Após Carrefour, rede de supermercados francesa Intermarché suspende venda de carnes brasileiras
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Grupo Les Mousquetaires, proprietário da rede de supermercados francesa Intermarché, anunciou que irá boicotar as carnes bovinas, suínas e aves produzidas em países da América do Sul em geral.
O comunicado, divulgado nesta quinta-feira (21), acompanha a decisão do Carrefour, que declarou o veto à à carne de países do Mercosul, bloco econômico composto por Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela em todas as suas lojas da França.
"Em apoio ao setor agrícola, o Grupo Les Mousquetaires assumiu o compromisso de não comercializar carne bovina, suína e aves originárias de países da América do Sul. Essa medida será aplicada em todos os balcões tradicionais das redes Intermarché e Netto", diz em nota o grupo, que além da França, está presente em Portugal, Polônia e Bélgica.
O comunicado incentiva ainda outras empresas francesas a aderirem ao boicote aos produtos mencionados "com o objetivo de apoiar a agricultura francesa". Com a medida, duas das três maiores redes de supermercados da França fazem restrições aos produtos do Mercosul. Segundo o Kantar WorldPanel, Carrefour e Les Mousquetaires correspondiam a 20,2% e 15,7%, do mercado francês em 2022, respectivamente, atrás apenas da rede E.Leclerc, com 22,5%.
Na última quarta-feira (20), o presidente mundial do Carrefour, Alexandre Bompard, afirmou que a rede francesa não vai oferecer nos seus pontos de venda carne produzida por países do Mercosul.
No dia seguinte, o Carrefour informou que a medida se aplica apenas às lojas da França. Em nota, o Carrefour Brasil informou que, nos demais países onde o grupo opera, como Brasil e Argentina, as atividades seguem "sem qualquer alteração" e que a carne do Mercosul continua disponível para compra.
Nesta semana, agricultores franceses têm feito protestos contra o acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, aliança comercial que também inclui países associados, como Bolívia, Chile, Colômbia, Peru e Equador.
O acordo entre os dois blocos vem sendo negociado desde 1999. A França lidera a resistência à assinatura do pacto, que criaria um mercado comum de 780 milhões de pessoas e um fluxo de comércio de até R$ 274 bilhões em produtos manufaturados e agrícolas.
REAÇÕES NO BRASIL
A ex-senadora e ex-ministra da Agricultura do governo Dilma Rousseff, Kátia Abreu, defendeu um boicote à rede Carrefour e afirmou que a decisão do mercado de não comprar carnes do Mercosul é "infantil e imprudente". Em entrevista à reportagem ela defendeu uma resposta firme do governo brasileiro.
"Acho que tem que haver uma ação diplomática muito dura. Não podemos permitir que algo assim passe sem consequências. Não somos uma república de bananas", afirmou.
"O sistema de produção brasileiro tem mais de 70 anos e é fruto de muito investimento, tecnologia e avanços. Não podemos permitir que isso seja ignorado por puro protecionismo francês."
Em um vídeo publicado no Instagram nesta quinta-feira (21), o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), defendeu o boicote ao Carrefour após a fala do CEO da rede.
"Se o Brasil não serve para vender carne para eles, então eles também não deveriam ser bem vistos para vender produtos aqui. Todos nós brasileiros, para honrar o nosso país, devemos pensar em dar ao Carrefour o mesmo tratamento que estão dando ao Brasil", disse.
O governador ainda criticou o que considera um discurso ambientalista hipócrita por parte da França.
"Como os produtores franceses não conseguem competir com o agronegócio brasileiro, eles ficam criando artifícios. É uma conversa fiada, porque no fundo mesmo eles querem usar o meio ambiente para criar barreiras contra o agronegócio do nosso país e de outros países aqui da América do Sul", afirmou.
Os dados de exportação de Mato Grosso, maior exportador de carne bovina do Brasil, mostram que o impacto econômico direto do boicote pode ser limitado.
Segundo a Sedec-MT (Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Mato Grosso), de janeiro a setembro de 2024, Mato Grosso exportou 26 toneladas de carne bovina para a França, o equivalente a 0,01% de tudo que foi exportado pelo estado para o mundo -423 mil toneladas. A quantidade coloca a França na 66ª posição entre os mercados compradores de carne mato-grossense.
Já a China adquiriu 191 mil toneladas no mesmo período, o que corresponde a 42,7% do total exportado e torna os chineses os maiores consumidores da carne produzida em Mato Grosso.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, também criticou a decisão do Carrefour, classificando-a como parte de uma "ação orquestrada de companhias francesas". Segundo ele, a medida desrespeita a produção brasileira e tenta criar barreiras comerciais injustificadas.
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