BC faz intervenção recorde e vende US$ 8 bi à vista em leilões extras de dólares
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O Banco Central vendeu nesta quinta-feira (19) US$ 8 bilhões em dois leilões extraordinários de dólares no mercado à vista. Essa foi a maior intervenção da autoridade monetária em um único dia desde 1999, quando o país adotou o regime de câmbio flutuante.
No primeiro leilão, foram aceitas seis propostas (acolhidas entre 9h15 e 9h20), no total de US$ 3 bilhões, com diferencial de corte do leilão referenciado à taxa Ptax foi de 0,000300. O pregão foi programado pelo BC na quarta (18), depois de o dólar ter fechado o dia cotado a R$ 6,267, recorde nominal para a moeda.
Nesta quinta, em sessão marcada por forte volatilidade, a moeda norte-americana chegou a R$ 6,301 na máxima, mas virou e terminou o dia em queda de 2,28%, cotada a R$ 6,124.
De surpresa, o BC fez uma segunda oferta da moeda estrangeira, entre 10h35 e 10h40. Foram aceitas dez propostas, totalizando US$ 5 bilhões -maior venda de dólares em um único leilão.
O diferencial de corte foi de -0,035000. Calculada com base nas cotações do mercado à vista, a Ptax é uma taxa de câmbio que serve de referência para a liquidação de contratos futuros.
Essa modalidade de leilão à vista funciona como uma injeção de dólares no mercado, como forma de atenuar disfuncionalidades nas negociações e, consequentemente, diminuir a cotação da moeda, seguindo a lei da oferta e demanda.
Na última semana, o BC atuou no mercado à vista e também por meio do chamado leilão de linha, no qual os dólares são vendidos com compromisso de recompra. Ao todo, foram nove intervenções no câmbio, com injeção de US$ 20,7 bilhões no mercado.
Tradicionalmente, o BC costuma fazer leilões extras no fim do ano, sobretudo em dezembro, período em que empresas com filiais no Brasil enviam recursos ao exterior. Além da questão sazonal, outros dois fatores podem estar influenciando o apetite pela moeda norte-americana na reta final de 2024.
Um deles é o crescimento maior do que o esperado da economia brasileira, outro é o temor com o imposto mínimo sobre milionários, anunciado pelo governo de Luiz Inácio da Silva (PT) para compensar a elevação para R$ 5.000 da faixa de isenção do IRPF (Imposto de Renda da Pessoa Física).
A proposta é uma das principais fontes de desconforto para o mercado financeiro, justamente porque as mudanças foram anunciadas, mas os detalhes ainda não são conhecidos.
Em entrevista a jornalistas, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que a autoridade monetária resolveu intervir no cambio em reação a "operações atípicas no volume que estão acontecendo".
Segundo ele, o país tem um nível elevado de reservas internacionais -atualmente em US$ 357,118 bilhões- e a autoridade monetária vai agir quando achar necessário.
Para justificar esse movimento atípico, citou que os dividendos pagos pelas empresas estão acima da média, que o fluxo financeiro no ano está bastante negativo, apontando para ser um dos piores anos recentes da história, e que as pessoas físicas estão tirando maior volume de recursos do país.
"A gente tenta fazer uma intervenção que se contrabalanceie em relação ao fluxo que está vendo e, geralmente, fatia o volume que entende que é o razoável para suprir essa liquidez em alguns dias", disse.
Campos Neto evitou antecipar novas intervenções no câmbio, mas disse que o fluxo está sendo mapeado pela autarquia dia a dia e que há expectativa de maior saída de dólares até sexta-feira (20).
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