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Dólar fecha em R$ 6,06 e interrompe sequência de recordes históricos

Por Folha de São Paulo

03/12/2024 17h45 — em
Economia



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar fechou perto da estabilidade nesta terça-feira (3) e ficou cotado a R$ 6,060, interrompendo uma sequência de disparadas que renovou o recorde histórico nominal por quatro sessões consecutivas.

A sessão foi volátil. A moeda norte-americana oscilou entre os sinais ao longo do período de negociações e chegou a atingir R$ 6,095 na máxima do dia, até fechar em queda de 0,09%. Na mínima, bateu R$ 6,031.

Já a Bolsa subiu 0,67%, aos 126.139 pontos, segundo dados preliminares.

O movimento foi em resposta à divulgação do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro do terceiro trimestre, em meio à cautela generalizada em torno do pacote fiscal do governo instalada desde a semana passada.

Os próximos passos do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) também foram monitorados de perto, e o relatório de empregos Jolts foi destaque na cena internacional.

A economia brasileira avançou 0,9% no terceiro trimestre, na comparação com os três meses imediatamente anteriores, de acordo com dados divulgados nesta manhã pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O resultado veio levemente acima da expectativa. Economistas esperavam alta de 0,8%, conforme a mediana das projeções coletadas pela agência Bloomberg.

O resultado indica resiliência da atividade econômica do país e, segundo analistas, endossa a perspectiva de aperto mais expressivo na taxa básica de juros, a Selic.

Para o último encontro do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) do ano, nas próximas terça (10) e quarta-feira (11), os economistas já projetam um aumento da taxa de 0,75 ponto percentual. Como cenário alternativo, existem até apostas de que o BC terá de elevar os juros em 1 ponto na semana que vem.

A leitura é que, com a economia aquecida e o desemprego em mínimas históricas, os consumidores tendem a gastar mais, o que pressiona a inflação. A taxa Selic é o principal instrumento do BC para controlar a alta de preços.

O objetivo do BC com a Selic é levar a inflação à meta de 3%, com margem de tolerância de 1,50 ponto percentual para cima e para baixo. No resultado de outubro do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), o indicador oficial de inflação do país, os preços avançaram 4,76% no acumulado de 12 meses -acima do teto de 4,50% estipulado pela meta.

"O dólar na casa dos R$ 6 ainda adiciona complexidade ao cenário por encarecer importações e potencializar repasses de inflação ao consumidor", diz Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.

"Um novo aumento da Selic, com a possibilidade de ser até superior a 0,50 ponto percentual, refletirá o esforço do BC em ancorar as expectativas de inflação."

O diretor de Política Monetária e futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo, previu na segunda-feira que pode ser necessário manter os juros altos por mais tempo.

"A economia está mais dinâmica, com desemprego em mínimos históricos e o real desvalorizado. Isso indica a necessidade de uma política monetária mais restritiva por mais tempo", disse, durante evento com investidores promovido pela XP.

No início de novembro, o BC decidiu intensificar o ritmo de alta e elevou a taxa em 0,5 ponto percentual, de 10,75% para 11,25% ao ano. A manutenção de juros num patamar restritivo também já foi criticada por integrantes do governo, incluindo o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Galípolo comentou sobre os efeitos da política fiscal recente, sugerindo que ela pode ter impulsionado o consumo e, consequentemente, a inflação. "Talvez a progressividade da política fiscal tenha colocado mais dinheiro na mão de pessoas com propensão a gastar", analisou. "E isso acabou se revelando num dinamismo superior ao que a gente imaginava."

As medidas de ajuste fiscal propostas pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) têm gerado grande estresse no mercado e levaram o dólar a bater recordes na base nominal -a que desconsidera a inflação- por quatro sessões consecutivas. Na segunda, a moeda fechou em R$ 6,066.

Apresentado na quinta-feira passada, o pacote prevê uma economia de R$ 71,9 bilhões em 2025 e 2026, mas decepcionou os agentes financeiros por excluir ajustes de maior impacto nas contas públicas e por incluir a elevação para até R$ 5.000 na faixa de isenção do IR (Imposto de Renda), tendo como fonte a taxação de quem ganha acima de R$ 50 mil mensais.

A apresentação das duas propostas ao mesmo tempo, em um momento de grande expectativa pelos cortes de gastos, passou a mensagem de que preocupação do governo é mais política do que econômica, o que afetou a segurança sobre os ativos brasileiros.

"O anúncio pouco detalhado acerca do IR se tornou, perante ao mercado, o ponto fraco do pacote, uma vez de R$ 35 bilhões deixarão de ser arrecadados e não se sabe ao certo quais serão os benefícios trazidos à política fiscal brasileira", diz João Duarte, sócio da One Investimentos.

A interpretação geral é de que há uma grande crise de confiança em curso.

"A trajetória incerta da dívida pública e a dificuldade em restaurar a confiança dos investidores aumentam a vulnerabilidade da economia brasileira, pressionando ainda mais o real. Esses fatores internos, combinados com o cenário global, criam um ambiente em que o dólar tende a se valorizar no curto prazo", avalia Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital.

Há ainda a cena internacional na conta do câmbio.

O relatório Jolts (pesquisa de vagas de emprego e rotatividade de mão de obra, na sigla em inglês) mostrou que as vagas de emprego em aberto nos EUA aumentaram para 7,744 milhões em outubro. A estimativa de analistas consultados pela Reuters era de 7,475 milhões.

A expectativa é por pistas sobre a trajetória dos juros americanos, definida pelo Fed. O Jolts antecede o "payroll" (folha de pagamento), que será divulgado na sexta e é a referência de indicador de mercado de trabalho por lá.

Em meio a declarações recentes de membros do Fed, operadores têm firmado apostas em um corte de 0,25 ponto percentual na próxima reunião do banco central dos EUA neste mês. Um discurso do presidente da instituição, Jerome Powell, ainda é esperado para essa semana.

"Estamos ouvindo diferentes autoridades do Fed, algumas dizendo que devemos esperar e fazer uma pausa e outras dizendo que 0,25 ponto é certamente possível", disse Paul Nolte, consultor sênior de patrimônio e estrategista de mercado da Murphy & Sylvest.


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