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Dólar tem maior alta do ano e Bolsa interrompe sequência de recordes com EUA e BC em foco

Por Folha de São Paulo

22/08/2024 17h30 — em
Economia



SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - O dólar fechou em forte alta de 1,97% nesta quinta-feira (22), aos R$ 5,589, com investidores avaliando a trajetória dos juros e dos dados econômicos dos Estados Unidos.

Essa foi a maior variação diária na cotação da moeda desde 19 de abril de 2023, quando subiu 2,21%. O avanço ocorreu em linha com o exterior e, na cena doméstica, também foi embalado por ruídos na comunicação de dirigentes do BC (Banco Central).

Já a Bolsa interrompeu a sequência de altas e caiu 0,95%, aos 135.173 pontos, em dia de realização de lucros após o Ibovespa renovar recordes por três pregões consecutivos.

A tônica dos mercados seguiu sendo o estado da economia e a política monetária dos Estados Unidos.

"A aversão ao risco no câmbio veio do cenário externo, com alguns indicadores de atividade econômica dos Estados Unidos trazendo cautela para o mercado", diz Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank.

Em relatório divulgado nesta quinta, os pedidos de auxílio desemprego aceleraram para 232 mil na semana encerrada em 17 de agosto, ante expectativa de 230 mil de analistas consultados pela Reuters. Na leitura semanal anterior, haviam sido 228 mil pedidos.

O resultado reforça a percepção de resfriamento do mercado de trabalho, após uma revisão na véspera mostrar que os Estados Unidos criaram 818 mil empregos a menos do que o divulgado anteriormente nos 12 meses até março.

Além disso, o setor empresarial desacelerou para uma mínima de quatro meses em agosto, e as empresas continuaram a ter dificuldades em repassar preços mais altos para os consumidores, segundo informações do PMI (índice de gerentes de compras, na sigla em inglês) da S&P Global.

O indicador ficou em 54,1, um pouco abaixo da leitura final de 54,3 em julho, mas ainda acima de 50, o que representa expansão. O número reforça a probabilidade de que a inflação permaneça em uma tendência de queda nos próximos meses.

O Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) trabalha com um mandato duplo, isto é, observa de perto dados de inflação e do mercado de trabalho. O objetivo é atingir o chamado "pouso suave", no qual o índice inflacionário converge para a meta sem maiores danos à empregabilidade do país.

A meta de inflação é de 2%, e, nas últimas leituras, os indicadores têm mostrado uma desaceleração na alta de preços. Temores em relação aos números de desemprego, no entanto, têm criado uma ansiedade adicional sobre o início do ciclo de afrouxamento monetário americano.

Com o arrefecimento da inflação, "o mercado de trabalho tem sido, nas últimas semanas, o principal vetor para os próximos passos do Fed na condução da política monetária", afirma André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, plataforma de transferências internacionais.

A autoridade monetária divulgou, na quarta-feira, a ata da reunião de julho, cuja resolução foi por manter a taxa de juros inalterada na faixa de 5,25% e 5,50%.

A minuta indicou que a grande maioria dos diretores de Política Monetária está inclinada a um corte na taxa a partir do encontro de setembro "se os dados permanecerem dentro do esperado". Vários deles, aliás, se mostraram dispostos a um corte na própria reunião passada.

O foco, agora, está no encontro de autoridades de bancos centrais em Jackson Hole, no estado de Wyoming, que começa nesta quinta e vai até sábado. Jerome Powell, presidente do Fed, discursa na sexta-feira. A expectativa é que ele faça indicações sobre os planos do banco central para a reunião do mês que vem.

Os operadores financeiros dão como certo que a flexibilização terá início no próximo encontro. Agora, 72% dos investidores apostam em um corte de 0,25 ponto percentual, enquanto os 28% restantes vêem probabilidade de uma redução maior, de 0,50 ponto, segundo a ferramenta CME FedWatch.

As apostas em um afrouxamento mais gradual fez os rendimentos dos Treasuries, os títulos ligados ao Tesouro americano, subirem. Quanto mais crescem, melhor para o dólar, que se torna comparativamente mais atraente do que ativos de maior risco, prejudicando o apetite por moedas de países emergentes, incluindo o Brasil.

A valorização do dólar aconteceu globalmente. O índice DXY, que compara a moeda americana em relação a uma cesta de outras divisas fortes, avançou 0,4%. Em relação às emergentes, somente a lira turca e o rublo russo subiram.

A procura por ativos mais seguros também tirou o apetite por investimentos na Bolsa brasileira, em meio, também, à realização de lucros após o Ibovespa renovar recordes históricos por três pregões seguidos. Na quarta, chegou a primeira vez ao patamar de 137 mil pontos durante o período de negociações.

"O fato é que a sequência de altas recentes das duas últimas semanas pressiona os investidores de curto prazo a proteger os ganhos, e isso tem amarrado os demais índices em torno de resistências, deixando ainda uma possibilidade de realização de lucros", disseram analistas do Itaú BBA.

Somado a isso, a disparada do dólar e os freios na Bolsa tiveram pé nos próximos passos do BC (Banco Central) quanto à taxa Selic. Nos últimos dias, a avaliação de que os juros irão subir pelo menos 0,25 ponto percentual na próxima reunião, também em setembro, tem ganhado força entre agentes financeiros.

O motivo recai em falas mais duras de membros do BC, em especial Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária e favorito à presidência da autarquia ao término do mandato de Roberto Campos Neto.

A leitura é que os dirigentes estão preparando o terreno para um novo aperto na Selic, ainda que eles reforcem que as decisões do Copom (Comitê de Política Monetária) serão baseadas em dados.

Galípolo, porém, disse discordar "respeitosamente" das interpretações do mercado sobre o BC ter ficado em uma "situação difícil" por causa de seus discursos recentes.

Ao mesmo tempo, reforçou as falas das últimas semanas: "Inflação fora da meta é situação desconfortável, e ter que subir juros é situação cotidiana para quem está no BC", disse em evento na Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores).

Os ruídos na comunicação do BC, na análise de Galhardo, do Remessa Online, amparavam a desvalorização do real nesta sessão, em meio à cautela do exterior antes de mais sinais sobre os juros dos EUA.

"Depois de ter assumido um discurso mais conservador ao longo dos últimos dias, Galípolo procurou diminuir o tom, reforçando que suas falas recentes não representavam uma antecipação dos próximos movimentos do Copom", explica. Essa moderação no discurso movimentou o câmbio, já sensível aos dados dos EUA.

Na quarta-feira, o dólar fechou em leve queda de 0,08%, a R$ 5,481, e a Bolsa brasileira renovou o recorde histórico pelo terceiro pregão consecutivo, com alta 0,28%, aos 136.463 pontos.


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