Dólar cai e Bolsa fecha em alta tímida com dados dos EUA e tensões no Oriente Médio
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar fechou em queda de 0,34% nesta sexta-feira (4), a R$ 5,455, com dados de emprego dos Estados Unidos e tensões no Oriente Médio de pano de fundo.
A moeda chegou a se valorizar em relação ao real pela manhã e bateu R$ 5,52 na máxima da sessão, mas, passada a euforia inicial, oscilou entre os sinais e firmou queda ainda no começo da tarde.
Já a Bolsa, que também teve um pregão volátil, fechou em leve alta de 0,09%, aos 131.791 pontos, com impulso do otimismo em Wall Street.
Na semana, o dólar acumulou valorização de 0,37% e o Ibovespa, queda de 0,71%.
Em dia de agenda esvaziada no Brasil, o mercado se voltou à cena externa -sobretudo ao relatório de emprego dos EUA e aos temores de uma guerra generalizada no Oriente Médio.
Principal divulgação da semana, o "payroll" (folha de pagamento, em inglês) mostrou a abertura de 254 mil vagas em setembro, uma aceleração em relação às 159 mil abertas em agosto. A previsão era de 140 mil postos de trabalho.
Também houve surpresa positiva na taxa de desemprego, que recuou para 4,1%, de 4,2% em agosto.
Assim como os outros relatórios publicados ao longo da semana, o payroll indicou que o mercado de trabalho está, no máximo, passando por um esfriamento gradual e moderado, sem grandes deteriorações.
"O relatório de emprego dos EUA divulgado hoje surpreendeu a todos. Embora os dados divulgados até o momento nesta semana tenham mostrado um mercado de trabalho apertado, não havia garantia de que observaríamos um número tão forte hoje", disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.
A atenção dos operadores ao mercado de trabalho americano acompanha a mudança de foco do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), que baliza as decisões de política monetária a partir dos dados de emprego e de inflação -dinâmica chamada de "mandato duplo" no jargão econômico.
Nos últimos meses, os indicadores inflacionários têm mostrado uma convergência gradual à meta de 2%, ao passo que os números de emprego estavam desacelerado a cada nova leitura. À luz desse movimento, o Fed fez o primeiro corte nos juros em mais de quatro anos na reunião de setembro. A taxa foi reduzida em 0,50 ponto percentual e agora está na faixa de 4,75% e 5%.
A dúvida do mercado, agora, é sobre o ritmo dos próximos cortes. Em discurso na segunda-feira, Jerome Powell, presidente do Fed, disse prever mais duas reduções na taxa de juros, de 0,25 ponto cada, "se a economia tiver o desempenho esperado".
Os dados benignos desta semana -sobretudo o payroll- selaram apostas de que os próximos afrouxamentos serão, de fato, graduais.
"Para a economia, isso significa que está ocorrendo um 'pouso suave'. Continuamos criando emprego em um ritmo acelerado e a taxa de desemprego está caindo", disse Ross Mayfield, estrategista de investimentos da Baird.
A expressão "pouso suave" designa a convergência da inflação à meta sem maiores deteriorações no mercado de trabalho.
"Isso significa que é improvável que o Fed corte em 0,50 ponto percentual em novembro ou dezembro, certamente, e talvez até faça uma pausa em novembro." Com isso, na ferramenta CME FedWatch, a probabilidade de um corte de 0,25 ponto chegou a 99,2%, um raro consenso entre os operadores.
Quanto menores os juros nos EUA, pior para o dólar, que se torna menos atraente conforme os rendimentos dos títulos ligados ao Tesouro norte-americano, os Treasuries, caem.
O movimento, em tese, favorece a moeda americana, por indicar cortes mais graduais. "Mas o grande problema está sendo o Oriente Médio", diz Paloma Lopes, economista da Valor Investimentos.
"As falas de [Joe] Biden estão repercutindo de forma extremamente negativa, o que faz com o que o mercado fique alvoroçado e o dólar entre em uma situação de extrema vulnerabilidade em relação à cena externa."
Desde terça-feira, o mundo -e o mercado financeiro- está em alerta para uma possível guerra generalizada na região. O Irã, em retaliação às ofensivas de Tel Aviv contra a Faixa de Gaza e o Líbano, disparou cerca de 200 mísseis contra Israel, em sinal de escalada do conflito.
O presidente dos Estados Unidos ainda afirmou que está em discussões com Israel sobre possíveis ataques contra instalações petrolíferas iranianas. As cotações do petróleo Brent, referência do mercado externo, dispararam mais de 5% na véspera e estenderam os ganhos a 1% nesta sexta.
Como o Brasil é exportador de petróleo, a alta da commodity no exterior favorece o real ante o dólar.
Há ainda a possibilidade de aumento do diferencial de juros entre o Brasil e os Estados Unidos.
Na análise de André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências internacionais Remessa Online, a perspectiva de cortes menores na taxa americana, somada ao cenário interno, pode levar o BC (Banco Central) brasileiro a "promover uma alta mais contundente na Selic na próxima reunião";
"Um corte menor nos EUA pode abrir caminho para que o Copom (Comitê de Política Monetária) adote um aumento de 0,50 ponto na Selic, também muito amparado por questões técnicas."
A perspectiva de uma Selic mais alta costuma favorecer o real, ainda que penalize o mercado acionário. Isso porque o aumento do diferencial de juros entre Brasil e Estado Unidos atrai investidores da modalidade "carry trade", isto é, quando tomam empréstimos a taxas baixas e aplicam esses recursos em moedas de países de taxas baixas.
Já na cena corporativa, o Ibovespa se beneficiou do otimismo no mercado americano, que avançou com a perspectiva do "pouso suave". O S&P 500 ganhou 0,89%, para 5.750,53 pontos, enquanto a Nasdaq avançou 1,21%, para 18.135,33 ponto, e Dow Jones subiu 0,79%, para 42.342,99 pontos.
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