Dólar e Bolsa oscilam, com foco em eleição dos EUA e força de commodities no exterior
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar apresenta oscilação nesta segunda-feira (21), em dia embalado pela percepção de força da economia dos Estados Unidos e pelas apostas de vitória do republicano Donald Trump nas eleições presidenciais do país.
A decisão de juros da China também reverberava nos mercados, em especial no de commodities.
Às 15h44, a moeda norte-americana não tinha variação e estava cotada a R$ 5,700, distante da máxima de R$ 5,73 atingida no começo da sessão. A Bolsa também oscilava e, no mesmo horário, marcava queda de 0,09%, aos 130.376 pontos.
A semana começa com os investidores atentos à cena dos Estados Unidos, de olho, em especial, nas implicações sobre os juros do Fed (Federal Reserve, o banco central americano).
Nos últimos dias, dados econômicos de consumo e emprego endossaram expectativas de cortes graduais nas próximas decisões de política monetária da autarquia. Na ferramenta CME Fed Watch, uma redução de 0,25 ponto percentual tinha 90,2% de probabilidade, e a manutenção da taxa na banda atual de 4,75% e 5% reunia os 9,8% restantes.
Esse cenário elevava os rendimentos dos Treasuries, os títulos ligados ao Tesouro americano, o que, por sua vez, dava mais atratividade ao dólar no mercado internacional. Nesta sessão, o rendimento do título de dez anos referência global para decisões de investimento subia 2,37% ponto, a 4,179%.
A proximidade das eleições presidenciais dos EUA também se fazia presente nesta sessão. As apostas do mercado em uma vitória do Partido Republicano no início de novembro têm aumentado de forma significativa na plataforma Polymarket, ferramenta utilizada pelos investidores para observar a dinâmica do pleito.
As chances de Donald Trump retornar à Casa Branca eram de 63%, e as de uma vitória da democrata Kamala Harris marcavam 37%.
As apostas também preveem uma "red sweep" (uma "varredura vermelha", em referência ao partido de Trump) em todo o país, com previsões de maioria republicana no Congresso.
A possibilidade de vitória do ex-presidente remetia, nos mercados, às propostas econômicas prometidas por ele. Trump propõe aumentar tarifas entre 10% e 20% sobre praticamente todas as importações dos EUA e em pelo menos 60% sobre as da China.
As propostas de aumento tarifário e corte de impostos são consideradas inflacionárias, o que, na política monetária, significa juros altos por mais tempo algo positivo para o dólar.
"Estamos vendo os holofotes sendo redirecionados para os EUA, onde os mercados temem não apenas o retorno de Trump à Casa Branca, mas também uma vitória em massa do Partido Republicano em todo o Congresso. Esse cenário seria, sem dúvida, o menos favorável para os mercados emergentes", disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.
Os fatores positivos ao dólar eram contrabalançados pelos favoráveis a moedas de países emergentes nesta sessão. Preços de commodities importantes, como o petróleo e o minério de ferro, se recuperavam na esteira de novos anúncios da China.
O banco central chinês cortou as taxas de juros nesta segunda como parte de um pacote de medidas de estímulo para reanimar a economia.
O mercado brasileiro, assim como outros emergentes, tem estado atento ao desenrolar dos planos econômicos da China, principal consumidor de commodities do mundo. O corte de juros deu fôlego ao minério de ferro, que subiu 1,45% na Bolsa de Dalian, enquanto o barril de petróleo Brent avançava mais de 1,70% em Londres.
O Brasil, grande exportador de ambas as matérias-primas, costuma se beneficiar quando as duas se valorizam no exterior, tendo em vista os efeitos positivos sobre a balança comercial do país.
Mas os ruídos fiscais da cena doméstica limitavam os efeitos positivos sobre os ativos brasileiros.
O mercado segue preocupado com a capacidade do governo de equilibrar as contas públicas. Planos de corte de gastos, anunciados na semana passada pela ministra Simone Tebet (Planejamento) e pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda), devem ser detalhados após o segundo turno das eleições presidenciais, em 27 de outubro.
O ajuste nas despesas tem sido defendido pelo mercado desde a elaboração da nova regra fiscal, em vigor desde o início do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Nós estamos muito otimistas que esse pacote terá condições de avançar na mesa do presidente", disse Tebet. As propostas que serão enviadas a Lula, esclareceu, já passaram pelo crivo da equipe econômica.
A pretensão é que ele seja enviado ao Congresso Nacional logo após as eleições, permitindo que algumas das propostas sejam aprovadas ainda neste ano e outras no início de 2025, segundo a ministra.
Os anúncios de medidas que irão compor a revisão, no entanto, só serão feitos quando "o governo estiver todo alinhado em relação aos propósitos", afirmou Haddad.
De acordo com o economista-chefe da Genial Investimentos, José Marcio Camargo, "a falta de indicações sobre quais reformas estão em discussão e quanto será economizado caso o projeto seja aprovado gera mais dúvidas entre os investidores sobre o que será efetivamente enviado ao Congresso".
"Diante do elevado nível de incerteza fiscal, o governo somente consegue captar recursos para financiar a dívida em prazos cada vez menores a custos mais elevados e pressão permanente sobre o real".
Em evento nesta manhã, o presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, defendeu novamente a necessidade de medidas fiscais para baixar a taxa básica de juros do Brasil, a Selic.
Segundo ele, há falta de confiança de parte do mercado nas promessas de ajustes fiscais realizadas pelo governo. Campos Neto também afirmou que a ampla reforma administrativa anunciada pela ala econômica é encarada como positiva.
"Acabei de ler as notícias, não sei se era oficial ou não, mas estavam falando sobre reforma administrativa, havia uma expectativa de que depois das eleições nós veríamos algumas medidas. Isso é muito importante para nós no Banco Central podermos baixar as taxas de forma sustentável", disse.
"Nossa missão é atingir a meta de inflação, e é muito difícil fazer isso quando há uma percepção de que o fiscal não está ancorado."
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