Dólar tem forte alta e Bolsa despenca mais uma vez com temores sobre tarifas de Trump
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar apresenta forte alta nesta segunda-feira (7) em meio às preocupações envolvendo as tarifas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

A novela do reajuste da tarifa de ônibus em Manaus
Os temores de uma recessão global desencadeada pelo tarifaço pautam as negociações em todo o mundo, e os mercados já refletem mais um dia de forte aversão ao risco.
Às 11h04, o dólar à vista subia 0,92%, a R$ 5,888, depois de ter disparado mais de 3% na sexta-feira. Já a Bolsa tinha mais um dia de forte queda e despencava 1,61%, a 125.203 pontos, contaminada pelo derretimento de outras praças acionárias.
O tarifaço de Trump consolidou a perspectiva de uma guerra comercial ampla na última semana. O presidente impôs tarifas adicionais de importação a todos os parceiros comerciais dos Estados Unidos, partindo de um piso comum de 10% a todos os produtos importados, independentemente da origem.
Além da taxa-base, encargos adicionais de diferentes magnitudes incidem sobre cada país. Para a China, a sobretaxa é de 34%. União Europeia será taxada em 20%, Japão em 24% e Brasil, 10%. Ao todo, 186 economias foram taxadas.
As medidas foram mais agressivas do que o esperado, e Trump não tem dado sinais de que há espaço para negociações bilaterais. Em resposta, a China puxou a fila dos contra-ataques aos Estados Unidos na sexta-feira e anunciou tarifas de retaliação, que entrarão em vigor a partir da próxima quinta, 10 de abril.
A reação nos mercados foi instantânea. Bolsas derreteram pelo segundo dia consecutivo, sob efeito da escalada na guerra comercial e das perspectivas de uma recessão a nível global. As empresas dos índices de Wall Street perderam quase US$ 6 trilhões em valor só na última semana.
No domingo, Trump postou que as tarifas são "coisas lindas de se ver". A jornalistas ele afirmou que "não pode dizer o que acontece com os mercados". O secretário do Tesouro, Scott Bessent, ainda desconsiderou a reação "de curto prazo" dos investidores às tarifas agressivas do presidente, dizendo à NBC que a Casa Branca manteria sua posição.
"Nossos parceiros comerciais têm se aproveitado de nós", disse Bessent no domingo. Questionado sobre a possibilidade de negociar as tarifas de Trump, ele respondeu: "Vamos ver o que [outros] países oferecem e se é algo crível".
Antes de quarta-feira, Trump já havia implementado uma tarifa de 20% sobre produtos chineses, taxas de 25% sobre importações de aço e alumínio e tarifas de 25% sobre mercadorias de México e Canadá que violem as regras de um acordo comercial da América do Norte. Nesta quinta, ainda entrarão em vigor as tarifas sobre os automóveis importados.
As importações para os Estados Unidos enfrentam agora uma tarifa média de 22,5%, acima dos 2,5% do ano passado, de acordo com a Fitch Ratings as barreiras mais altas em mais de um século.
É esperado que o comércio internacional sofra um baque com as tarifas, o que pode afetar o crescimento econômico dos países mais afetados. "Não sabemos o impacto total, mas sabemos que será negativo para o crescimento econômico global", afirma Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX.
Segundo análises do banco JPMorgan, o tarifaço elevou os riscos de uma recessão global e dos Estados Unidos de 40% para 60% em apenas uma semana.
No caso dos norte-americanos, o choque tarifário também afeta a cadeia produtiva doméstica, "antes globalizada e dependente das importações de outros países", diz Mattos.
"A possibilidade de uma recessão vem junto de um aumento simultâneo da inflação, visto que as tarifas provavelmente vão significar produtos importados mais caros e pressão nos preços."
O presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), Jerome Powell, endereçou esses temores em falas nesta sexta. Ele afirmou que as novas tarifas são "maiores do que o esperado" e as consequências econômicas, incluindo inflação mais alta e crescimento mais lento, provavelmente também serão.
Para os mercados, a retaliação chinesa na sexta-feira concretizou a guerra comercial. A expectativa, agora, é que outras economias afetadas anunciem suas próprias represálias.
O primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, anunciou na quinta um conjunto limitado de medidas de combate às tarifas dos Estados Unidos e chamou o tarifaço de "tragédia" para o comércio global. No Japão, o primeiro-ministro Shigeru Ishiba disse que as tarifas criaram uma "crise nacional". Na Europa, um pacote de retaliações está em discussão em Bruxelas.
"[A reação da China] é significativa e indica que é improvável que a guerra de tarifas tenha acabado. Daí a reação no mercado. Os investidores estão com medo de uma situação de guerra comercial do tipo 'olho por olho'", diz Stephane Ekolo, estrategista de mercado e ações da Tradition.

ASSUNTOS: Economia