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BC mantém Selic em 10,5% ao ano pela segunda reunião seguida

Por Folha de São Paulo

31/07/2024 18h30 — em
Economia



BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central manteve nesta quarta-feira (31) a taxa básica de juros -a Selic- parada em 10,5% ao ano. Esta é a segunda reunião consecutiva sem alteração no patamar dos juros.

A decisão foi unânime, com alinhamento dos votos dos quatro diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), incluindo Gabriel Galípolo -favorito a assumir o comando da instituição em 2025-, ao do atual chefe do BC, Roberto Campos Neto.

Ao justificar a opção por manter a taxa de juros inalterada, o Copom adotou um tom mais duro no comunicado. Enfatizou a necessidade de "maior vigilância" e destacou que as conjunturas doméstica e internacional demandam um "acompanhamento diligente e ainda maior cautela".

"Em particular, os impactos inflacionários decorrentes dos movimentos das variáveis de mercado e das expectativas de inflação, caso esses se mostrem persistentes, corroboram a necessidade de maior vigilância", disse em trecho do documento.

O colegiado ressaltou o cenário global incerto e o ambiente doméstico marcado pela resiliência da atividade econômica, pela elevação das suas próprias projeções de inflação e pela piora das expectativas.

No cenário de referência do Copom, as projeções de inflação para 2024 subiram de 4% para 4,2% e, para 2025, tiveram alta de 3,4% para 3,6%.

O colegiado manteve o cenário alternativo, no qual mantém a Selic inalterada "ao longo do horizonte relevante" (correspondendo ao primeiro trimestre de 2026). Nesse quadro, a projeção de inflação do próximo ano ficaria em 3,4% (em junho, a estimativa era de 3,1%).

Já as estimativas para o primeiro trimestre de 2026 situam-se em 3,4% no cenário de referência e 3,2% em cenário alternativo.

Repetiu a mensagem de que a política de juros deve seguir contraindo a economia por "tempo suficiente" para consolidar tanto o processo de desinflação como também para a convergência das expectativas em torno da meta.

"O comitê se manterá vigilante e relembra que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta", disse no comunicado.

A decisão veio em linha com a expectativa consensual do mercado financeiro. Levantamento feito pela Bloomberg mostrou que a manutenção da Selic em dois dígitos, no atual nível de 10,5% ao ano, era a projeção unânime dos economistas consultados.

O ciclo de corte de juros foi interrompido no encontro passado, em junho, com a retomada do consenso entre os membros do colegiado, inclusive os indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O alinhamento aplacou os ruídos gerados um mês antes, em maio, após um racha no Copom, que alimentou o temor dos analistas de que o BC poderia se tornar mais leniente no combate à inflação no ano que vem.

Em 2025, sete dos nove membros da cúpula do BC terão sido indicados por Lula, incluindo o futuro presidente.

Ao longo do processo de flexibilização, iniciado em agosto de 2023, a taxa básica saiu de 13,75% ao ano e, no acumulado, recuou 3,25 pontos percentuais. Foram seis reduções consecutivas de 0,5 ponto percentual e uma de 0,25 ponto. Hoje, a Selic está no menor patamar desde fevereiro de 2022, quando estava fixada em 9,25% ao ano.

Até o fim do ano, quando termina o mandato de Roberto Campos Neto, atual presidente da autoridade monetária, o Copom tem mais três rodadas de reuniões -17 e 18 de setembro, 5 e 6 de novembro e 10 e 11 de dezembro.

Desde a reunião de junho, houve piora no cenário econômico doméstico, com desvalorização do câmbio e projeções de inflação mais distantes do centro da meta.

No mês passado, a taxa de câmbio usada pelo Copom em seu cenário de referência era de R$ 5,30. Na reunião desta quarta, ela corresponde a R$ 5,55. Na tarde desta quarta, o dólar operava em alta e estava cotado a R$ 5,644.

A depreciação do real frente à moeda americana reflete, segundo economistas, incertezas decorrentes de tensões políticas nos Estados Unidos e da questão fiscal no Brasil.

Nas últimas semanas, as expectativas de inflação apuradas pelo boletim Focus foram revisadas para cima tanto para 2024 quanto para 2025.

Os economistas projetam que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) feche o ano em 4,1% (em junho, o avanço era de 3,96%). Para 2025, horizonte de tempo mais relevante para a decisão do BC, a estimativa saltou para 3,96%, ante 3,8% às vésperas do último Copom. A estimativa para 2026 segue estacionada em 3,6%.

A meta de inflação perseguida pelo BC é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que o objetivo é considerado cumprido se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).

Com os efeitos defasados da política monetária sobre a economia, o BC mira hoje o alvo fixado para 2025 e já começa a olhar para 2026. O Copom volta a se reunir nos dias 17 e 18 de setembro para recalibrar o patamar da taxa básica de juros.


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