Dólar tem forte queda e vai a R$ 6,04, com baixa liquidez por mercados fechados nos EUA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar fechou em forte queda de 1,10% nesta quinta-feira (9), cotado a R$ 6,042 -menor valor desde 20 de dezembro, quando encerrou a R$ 6,071.
Já a Bolsa subiu 0,13%, aos 119.780 pontos, embalada por notícias de uma possível fusão da Gol com a Azul.
O dia foi de liquidez reduzida, uma vez que os mercados dos Estados Unidos permaneceram fechados por causa do funeral do ex-presidente Jimmy Carter. Trata-se de uma tradição norte-americana de longa data, na qual as operações financeiras são interrompidas após o falecimento de um ex-mandatário.
Os ativos foram afetados por um leilão de títulos pré-fixados realizado pelo Tesouro Nacional nesta sessão.
Quase todos os papéis ofertados foram vendidos. O lote incluiu 2,5 milhões de NTN-Fs, títulos prefixados de longo prazo que costumam atrair investidores estrangeiros.
"Teve uma demanda melhor do que a esperada, e isso fez com que os juros futuros recuassem nesta sessão. O alívio também apareceu no câmbio, demonstrando um fluxo cambial direcionado para o Brasil", diz Wagner Varejão, economista da Valor Investimentos.
O volume vendido não costuma alterar tanto a dinâmica do mercado em dias usuais. Como a sessão foi de baixa liquidez por conta do feriado de luto oficial nos EUA, o efeito foi mais expressivo.
Fora o leilão, a quinta-feira foi de agenda esvaziada, "sem um gatilho específico", diz Rodrigo Ashikawa, economista da Principal Claritas.
O foco, então, foi direcionado às duas grandes pautas do início do ano: o novo governo de Donald Trump nos EUA e os juros do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano). O republicano toma posse no dia 20 de janeiro, e a expectativa é sobre qual será a política tarifária da maior economia do mundo.
Na segunda-feira, uma reportagem do The Washigton Post indicou que assessores do presidente eleito estavam considerando taxar apenas importações de setores críticos para o país. A notícia, um recuo da abordagem mais agressiva prometida por Trump durante a campanha eleitoral, inspirou apetite por ativos de maior risco no mercado e causou a queda do dólar por duas sessões consecutivas.
Mas Trump logo refutou a publicação e, na quarta, a CNN informou que o republicano estaria estudando declarar emergência econômica nacional para ter uma justificativa legal na imposição de tarifas sobre aliados e adversários. O rumor fez a moeda norte-americana apresentar ganhos firmes em relação às demais divisas globais.
Enquanto ainda era candidato, Trump prometeu aplicar tarifas de 10% sobre as importações globais, além de outras de 60% para chinesas e de 25% para canadenses e mexicanas. Segundo especialistas em comércio, as medidas afetariam os fluxos comerciais, aumentariam os custos e provocariam retaliações.
Internamente, nos Estados Unidos, as tarifas ainda têm potencial inflacionário -comprometendo a briga do Fed contra a inflação, em curso desde 2020.
Um repique nos índices de inflação podem forçar a autoridade monetária a manter os juros altos por mais tempo. A taxa está na banda de 4,25% e 4,50%, depois de três cortes em 2024 que somaram 1 ponto percentual de afrouxamento.
Quanto mais altos os juros nos EUA, melhor para o dólar, que se torna mais atrativo aos investidores à medida que os rendimentos dos treasuries, os títulos ligados ao Tesouro norte-americano, crescem.
O Fed, na última reunião de política monetária, em dezembro, sinalizou a possibilidade de uma interrupção no ciclo de cortes. As autoridades disseram "esperar que a inflação continue a se mover em direção a 2%", embora tenham ponderado que "os efeitos de possíveis mudanças na política comercial e de imigração [de Trump] sugerem que o processo possa levar mais tempo do que o previsto anteriormente".
"Vários observaram que o processo desinflacionário pode ter estagnado temporariamente ou observaram o risco de que isso possa acontecer."
Agora, a expectativa majoritária é que o Fed mantenha os juros inalterados na reunião do final deste mês, com apenas 7% das apostas da ferramenta CME Fed Watch prevendo um novo corte de 0,25 ponto.
Para calibrar as projeções, o mercado tem estado atento aos dados macroeconômicos dos EUA. Na sexta-feira, será divulgado o relatório de emprego para dezembro.
"Existe preocupação em relação ao mercado de trabalho, que segue aquecido, com a inflação, que retornou, mas desacelerou a queda, e também sobre as políticas do governo Trump em relação às tarifas", disse Marcos Weigt, head de Tesouraria do Travelex Bank.
Já na ponta doméstica, o foco segue sendo a política fiscal do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O pacote de contenção de gastos proposto pela ala econômica do governo foi aprovado pelo Congresso no último dia útil de plenário, 20 de dezembro. As medidas, porém, foram desidratadas, e, segundo cálculos iniciais, a previsão é que até R$ 20 bilhões da conta original, de R$ 70 bilhões, deixem de ser poupados nos próximos dois anos.
O mercado já cobra por mais ajustes fiscais, e o ministro Fernando Haddad (Fazenda) afirmou que há espaço para outras contenções.
Em entrevista na terça, o chefe da Fazenda disse que o déficit primário ficará em 0,1% do PIB em 2024. O dado oficial do resultado primário do ano ainda não foi divulgado.
Se confirmado, o governo terá cumprido a meta fiscal de 2024, que prevê déficit zero, com tolerância de 0,25 ponto percentual do PIB para mais ou para menos.
"Depois de dez anos de desajuste, estamos fazendo um ajuste estrutural", disse.
"Se o plano traçado pelo Ministério da Fazenda for a termo, chegar ao final do jeito que nós planejamos, nós vamos chegar com economia muito mais arrumada, mas muito mais arrumada, do que nós herdamos."
Já na ponta corporativa, as ações da companhia aérea Azul eram destaque positivo, em meio a notícias sobre uma possível fusão com a rival Gol.
Os papéis subiram 0,95%, depois de terem avançado mais de 7% no início da sessão. Segundo reportagem do Valor Econômico, a companhia aérea deve assinar com a Abra, controladora da Gol, um memorando de entendimento nas próximas semanas para discutir uma eventual fusão dos negócios.
Gol, em recuperação judicial e fora do Ibovespa, dispararam 9,03%.
ASSUNTOS: Economia