Bolsa fecha em alta firme e dólar recua com dados de emprego dos EUA e rescaldo do PIB
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolsa brasileira fechou em forte alta de 1,31% nesta quarta-feira (4), aos 136.110 pontos.
Os investidores reagiram aos novos dados de emprego dos Estados Unidos, que reforçaram apostas de um corte mais agressivo nos juros por lá, e ainda repercutiram o resultado do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, divulgado na manhã de ontem.
Já o dólar teve leve queda de 0,08%, cotado a R$ 5,638 na venda, sem ter firmado uma direção única nesta sessão. Na máxima do dia, chegou a R$ 5,661; na mínima, a R$ 5,615.
O número de vagas de emprego abertas nos Estados Unidos caiu para 7,7 milhões em julho, segundo o relatório Jolts (pesquisa de vagas de emprego e rotatividade de trabalho, na sigla em inglês) -o primeiro de três dados relevantes sobre o mercado de trabalho norte-americano da semana.
O resultado representa uma queda ante o número revisado de 7,9 milhões em junho e ficou abaixo da expectativa de analistas ouvidos pela agência Bloomberg, de 8,10 milhões de vagas em aberto.
Os números do mercado de trabalho dos EUA têm ditado as apostas sobre o ritmo que o Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) poderá cortar os juros na próxima reunião de política monetária, marcada para os dias 17 e 18 de setembro. A taxa está na faixa de 5,25% e 5,50% desde junho do ano passado, o patamar mais restritivo em duas décadas.
"O mercado de trabalho não está mais esfriando para os níveis pré-pandêmicos: está indo além", afirmou Nick Bunker, chefe de pesquisa econômica do Indeed Hiring Lab. "Ninguém, e certamente nem os formuladores de políticas do Federal Reserve, deveriam querer que o mercado de trabalho esfriasse mais a esta altura."
A dúvida não é mais se o ciclo de afrouxamento monetário terá início no próximo encontro, mas sobre o tamanho da redução: se 0,25 ponto percentual ou 0,50.
O relatório Jolts elevou as apostas de um corte de maior magnitude para conter o resfriamento do mercado de trabalho. Agora, operadores veem 55% de chances para a redução de 0,25 ponto, e 45% de probabilidade para a de 0,50, segundo a ferramenta CME FedWatch.
A grande divulgação da semana, porém, está marcada para sexta-feira, quando serão conhecidos os números do "payroll" (folha de pagamento, em inglês) de agosto. Na quinta-feira, será publicado o relatório do setor privado, produzido pela ADP (Automatic Data Processing). A expectativa é que, com os números em mãos, os agentes financeiros consigam antever a magnitude do corte com mais precisão.
A perspectiva de um corte mais agressivo deu fôlego a ativos de risco nesta quarta. "Com a queda de juros cada vez mais clara e em uma intensidade maior do que se esperava, houve um fluxo de capital estrangeiro entrando nos mercados emergentes", explica Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos.
O resultado do PIB ainda ajudou a direcionar os negócios para o Brasil, com apenas oito das 86 empresas da carteira teórica do Ibovespa no negativo. A economia cresceu 1,4% na comparação com os três meses iniciais de 2024, ante expectativa de 0,9% de analistas consultados pela Bloomberg.
O dado vem em um momento de incertezas em torno das próximas decisões de política monetária do BC (Banco Central) para controlar a inflação.
Para analistas, o resultado pode levar o Copom (Comitê de Política Monetária) a adotar uma postura mais agressiva no próximo encontro, "já que o avanço da atividade tende a subir os preços lá na frente", diz Cristiane Quartaroli, economista do Ouribank.
O comitê trabalha com a meta de inflação em 3%, definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional, órgão ligado ao Ministério da Fazenda) e com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. A taxa básica de juros do país, a Selic, é o principal instrumento do BC para controlar a alta de preços.
Na leitura de agosto do IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15), a inflação desacelerou a 0,19% ante julho. Em 12 meses, a variação marcou 4,35%, próxima ao teto da meta.
A desancoragem de expectativas levou o Copom a uma comunicação mais dura na ata da última reunião, em julho, quando optou por manter a Selic em 10,50% ao ano pela segunda vez consecutiva.
Desde então, dirigentes do BC têm reiterado que uma alta nos juros está à mesa para os próximos encontros, se os dados indicarem que há necessidade de um novo ciclo de aperto monetário.
O resultado do PIB se soma aos números de emprego medidos pela Pnad Contínua, divulgada na sexta-feira pelo IBGE. Em mais um sinal de aquecimento, a taxa de desocupação recuou a 6,8% no segundo trimestre, o menor patamar para o período desde o início da série histórica do indicador, de 2012.
"Visto que o mercado de trabalho brasileiro se mostra mais aquecido do que se imaginava, que a atividade econômica também tem performado melhor do que se antecipava, essa situação deve se somar a um cenário que o Banco Central caracteriza como desconforto", aponta Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.
Apostas de que o BC deve optar por um aperto de 0,25 ponto percentual na próxima reunião, também marcada para 17 e 18 de setembro, têm crescido entre os agentes financeiros. Segundo a agência Reuters, as chances agora são de 76%.
Quanto maiores os juros no Brasil e menores nos Estados Unidos, pior para o dólar, que se torna menos atraente conforme os rendimentos dos títulos ligados ao Tesouro norte-americano, os Treasuries, caem.
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