montados, segundo fontes sindicais.
Se as paralisações de algumas horas não surtirem o resultado desejado, os funcionários pretendem interromper as atividades por dias inteiros ou ilimitadamente, até que as exigências sejam atendidas.
Os manifestantes pedem reajustes salariais, além da suspensão da medida que cortaria as remunerações.
A quarta rodada de negociações entre sindicalistas e representantes da empresa está marcada para 9 de dezembro. Há dois resultados possíveis: a resolução ou a escalada dos embates.
A duração e a intensidade desse confronto são de responsabilidade de Volkswagen na mesa de negociações, disse Thorsten Groeger, que lidera as negociações em nome do sindicato IG Metall.
PROPOSTAS
O sindicato sugeriu medidas na semana passada que, segundo fontes internas, economizariam 1,5 bilhão de euros (R$ 9,52 bilhões), incluindo a renúncia dos bônus dos executivos para 2025 e 2026. O pacote foi rejeitado pela montadora.
Por que cortar os custos? Porque a VW enfrenta um declínio nas entregas e no lucro.
No início de novembro, o CEO da empresa, Oliver Blume, disse em entrevista ao jornal Bild am Sonntag que o programa de redução dos gastos é inevitável para remediar décadas de problemas estruturais na companhia.
A demanda anda fraca no mercado europeu e os lucros caíram na China, o que colocou a montadora em maus lençóis.
Blume disse na época que o plano era fechar ao menos três fábricas na Alemanha, demitir dezenas de milhares de funcionários e reduzir o tamanho das fábricas restantes no país.
↳ Segundo o executivo, operar na Alemanha é um grande obstáculo para a competitividade da Volkswagen.
Não há flexibilidade quanto às metas de redução de custos, apenas quanto à forma de atingi-las, disse.
↳ O conselho de trabalhadores da VW disse que os maiores acionistas da montadora (o estado alemão da Baixa Saxônia e uma holding controlada pelas famílias Porsche e Piech) também podem ter que fazer sacrifícios com relação ao dividendo anual.
**INTEL FICA PARA TRÁS**
Ainda na esteira de quem está indo mal nos últimos tempos, a Intel decide substituir o CEO depois do pior trimestre da sua história.
Pat Gelsinger deixará o cargo e será substituído pelo executivo David Zinsner e pela vice-presidente executiva Michelle Johnston Holthaus os dois serão CEOs interinos enquanto uma nomeação permanente não é feita.
Ele estava há três anos no cargo, onde tocava um plano de cinco anos para transformar a Intel em uma potência de fabricação de chips para rivalizar com a Nvidia e a TSMC (Taiwan Semiconductor Manufacturing Company).
Concorrência acirrada. É difícil pensar em um setor onde a corrida pela inovação seja mais árdua.
A Intel, uma vez a mais conhecida fabricante de chips para computadores, tem a potência desafiada por novatas como a Nvidia, que disparou na frente na produção e venda de chips para a implantação de inteligência artificial.
As empresas asiáticas de computação também disputam sua fatia do mercado.
Mesmo com a estratégia de cinco anos planejada para manter a empresa no topo da tecnologia, adversidades como a saída de executivos, milhares de demissões e quedas nos preços das ações.
↳ No último ano, os papéis da empresa caíram mais de 40%, culminando em um valor de mercado de US$ 103,7 bilhões (R$ 622,2 bilhões).
↳ Por outro lado, as ações da Nvidia dispararam, subindo 200% no mesmo intervalo. Seu valor de mercado chegou aos US$ 3,35 trilhões (R$ 20,1 trilhões).
Sem trânsito. As relações entre Gelsinger e o conselho de acionistas da Intel pesaram na decisão. O escolhido pelo ex-CEO para supervisionar sua estratégia crucial de fabricação de chips, Lip-Bu Tan, renunciou em agosto.
Frente ao cenário posto e a degradação da convivência, o conselho decidiu procurar um novo presidente executivo.
Sabemos que temos muito mais trabalho a fazer na empresa e estamos comprometidos em restaurar a confiança dos investidores, disse Frank Yeary, que era presidente do conselho e se tornará CEO interino.
Reestruturação. A demissão faz parte de uma tentativa ampla de retomar a credibilidade e a liderança da Intel como um agente importante da tecnologia status que não perdeu, mas foi ofuscado pela ascensão alheia.
