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Bolsas caem pelo mundo com temor de recessão nos EUA; Japão desaba 12%

Por Folha de São Paulo

05/08/2024 18h15 — em
Economia



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - As Bolsas de Valores ao redor do mundo enfrentaram fortes perdas nesta segunda-feira (5), em dia de nervosismo e volatilidade embalado por temores de uma recessão nos Estados Unidos.

Dados de emprego mais fracos do que o esperado para o mês de julho, divulgados na de sexta-feira, levantaram hipóteses de que a maior economia do mundo está caminhando para um processo de desaceleração acentuado.

A aversão ao risco surgiu nos mercados acionários logo após a divulgação do "payroll" (folha de pagamento, em inglês), ainda sexta-feira. Nesta segunda, foi a vez de investidores japoneses reagirem aos temores, catalisando uma reação em cadeia sentida por Wall Street, praças europeias e o brasileiro Ibovespa.

O índice Nikkei 225 despencou 12,4%, a maior queda desde outubro de 1987, na chamada "black monday" ("segunda-feira negra"), em que a Bolsa de Nova York sofreu a maior queda de sua história. O índice japonês mais amplo, Topix, caiu 12,23%, para 2.227,15 pontos.

Em um momento do pregão, a queda nas ações acionou um mecanismo de "disjuntor" -o circuit breaker-, que interrompeu as negociações para permitir que os agentes financeiros digerissem as grandes flutuações.

O caos no mercado financeiro japonês tinha como pano de fundo também a valorização do iene, após o BoJ, o banco central do país, subir os juros de forma inesperada na semana passada.

"O rápido movimento do iene está pressionando para baixo as ações japonesas, mas também está levando a uma reversão de um grande 'carry trade' -os investidores se alavancaram tomando empréstimos em ienes para comprar outros ativos, principalmente ações de tecnologia dos Estados Unidos", disse Kyle Rodda, analista sênior do mercado financeiro da Capital.com em Melbourne, na Austrália.

"Basicamente, estamos vendo uma desalavancagem em massa, já que os investidores vendem ativos para financiar suas perdas."

O derretimento da Bolsa japonesa criou uma reação em cascata nas demais praças asiáticas, como Coreia do Sul (-8,8%), Taiwan (-8,35%), Singapura (-4,07%) e Índia (-2,6%).

Já na China, as quedas foram menores. O índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas nas Bolsas do país, caiu 1,21%. Em Xangai, a perda foi de 1,54%.

Na Europa, o índice de referência STOXX 600 caiu 2,17%, após tocar a mínima em seis meses. "Não se consegue que o Nikkei caia em seu maior valor em quase 40 anos sem algum tipo de repercussão nos mercados europeus", disse Chris Beauchamp, analista-chefe de mercado do IG Group. "Essas coisas não costumam parar em um instante, leva alguns dias para serem resolvidas."

Já nos Estados Unidos, Dow Jones perdeu 2,60%, S&P 500 recuou 3,0% e Nasdaq, 3,43%.

No Brasil, o dólar fechou em alta de 0,53%, aos R$ 5,739. A moeda chegou a R$ 5,865 na máxima da sessão, mas a disparada arrefeceu após dados do setor de serviços dos EUA diminuírem a percepção de risco dos investidores.

Já a Bolsa brasileira fechou em queda de 0,46%, aos 125.269 pontos, afastada do pior momento da sessão (-2,21%). O Ibovespa foi amparado por fortes ganhos do Bradesco em meio à repercussão do balanço corporativo do segundo trimestre.

O receio de que os EUA possam estar a caminhar para uma recessão fez com que os investidores se afastassem dos ativos de risco.

O "payroll" (folha de pagamento, em inglês) mostrou a criação de 114 mil vagas no mês passado, ante expectativa de 175 mil, e a taxa de desemprego cresceu para 4,3%, quando agentes financeiros esperavam manutenção em 4,1%.

Os novos dados acionaram a chamada Regra de Sahm, que vincula o início de uma recessão ao momento em que a média móvel de três meses da taxa de desemprego sobe pelo menos 0,5 ponto percentual acima da mínima de 12 meses. Em agosto do ano passado, o índice estava em 3,8%, o que coloca a taxa atual exatamente no gatilho.

Muitos agentes do mercado também disseram que o cenário desta segunda-feira foi causado por correção necessária nos mercados, que aparentemente estavam despreocupados com a capacidade da economia americana de suportar um período tão longo de juros mais altos.

"Estávamos em uma situação estranha com um mercado que claramente começou a pensar que a economia dos Estados Unidos nunca iria aterrissar, seja com um pouso forçado ou suave... Em algum momento isso iria dar problema" disse Gilles Moëc, economista-chefe da Axa Investment Managers.

Especialistas consultados pela reportagem atribuem as quedas mais a um nervosismo e especulações por parte de agentes de mercado do que à possibilidade real de uma recessão na maior economia do mundo.

"Acredito que a reação do mercado hoje é exagerada. O mercado sempre exagera para cima ou para baixo, e eu não enxergo a possibilidade de recessão como certa", diz Luiz Rogé, economista, gestor de investimentos e sócio da Matriz Capital Asset.

"O mercado de trabalho e economia como um todo está indo muito bem. O que estamos vendo é o ponto de inflexão no crescimento, ou seja, está crescendo menos. O mercado de trabalho absorveu os empregados apenas em proporção menor do que estava absorvendo, mas ainda está em crescimento. Então considero sim uma reação exagerada em função de uma tentativa de correção nos mercados."

O payroll vem na esteira da manutenção dos juros na taxa de 5,25% e 5,50% pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) na última quarta-feira. A decisão já era amplamente esperada, mas o comunicado que a sucedeu deu fôlego à tese de que a autarquia poderá iniciar o ciclo de afrouxamento monetário já no próximo encontro, em setembro.

Com os novos números, a tese se tornou uma aposta unânime entre os agentes financeiros. E, se antes a dúvida era sobre a possibilidade de corte, agora a discussão é sobre a magnitude.

Alguns dos grandes bancos de Wall Street, como JPMorgan e Citigroup, revisaram as previsões para o ano, antevendo, agora, um corte de 0,50 ponto percentual na taxa de juros na próxima reunião.

"Estou relutante em acreditar que o Fed começaria o processo de flexibilização com um corte de 50 pontos percentuais, mas se as próximas sete semanas forem de dados parecidos com os da semana passada, o Fed deveria ser agressivo", disse Ronald Temple, estrategista-chefe de mercado da assessoria financeira Lazard.


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