Caixa anuncia linha para financiar imóveis acima de R$ 1,5 milhão atrelada ao CDI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em meio à escassez de recursos para financiamento imobiliário, a Caixa vai disponibilizar, a partir da próxima segunda-feira (9), uma nova linha de crédito para financiar imóveis acima de R$ 1,5 milhão. A modalidade terá juros mais altos do que os financiamentos com recursos da poupança.
Batizada de Crédito Imobiliário CDI, a nova linha terá juros anuais calculados a partir de um percentual da média diária do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), índice que acompanha a Selic -hoje, em 11,25% ao ano. Os juros vão partir de 114% do CDI, variando de acordo com o prazo e relacionamento com o banco.
O prazo para pagamento poderá chegar a 360 meses, e as condições serão válidas para imóveis residenciais, tanto novos quanto usados. Inicialmente, no entanto, a linha será destinada ao financiamento de imóveis prontos.
O comprador terá como opção o sistema de amortização SAC (Sistema de Amortização Constante), em que as parcelas vão diminuindo ao longo do tempo, com entrada mínima de 30%. Como a modalidade se enquadra no SFI (Sistema Financeiro Imobiliário), não será possível usar dos recursos do FGTS (fundo de garantia).
Segundo a Caixa, a nova linha vai usar recursos livres do banco, não atrelados à poupança, que sofre com a queda de depósitos.
A modalidade chega depois de o banco, responsável por cerca de 68% do mercado, encarecer a compra de imóveis de até R$ 1,5 milhão pelo SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo).
O endurecimento das regras para a concessão de crédito foi a saída encontrada pela Caixa para enfrentar a alta demanda por empréstimo para a compra de imóvel e as sucessivas perdas da poupança.
Em 2024, a Caixa concedeu, até outubro, R$ 185 bilhões em crédito imobiliário com recursos do SBPE e do FGTS. O valor representa um crescimento de 21% em comparação com o mesmo período de 2023 e corresponde a mais de 680 mil financiamentos para cerca de 2,7 milhões de mutuários.
O banco, porém, acumula R$ 20 bilhões em financiamentos pré-aprovados na fila de espera, ante um saldo de R$ 3 bilhões para serem disponibilizados para este ano.
A falta de recursos está afetando também quem vai comprar imóveis pelo programa habitacional MCMV (Minha Casa, Minha Vida), uma das vitrines sociais do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Como mostrou a Folha de S.Paulo, o banco tem deixado clientes à espera da assinatura de contratos de empréstimos, mesmo com o processo para a concessão de recursos já avançado.
Há mais de um ano, a Caixa demonstra preocupação com uma possível falta de recursos para a concessão de financiamento imobiliário a partir de 2025. O banco tem buscado alternativas, como a captação de recursos por meio de letras de crédito e emissão de títulos no mercado, para suprir a demanda e depender menos da poupança.
O presidente da Caixa, Carlos Vieira, vem defendendo a liberação de uma parcela de 5% dos depósitos compulsórios do Banco Central, afirmando que a medida poderia injetar cerca de R$ 20 bilhões na capacidade da Caixa de financiar a compra da casa própria.
Segundo o diretor de Fiscalização do Banco Central, Ailton de Aquino, a autoridade monetária está discutindo uma nova fonte de recursos para crédito imobiliário, mas as propostas ainda estão na mesa.
Em nota, a Caixa afirma que "estuda constantemente medidas que visam ampliar o atendimento da demanda de financiamentos habitacionais, inclusive participando de discussões junto ao mercado e governo, com o objetivo de buscar novas soluções que permitam expansão do crédito imobiliário no país, não somente pela Caixa, mas também pelos demais agentes do mercado".
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