Dólar inverte sinal e avança, apesar de nova intervenção do BC; Bolsa tem queda firme
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar subia nesta segunda-feira (2), mesmo após um leilão extra realizado pelo BC (Banco Central) mais cedo pela manhã.
Às 11h52, a moeda norte-americana revertia as perdas de mais cedo e avançava 0,22%, cotada a R$ 5,645 na venda. Já a Bolsa brasileira tinha queda firme de 0,96%, aos 134.690 pontos, puxada pelo recuo dos papéis da Vale.
A sessão guarda volatilidade em razão do feriado do Dia do Trabalho nos Estados Unidos, o que tende a reduzir a liquidez.
Com os mercados americanos fechados, o foco dos agentes econômicos se voltava à cena doméstica. O BC realizou um leilão extra de 14.700 contratos de swap cambial entre 9h30 e 9h40 desta manhã, o equivalente a US$ 735 milhões.
No total, foram vendidos 13.000 contratos com vencimento em 5 de março de 2025 e outros 1.700 com vencimento em 1º de agosto de 2025.
Foi a terceira intervenção no câmbio desde sexta-feira, quando a autarquia fez duas vendas para tentar conter a alta do dólar. Na primeira, foi aceita uma única oferta de US$ 1,5 bilhão no mercado à vista.
Nesse tipo de operação, o leilão é de reservas internacionais, sem compromisso de recompra, e o dinheiro é injetado no mercado. O valor foi referenciado à Ptax, taxa que serve de base para a liquidação de contratos futuros.
A intervenção, contudo, não conteve a alta da moeda, pressionada por dados de inflação dos Estados Unidos e cautela diante dos riscos fiscais do país, em dia de envio do PLOA (Projeto de Lei Orçamentária) de 2025 ao Congresso Nacional.
Na segunda atuação, anunciada pouco tempo antes do leilão, foram vendidos 15.300 contratos de swap o equivalente a US$ 765 milhões de um total de 30.000 ofertados (US$ 1,5 bilhão).
A compra de contrato de swap pela autoridade monetária funciona como injeção de dólares no mercado futuro, e quem compra está protegido em caso de desvalorização do real. Trata-se de um instrumento para evitar disfunção no câmbio, assegurando que haja oferta para atender a um aumento de procura pela moeda estrangeira.
O leilão de swap cambial é uma forma de a autoridade monetária dar saída aos investidores, como se abrisse uma porta alternativa em uma festa lotada, exemplificam economistas.
Na prática, os leilões visam estimular a circulação de dólares no país, seguindo a lei da oferta e demanda: quanto mais disponível, menor o preço.
As operações, segundo Roberto Campos Neto, presidente do BC, foram feitas para rebalancear o "fluxo atípico" de compra de dólares.
Assim como aconteceu na sexta-feira, no entanto, o leilão desta sessão não foi capaz de conter a alta do dólar.
No cenário externo, a moeda norte-americana operava sem uma direção única, uma vez que investidores demonstravam maior cautela antes da divulgação de nova bateria de dados econômicos dos Estados Unidos. A liquidez reduzida por causa do feriado do Dia do Trabalho também afetava as negociações.
O índice do dólar que mede o desempenho da moeda frente a uma cesta de seis divisas caía 0,01%.
"No âmbito global, as movimentações serão menos exageradas. Entendo que seja um aquecimento para uma semana de muitas emoções", disse Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
O grande evento na agenda dos investidores será a publicação do relatório de emprego dos EUA na sexta-feira, o chamado "payroll". A expectativa de analistas consultados pela Reuters é de criação de 165.000 postos de trabalho, ante 114.000 no mês anterior.
A divulgação acontece em um momento de grande atenção a qualquer indicativo sobre os próximos passos do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano). As leituras sobre o mercado de trabalho por lá têm ditado apostas sobre o ritmo de cortes nos juros, com a próxima reunião marcada para os dias 17 e 18 de setembro.
"Dados adequadamente fracos são bons para as expectativas de corte do Fed e apetite ao risco, mas dados muito fracos e expectativas de cortes gigantes não dão suporte ao apetite ao risco", afirmou a analista Ipek Ozkardeskaya, do Swissquote Bank, em comentário enviado a clientes.
"Há uma linha muito tênue entre otimismo devido à expectativa de cortes de taxas e caos devido à expectativa de cortes rápidos de taxas ao pensar que o Fed pode ter perdido sua decisão no final do ciclo de aperto, assim como perdeu a virada no início dele", acrescentou.
A percepção de um afrouxamento gradual pela autoridade dos Estados Unidos tem mexido com os mercados. Quanto mais o Fed cortar os juros, melhor para ativos de risco como o real e mercados acionários, que se tornam mais atraentes diante da queda dos rendimentos dos Treasuries, os títulos ligados ao Tesouro dos EUA.
Operadores veem 69% de chances de uma redução de 0,25 ponto percentual nos juros e 31% de probabilidade de um corte maior, de 0,50 ponto, segundo a ferramenta CME FedWatch.
Internamente, os agentes financeiros repercutiam o Projeto de Lei Orçamentária de 2025, detalhado pelo Ministério do Planejamento. A previsão é de alta de R$ 132,2 bilhões das despesas obrigatórias no ano que vem, puxada por um aumento de R$ 71,1 bilhões de gastos com a Previdência Social.
O Orçamento também prevê crescimento de R$ 36,5 bilhões em despesas com pessoal e encargos sociais, R$ 11,3 bilhões em gastos obrigatórios com controle de fluxo, R$ 6,6 bilhões com BPC (Benefício de Prestação Continuada), pago a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda, e mais R$ 6,5 bilhões em abono e seguro-desemprego.
O crescimento das despesas obrigatórias tem pressionado as contas públicas, espremido as despesas discricionárias (de investimento e custeio da máquina administrativa) e colocado em xeque o novo arcabouço fiscal, aprovado no governo Lula (PT).
A pressão da alta das despesas obrigatórias eleva a percepção de risco dos investidores sobre o futuro das contas públicas sem que reformas estruturais sejam feitas.
Na cena corporativa, a Vale puxava a Bolsa para o campo negativo, com queda de 1,61% após desvalorização do minério de ferro na China. Petrobras também operava em baixa, com os papéis ordinários e preferenciais recuando 0,60% e 0,73%, respectivamente.
O primeiro pregão de setembro traz nova composição para o Ibovespa, que irá vigorar até o final do ano, com a entrada das ações de Auren, Caixa Seguridade e Santos Brasil, e saída dos papéis de Dexco e Grupo Soma, totalizando 86 papéis de 83 empresas.
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