Em outubro, a companhia anunciou US$ 18,7 bilhões (R$ 112,2 bilhões) em gastos de reestruturação e desvalorização de ativos em um esforço para aumentar sua competitividade.
Em cifras:
US$ 2,8 bilhões (R$8,8 bilhões) foram gastos em uma reorganização previamente anunciada e em um projeto para cortar custos em US$ 10 bilhões (R$ 60 bilhões);
US$ 15,9 bilhões (R$ 95,4 bilhões) foi o preço da desvalorização de equipamentos e gastos com juros.
A empresa está investindo em tecnologia para lançar produtos com inteligência artificial rebuscada.
Santa ajuda. A Intel vai receber um subsídio de US$ 7,86 bilhões (R$ 47 bilhões) do governo dos Estados Unidos para a fabricação de chips.
A fabricane também recebeu um prêmio de US$ 3 bilhões (R$ 18 bilhões) do Pentágono.
O subsídio vai apoiar US$ 90 bilhões (R$ 521 bilhões) em projetos de fabricação nos estados americanos Arizona, Novo México, Ohio e Oregon.
RELEMBRE
Os EUA investem em subsídios para suas fabricantes, em nome de chegar mais rápido a soluções melhores do que empresas chinesas, na tentativa de dominar esse mercado e comandar as tecnologias de última geração.
Os americanos impedirão a exportação para a China de aparelhos de memória avançada de alta largura de banda (HBM), um componente fundamental para os chips de IA.
Também incluirão 140 grupos chineses à "lista de entidades" uma relação que cobra que empresas dos EUA e de outros países solicitem licenças de exportação virtualmente impossíveis de obter.
**CINZAS DO PIB**
A indústria do fumo não quer mais proibições. Para fortalecer seu ponto, a Abifumo (Associação Brasileira da Indústria do Fumo) encomendou uma pesquisa à FGV (Fundação Getúlio Vargas)
O resultado aponta que haverá uma perda de até R$ 9 bilhões no PIB (Produto Interno Bruto) caso o Supremo Tribunal Federal valide a restrição imposta pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) a aditivos em cigarros.
QUAIS RESTRIÇÕES?
As impostas pela agência sanitária em 2012, que proíbem aditivos em cigarros, como flavorizantes ou açúcares.
Elas estão em julgamento no STF e seguem suspensas enquanto não houver resolução.
POR QUE SUSPENSAS?
Porque a indústria do fumo argumenta que a medida invade prerrogativas do Legislativo ao levar, na prática, ao banimento não só dos cigarros, como também de produtos como fumo de corda, narguilés e cigarrilhas.
A Abifumo afirma que a medida extrapola os poderes da Anvisa e pode ameaçar outras indústrias de intrusão.
Os produtores de cigarro afirmam que também pode estimular o consumo de produtos ilegais.
O mercado de contrabando de cigarros já compôs 57% das vendas no Brasil, número que hoje é de 32%, segundo a Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica).
A perda do direito de vender produtos usando os insumos restritos pode gerar a perda de R$ 476 milhões em arrecadação de impostos e cerca de 18 mil empregos seriam extintos.
A Anvisa entende que insumos que deixam cigarros mais atrativos podem trazer mais consumo para um produto que, por essência, prejudica a saúde de quem o compra.
Pode atrair públicos como crianças e adolescentes, que encontram uma opção em substâncias que mascaram o gosto e o cheiro do tabaco.
É o mesmo entendimento que levou a agência a proibir a venda de cigarros eletrônicos, característicos pelas cores vivas e aromas artificiais.
**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**
BETS
Cinco instituições financeiras atuam para 2,6 mil sites de aposta ilegais. Levantamento mapeia infraestrutura de pagamento dos sites não autorizados a funcionar pelo Ministério da Fazenda.
INTERNET 5G
Empresas podem ativar 5G de alta velocidade em todas as cidades do Brasil. Operadoras já podem ativar a conexão, liberada em 5.570 municípios.
IMPOSTO DE RENDA
Prefeitos pedem R$ 11,6 bi para compensar perda com correção da tabela do Imposto de Renda. Frente Nacional de Prefeitos diz que divisão deve ser individual, pois regra do fundo de participação prejudicaria cidades maiores.
VEÍCULOS
Marcopolo transforma micro-ônibus em motorhome de R$ 1,6 milhão; veja fotos. Modelo Nomade tem sala, cozinha, banheiro, quarto e até um puxadinho na lateral,
ASSUNTOS: Economia