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Dólar fecha em alta apesar de leilões do BC, com pressão da inflação dos EUA; Bolsa cai

Por Folha de São Paulo

30/08/2024 18h00 — em
Economia



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar fechou em alta de 0,18% nesta sexta-feira (30), a R$ 5,632, após os leilões no mercado de câmbio realizados pelo BC (Banco Central).

O dia foi de elevada volatilidade para a moeda norte-americana, que trocou de sinal diversas vezes ao longo da tarde. Na máxima, chegou a R$ 5,691; na mínima, a R$ 5,575.

A última sessão do mês costuma guardar instabilidade para o câmbio por causa da formação da Ptax, uma taxa que serve de referência para a liquidação de contratos futuros. Nesta sexta-feira, em especial, a maioria das moedas globais ainda foi pressionada por dados de inflação dos Estados Unidos.

Já a Bolsa fechou praticamente em estabilidade, com leve queda de 0,03%, aos 136.004 pontos, também em meio à expectativa pelo envio do Orçamento de 2025 ao Congresso Nacional.

O BC realizou dois leilões de dólares nesta sexta. O primeiro foi realizado entre 9h30 e 9h35, no que foi a segunda intervenção do câmbio desde o início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo a autoridade monetária, foi aceita uma proposta no valor total de US$ 1,5 bilhão no mercado à vista.

A medida foi anunciada na noite de quinta-feira, após o dólar fechar em forte alta de 1,18%, a R$ 5,621, e a Bolsa recuar 0,95%, aos 136.041 pontos.

Ao atuar no mercado à vista, a autoridade monetária vende reservas internacionais, sem compromisso de recompra, e o dinheiro é injetado no mercado. O valor foi referenciado à taxa Ptax.

No entanto, o primeiro leilão não foi suficiente para conter a disparada da moeda, que avançou globalmente após os dados de inflação dos EUA medidos pelo PCE, o indicador favorito de inflação do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos).

O índice de preços de despesas de consumo pessoal subiu 0,2% no mês passado, depois de um ganho de 0,1% em junho, segundo o relatório. Os economistas haviam previsto que a inflação PCE aumentaria 0,2%. Nos 12 meses até julho, o índice de preços PCE aumentou 2,5%, igualando o ganho de junho.

"O indicador reforçou a hipótese de que o Fed deve abaixar os juros em 0,25 ponto, e não em 0,50 ponto, na próxima reunião de política monetária, o que fortalece a moeda norte-americana", diz Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank.

O PCE foi divulgado às 9h30, e o primeiro leilão foi encerrado às 9h35. O dólar acelerou alta logo depois, chegando a subir até 1,20% por volta das 10h da manhã.

À tarde, o BC realizou a segunda operação de injeção extra no mercado para conter a disparada. A autoridade monetária vendeu 15.300 contratos de swap cambial tradicional -cerca de US$ 765 milhões- de um total de 30 mil contratos, ou US$ 1,5 bilhão.

A venda de swaps cambiais tem efeito equivalente à negociação de dólares no mercado futuro -o segmento mais líquido no Brasil e, no limite, o que determina as cotações no mercado à vista.

Na prática, os leilões visam estimular a circulação de dólares no país, seguindo a lei da oferta e demanda: quanto mais disponível, menor o preço.

De acordo com Gabriel Meira, especialista em câmbio e sócio da Valor Investimentos, o BC trabalha com dados internos que são desconhecidos para o mercado e pode ter notado um fluxo de compras de dólar fora do comum nesta sexta.

Foi o que disse Roberto Campos Neto, presidente do BC, em evento da XP Investimentos pela manhã. As operações, segundo ele, foram feitas para rebalancear o "fluxo atípico" de dólares por conta de um índice do mercado.

Ele também disse que a autarquia fará mais intervenções no câmbio se necessário, ressaltando que a moeda é flutuante e que as atuações acontecem em momentos de disfuncionalidade no mercado.

A percepção de um afrouxamento gradual pela autoridade dos Estados Unidos tem mexido com os mercados desde quinta-feira, após a divulgação dos dados do PIB (Produto Interno Bruto) anualizado do segundo trimestre.

A economia cresceu 3% no período analisado, superando a estimativa inicial de 2,8% apresentada na primeira leitura preliminar. Economistas consultados pela Reuters previam que não haveria revisão.

O dado acelerou em relação ao 1,4% registrado no primeiro trimestre, afastando ainda mais os temores de que uma desaceleração acentuada estaria em curso na maior economia do mundo.

A leitura é que a economia continua forte e que o mercado de trabalho, apesar de apresentar sinais leves de resfriamento, está mais resiliência do que o especulado no começo do mês. Isso justificaria um corte de menor magnitude, de 0,25 ponto, e não de 0,50 ponto, que traria investidores de volta a ativos de maior risco com mais intensidade.

O dólar se fortaleceu também ante uma série de moedas pares, acompanhando a alta nos rendimentos dos Treasuries, os títulos do Tesouro dos Estados Unidos, que precificaram uma queda mais gradual nos juros por lá.

Internamente, o real ainda foi pressionado pela taxa de desemprego divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) pela manhã.

Em mais um sinal de aquecimento do mercado de trabalho, a taxa de desocupação recuou a 6,8% no trimestre encerrado em julho, o menor patamar para esse período na série histórica da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), iniciada em 2012.

"Os números indicam sobreaquecimento do mercado de trabalho doméstico e alimentam ainda mais os temores de que essa força adicional do emprego possa trazer novas perturbações inflacionárias", diz André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, plataforma de transferências internacionais.

Além disso, o BC também informou que o resultado fiscal do setor público surpreendeu negativamente em julho, com a dívida pública bruta como proporção do PIB subindo a 78,5%, de 77,8% no mês anterior. No mês, o déficit primário foi de R$ 21,348 bilhões, muito maior que a expectativa de R$ 5 bilhões negativos de economistas consultados pela Reuters.

Investidores também esperam o envio do Projeto de Lei Orçamentária Anual de 2025 pelo governo ao Congresso Nacional nesta sexta, de olho no risco fiscal.

"Ainda que o mercado de trabalho e o resultado fiscal do governo consolidado 'exijam', na visão do mercado, novos aumentos de juros, os dados de agosto têm se mostrado relativamente benignos e podem levar o Copom a adotar uma postura mais parcimoniosa e manter a taxa Selic inalterada na próxima reunião, em setembro", diz Galhardo.

No evento da XP, Roberto Campos Neto também endereçou as expectativas sobre a taxa básica de juros do país, o que ajudou a reduzir a pressão sobre os ativos domésticos. Ele disse que, se e quando houver ajuste no ciclo de juros pelo Copom, esse movimento será gradual.


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