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Dólar cai e Bolsa sobe após manutenção de juros no Brasil e nos EUA

Por Folha de São Paulo

01/08/2024 12h30 — em
Economia



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar tinha alta nesta quinta-feira (1°), com investidores repercutindo as decisões de juros dos bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos, divulgadas na tarde de ontem.

Por volta das 12h47, a moeda norte-americana avançava 0,67%, cotada a R$ 5,691 na venda, em dia de alta volatilidade. Já a Bolsa avançava 0,40%, aos 128.159 pontos.

A tônica dos mercados desta semana tem sido as decisões de política monetária do BC (Banco Central) e do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA).

Confirmando a expectativa, o Fed manteve a taxa de juros de referência inalterada na faixa de 5,25% e 5,5%. No comunicado, a autarquia abriu espaço para interpretações de que o ciclo de afrouxamento monetário poderá ter início na próxima reunião, marcada para 17 e 18 de setembro, à medida que a inflação continua convergindo à meta de 2%.

Segundo o Fed, os preços agora estão apenas "um pouco elevados", a primeira suavização na linguagem desde que o banco central deu início à batalha contra a inflação, classificada como "elevada" nos últimos comunicados.

A autarquia usa o PCE (índice de preços de gastos com consumo, em inglês) para sua meta de inflação anual de 2%. O índice subiu 2,5% em junho, depois de ultrapassar 7% em 2022.

Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, o comunicado "não foi explícito" em sinalizações sobre futuras reuniões, mas "abriu muito a possibilidade de um corte em setembro, a partir dos dados monitorados pelo Fed".

"Temos um processo de desinflação acelerado, e, ao mesmo tempo, a percepção de que a própria atividade econômica está desacelerando. Se os juros não caírem em setembro, certamente cairão nas outras duas reuniões do ano", afirma.

"A discussão agora é sobre os efeitos da taxa de juros elevada sobre a economia, com riscos de recessão depois do início da queda de juros."

Em coletiva de imprensa após a decisão, o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que o comitê "não tomou decisão nenhuma sobre reuniões futuras". No entanto, acrescentou que, como a autarquia tem ganhado confiança de que as pressões sobre os preços estão mais moderadas, "a economia está se aproximando do ponto em que será apropriado reduzir nossa taxa de juros".

Uma taxa alta nos Estados Unidos, tidos como a economia mais segura do mundo, desestimula investimentos em ativos de risco por puxar os investidores aos títulos ligados ao Tesouro norte-americano, chamados de Treasuries.

Isso significa que, quanto mais o banco central norte-americano cortar os juros, melhor para o real e outras moedas emergentes, além do próprio mercado acionário.

Já o BC, também como esperado, manteve a taxa Selic no patamar de 10,50% ao ano pela segunda vez consecutiva. No comunicado que sucedeu a decisão, porém, o Copom adotou um tom mais duro e enfatizou a necessidade de "maior vigilância" diante das conjunturas doméstica e internacional, que demandam "acompanhamento diligente e ainda maior cautela".

"Os impactos inflacionários decorrentes dos movimentos das variáveis de mercado e das expectativas de inflação, caso esses se mostrem persistentes, corroboram a necessidade de maior vigilância", disse a cúpula do BC em trecho do documento.

O colegiado ressaltou o cenário global incerto e o ambiente doméstico marcado pela resiliência da atividade econômica, pela elevação das suas próprias projeções de inflação e pela piora das expectativas.

Além disso, pontuou que a depreciação do real frente ao dólar e incertezas quanto ao fiscal também são fatores que demandam maior diligência para os próximos meses.

Para Rodolfo Margato, economista da XP, o Copom não alterou o plano de voo e o cenário base continua sendo de manutenção da taxa Selic em 10,50% até o final do ano.

"Mas o comitê reconheceu que o cenário alternativo de elevação da taxa ganhou probabilidade. E, na nossa avaliação, se as expectativas de inflação e câmbio continuarem deterioradas daqui para frente, esse cenário alternativo de elevação de juros irá se materializar", afirma.

É essa também a interpretação dos economistas da Guide Investimentos. Em comentário a clientes, Victor Beyruti e Yuri Alves afirmaram que o atual patamar da Selic "já é contracionista o suficiente para que a inflação convirja à meta no horizonte relevante".

"Ainda assim, apesar de não ter sido explicitada no texto do comunicado, enxergamos que há uma assimetria para cima no balanço de riscos para a inflação, que, caso se sustente, pode pedir um juro ainda mais elevado no próximo ano."

Os especialistas citam no balanço de riscos a possibilidade de o câmbio se consolidar em patamar mais depreciado do que o previsto pelo mercado, a incerteza quanto a cena fiscal brasileira e uma eventual vitória de Donald Trump na corrida eleitoral dos Estados Unidos, que pode consolidar apostas em um juro longo mais alto por mais tempo.

Na cena corporativa, o Ibovespa se mantinha no positivo apesar de recuos da Vale (-1,28%) e da Petrobras (-0,70%), as duas empresas de maior peso no índice.

Destaque para a Ambev, que subia 1% depois de reportar Ebitda ajustado de R$ 5,81 bilhões ao final de junho, 10,2% maior que o resultado do segundo trimestre de 2023.

Rede D'or e Hapvida avançavam 3,93% cada, e Weg subia 1,68%, estendendo os ganhos de mais de 10% da véspera.

Na ponta negativa, Embraer perdia 2,31%, em movimento de realização de lucros após a fabricante de aviões entrar em uma sequência de fortes ganhos na última semana.

Na véspera, o dólar fechou em alta de 0,64%, cotado a R$ 5,653, e a Bolsa avançou 1,20%, aos 127.651 pontos.


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