Dólar sobe e Bolsa cai com dados de emprego dos EUA e conflitos no Oriente Médio
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar apresenta leve alta nesta sexta-feira (4), com investidores digerindo os dados de emprego dos Estados Unidos medidos pelo "payroll" (folha de pagamento, em inglês).
Às 10h31, a moeda avançava 0,13%, a R$ 5,482, em linha com a valorização no exterior. Já a Bolsa tinha queda de 0,17%, a 131.287 pontos.
Em dia de agenda esvaziada no Brasil, o mercado se voltava à cena externa sobretudo ao relatório de emprego dos EUA e aos temores de uma guerra generalizada no Oriente Médio.
Principal divulgação da semana, o payroll mostrou a abertura de 254 mil vagas em setembro, uma aceleração em relação às 159 mil abertas em agosto. A previsão era de 140 mil postos de trabalho.
Também houve surpresa positiva na taxa de desemprego, que recuou para 4,1%, de 4,2% em agosto.
Assim como os outros relatórios publicados ao longo da semana, o payroll indicou que o mercado de trabalho está, no máximo, passando por um esfriamento gradual e moderado, sem grandes deteriorações.
"O relatório de emprego dos EUA divulgado hoje surpreendeu a todos. Embora os dados divulgados até o momento nesta semana tenham mostrado um mercado de trabalho apertado, não havia garantia de que observaríamos um número tão forte hoje", disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.
A atenção dos operadores ao mercado de trabalho americano acompanha a mudança de foco do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), que baliza as decisões de política monetária a partir dos dados de emprego e de inflação dinâmica chamada de "mandato duplo" no jargão econômico.
Nos últimos meses, os indicadores inflacionários têm mostrado uma convergência gradual à meta de 2%, ao passo que os números de emprego estavam desacelerado a cada nova leitura. À luz desse movimento, o Fed fez o primeiro corte nos juros em mais de quatro anos no dia 18 de setembro. A taxa foi reduzida em 0,50 ponto percentual e agora está na faixa de 4,75% e 5%.
A dúvida do mercado, agora, é sobre o ritmo dos próximos cortes. Em discurso na segunda-feira, Jerome Powell, presidente do Fed, disse prever mais duas reduções na taxa de juros, de 0,25 ponto cada, "se a economia tiver o desempenho esperado".
Os dados benignos desta semana sobretudo o payroll selaram apostas de que os próximos afrouxamentos serão, de fato, graduais. Na ferramenta CME FedWatch, a probabilidade de um corte de 0,25 ponto agora está em 92%, ante 61% de quinta-feira.
Quanto menores os juros nos EUA, pior para o dólar, que se torna menos atraente conforme os rendimentos dos títulos ligados ao Tesouro norte-americano, os Treasuries, caem. Com a perspectiva de cortes mais graduais, a moeda ganhava força no exterior.
No índice DXY, que mede a força do dólar em relação a uma cesta de outras seis divisas pares, a valorização era de 0,52%, a 102,51. Patamares acima de 100 indicam um momento de valorização da moeda americana.
O dólar ainda era amparado pela aversão global ao risco causada pela escalada dos conflitos no Oriente Médio.
Desde terça-feira, o mundo e o mercado financeiro está em alerta para uma possível guerra generalizada na região. O Irã, em retaliação às ofensivas de Tel Aviv contra a Faixa de Gaza e o Líbano, disparou cerca de 200 mísseis contra Israel, em sinal de escalada do conflito.
O presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, disse que ação é "apenas parte da capacidade" do país, instando Israel a "não entrar em confronto com o Irã". Mas a administração de Benjamin Netanyahu já prometeu uma resposta.
Nas finanças globais, episódios bélicos instam investidores a "buscar por ativos mais protegidos, mais seguros", afirma Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos. Isso costuma se traduzir em procura pelo mercado americano, em especial pelo dólar.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ainda afirmou que está em discussões com Israel sobre possíveis ataques contra instalações petrolíferas iranianas. As cotações do petróleo Brent, referência do mercado externo, dispararam mais de 5% na véspera e estendiam os ganhos a 0,75% nesta manhã.
Na cena doméstica, o otimismo com a decisão da Moody's de elevar a nota de crédito do Brasil, de Ba2 para Ba1, se dissipou, e temores com as contas públicas voltaram ao foco dos investidores.
Na terça-feira, a agência de classificação de risco que avalia a capacidade de pagamento de dívidas a partir de uma nota de crédito (ou "rating") deixou o Brasil a um passo do chamado grau de investimento. O patamar significa que um país é considerado seguro, ou seja, com baixos riscos de calote para quem investe em seus títulos de dívida.
Segundo analistas, no entanto, a mudança anunciada pela Moody's não reverteu preocupações dos agentes financeiros locais com o equilíbrio das contas públicas.
"O mercado digeriu bem a questão da Moody's, mas não comprou que melhorou a perspectiva fiscal com esse 'upgrade'. Pelo contrário, ainda muito precisa ser feito na contenção de gastos", disse Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
O desconforto do mercado é com a criação de despesas permanentes, pagas com receitas temporárias.
Para estrategistas do BTG Pactual, o cenário externo é positivo para o Brasil, com queda de juros nos Estados Unidos e um grande pacote de estímulos anunciado pela China na semana passada. Os contínuos desafios fiscais, no entanto, podem impedir o país de "capturar o momento favorável".
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