Dólar tem nova disparada em reação a pacote fiscal do governo e ameaças de Trump ao Brics
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar apresenta forte alta nesta segunda-feira (2), com o pacote de ajuste fiscal do governo e a proposta de aumento da faixa de isenção do IR (Imposto de Renda) ainda repercutindo no mercado.
Investidores ainda avaliam as novas ameaças tarifárias do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que podem instalar uma guerra comercial nos próximos anos. No sábado, ele ameaçou impor taxas de 100% ao Brics, caso o bloco crie uma nova moeda ou apoie outra divisa que não seja o dólar.
Às 14h08, a moeda norte-americana disparava 1,19% e estava cotada a R$ 6,074, estendendo ganhos após fechar em R$ 6 pela primeira vez na história na sexta-feira. Já a Bolsa caía 0,20%, aos 125.405 pontos.
As medidas apresentadas pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na semana passada seguem pautando o mercado doméstico.
Anunciado na quinta, o pacote que prevê uma economia de R$ 71,9 bilhões em 2025 e 2026 decepcionou os agentes financeiros por excluir medidas de maior impacto fiscal e incluir a elevação para até R$ 5.000 na faixa de isenção de Imposto de Renda, tendo como fonte a taxação de quem ganha acima de R$ 50 mil mensais.
A Fazenda estima que o aumento da faixa de isenção terá um impacto de cerca de R$ 35 bilhões na arrecadação federal. Isso será compensado, ainda segundo o ministro, por uma alíquota mínima de 10% no IR para quem ganha mais de R$ 50 mil por mês, o equivalente a R$ 600 mil por ano proposta conhecida como "taxação dos super-ricos".
Além disso, o governo terminará com a isenção para aposentados que tenham problemas de saúde graves e recebam acima de R$ 20 mil ao mês, "entre outros ajustes".
De acordo com Haddad, a reforma sobre o IR não fará efeito no fiscal e tem como objetivo assegurar a justiça tributária. Mas a matemática não convenceu totalmente o mercado, que ainda espera mais detalhes sobre como a conta será paga.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, o economista e ex-secretário de Política Econômica no governo Lula 1, Marcos Lisboa, apresentou um diagnóstico: o investidor está desistindo do Brasil.
Para ele, houve um autoboicote do governo com um pacote tímido, medidas mal desenhadas e impacto marginal sobre o crescimento das despesas da Previdência Social, em um momento em que a grande aposta do mercado era em propostas que garantissem a solidez fiscal de longo prazo do país.
Entre os investidores, a apresentação do pacote de contenção de gastos junto da proposta de reforma do IR também não agradou. Ficou a percepção de que a preocupação é mais política do que econômica, o que afetou a confiança do mercado nos ativos brasileiros.
Na sexta, os líderes do Congresso Nacional tentaram colocar panos quentes.
Os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e Arthur Lira (PP-AL), respectivamente, disseram que a proposta da isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5.000 não deve avançar em um futuro próximo e só vai passar se houver garantia de estabilidade fiscal.
As falas apaziguaram parte dos ânimos do mercado, e o dólar atingiu a mínima de R$ 5,955 na sequência. O alívio, porém, não se sustentou por muito tempo, e a moeda logo voltou a subir.
Ao longo de novembro, a divisa avançou 3,62%, e, na semana, 3,25%. No acumulado do ano, a valorização é de 23,46%, segundo a plataforma CMA.
"É difícil prever até onde o dólar pode chegar, especialmente porque, na minha avaliação, estamos diante de uma resposta desproporcional do mercado em resposta às ações do governo. Em algum momento, devemos observar um ajuste", disse André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências internacionais Remessa Online.
Na análise de Daniel Teles, especialista da Valor Investimentos, a incerteza perdura, também, pela percepção de que a situação fiscal se tornou política.
"Com a sinalização de que o pacote ainda vai passar por ajustes no Congresso, foi adicionada uma pitada a mais de preocupação. Agora, qualquer fala de autoridade ou decisão do Congresso vai pesar no câmbio, já que o investidor está esperando uma definição mais clara."
O governo estava pressionado para apresentar medidas que garantissem o equilíbrio das contas públicas.
Na leitura do mercado, gastos crescentes estavam sendo cobertos com receitas pontuais, chamadas de "arrecadações extraordinárias". A pressão era para diminuir as despesas, e não só achar mais fontes de arrecadação, para que a dívida pública se tornasse mais sustentável.
O pacote de cortes de gastos endereça essa insegurança sobre a dívida pública.
Entre as medidas anunciadas, estão: revisão da regra de concessão do abono salarial; regulamentação dos supersalários; aperto nas regras de acesso ao BPC (Benefício de Prestação Continuada); mudanças nas aposentadorias de militares; e limite do crescimento de emendas parlamentares às regras do arcabouço fiscal. Leia a íntegra aqui.
Já na cena internacional, o futuro governo de Donald Trump é destaque.
No sábado, o republicano exigiu que os países membros do Brics se comprometam a não criar uma nova moeda ou apoiar outra divisa que substitua o dólar, sob pena de sofrerem tarifas de 100%.
"Exigimos que esses países se comprometam a não criar uma nova moeda do Brics nem apoiar qualquer outra moeda que substitua o poderoso dólar americano, caso contrário, eles sofrerão 100% de tarifas e deverão dizer adeus às vendas para a maravilhosa economia norte-americana", escreveu em sua plataforma de mídia social, Truth Social.
A leitura é que Trump tem preparado o terreno para o aumento de tarifas e deportações no início do governo, levantando temores de uma guerra comercial ampla.
Desde janeiro deste ano, o grupo Brics tem dez membros plenos. Além de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o bloco teve a inclusão como membros permanentes do Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos.
Na semana passada, Trump ainda disse que vai impor tarifas de 25% sobre produtos do México e do Canadá no seu primeiro dia de governo se os países não resolverem problemas ligados a imigração e tráfico de drogas na fronteira. O presidente eleito também prometeu aumentar em 10% as taxas aplicadas à China.
Com Reuters
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