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Em dia de Copom, dólar despenca para R$ 5,97 com notícia de procedimento médico de Lula

Por Folha de São Paulo

11/12/2024 18h00 — em
Economia



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar fechou em forte queda nesta quarta-feira (11) e voltou patamar de R$ 5 pela primeira vez desde 28 de novembro. A moeda americana terminou o dia cotada a R$ 5,970.

Segundo analistas de mercado, a reação repentina, já no fim do pregão, foi atribuída ao novo procedimento médico pelo qual passará o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A informação sobre o tratamento de Lula foi adiantada pela colunista da Folha Mônica Bergamo.

O petista passará por uma nova intervenção para interromper o fluxo de sangue em uma região de seu cérebro para impedir novos sangramentos como o que ele sofreu nesta semana. O procedimento está agendado para esta quinta (12).

A moeda norte-americana já estava em retração, cotada a R$ 6,014, com a expectativa de que o Copom (Comitê de Política Monetária) vai subir os juros nesta quarta-feira. A notícia sobre Lula foi veiculada às 16h27, e a divisa imediatamente aprofundou a queda para 2%, atingindo a mínima de R$ 5,950, às 16h35.

"Não há nada aparente no mercado além disso. Os eventos de mais cedo, como inflação americana e dados de serviço, ocorreram de manhã e não têm o potencial de impacto visto agora", diz André Galhardo, consultor econômico do Remessa Online.

É a mesma interpretação de Vanei Nagem, sócio-diretor da Pronto Invest.

"Não há outra explicação para este movimento, mesmo com [a reunião do] Copom hoje. O mercado começa a especular que o pacote de corte de gastos pode ser aprovado com o Lula afastado. Se o Alckmin fica no lugar dele, fica mais fácil de liberar esse pacote. Além disso, se discute quanto tempo o vice ficaria na presidência", diz Nagem.

O especialista não tinha notícia de que alguma informação sobre a reunião do colegiado do Banco Central tenha vazado ao mercado, a ponto de influenciar a moeda americana.

Segundo analistas, esse movimento é chamado de automático, como um reflexo praticamente automático dos negociadores com o dólar a um patamar elevado (ontem, a moeda fechou a R$ 6,04).

Nestes casos, não há uma estratégia clara, e o dólar pode voltar a subir novamente nesta quinta-feira. A informação teria sido um gatilho para a realização de lucros após a recente alta de 4% do dólar desde o fim de novembro.

Com isso, o real teve o melhor desempenho em relação às principais moedas do mundo nesta sessão.

"O sentimento é de maior otimismo com a aprovação das medidas de cortes de gastos, enquanto o mercado monitora a situação de saúde do presidente Lula, além da antecipação pela decisão sobre a taxa Selic ainda hoje", diz Paula Zobi, gerente de Research e head de conteúdo da Nomad.

A reação também apareceu na Bolsa, que subiu mais de 2% na esteira da notícia. Ao fim do pregão, a Ibovespa fechou em alta de 1,06%, aos 129.593 pontos.

"Essa notícia de um complemento na cirurgia na cabeça do Lula faz total sentido trazer essa valorização para o real. Até porque hoje sabemos que haverá alta de juros no Brasil. É uma questão de ter uma outra linha de raciocínio tocando o país. A responsabilidade fiscal fica mais de um lado do que do outro. Isso é visto com bons lhos pelos investidores estrangeiros", disse Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.

Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, também credita o movimento a dois fatores. O primeiro seria de ajuste técnico, de correção da moeda após disparadas "sem grandes motivos econômicos, somente baseado nas questões fiscais que já estão sendo endereçadas".

O segundo seria uma antecipação do resultado da reunião do Copom, que será anunciado às 18h30 desta quarta.

"O mercado espera uma alta entre 0,75 e 1 ponto percentual, Um aumento desse porte acaba favorecendo o nosso diferencial de juros, o que implica em um aumento de fluxo para o Brasil."

A maioria das apostas (69%) aponta para o movimento de maior magnitude. Na reunião anterior, em novembro, a taxa foi elevada em 0,50 ponto, para os atuais 11,25% ao ano.

As previsões sobre o ritmo de aperto derivam da desancoragem de expectativas de inflação, que, na leitura divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na terça, veio acima do teto da meta trabalhada pelo BC.

O IPCA (Í ndice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial da inflação brasileira, desacelerou a 0,39% em novembro, mas teve avanço de 4,87% no acumulado de 12 meses, ante 4,76% em outubro.

A meta é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. Com o teto de 4,5% ultrapassado, espera-se que o BC seja mais contundente no aperto da Selic -o principal instrumento da autarquia para controlar a inflação.

"Esse dado do IPCA e a sua composição particularmente ruim devem reforçar as expectativas de que o Copom vai adotar uma postura mais rígida na decisão", disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

Em paralelo, a atenção também esteve na tramitação das medidas de contenção de gastos do governo no Congresso Nacional, com o Executivo empenhado em aprová-las ainda neste ano.

O governo publicou na terça uma portaria detalhando procedimentos e prazos para a liberação de emendas parlamentares, instrumento no centro do mal-estar entre o Executivo e o Legislativo.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse que vai trabalhar por um consenso para que as medidas do pacote fiscal possam ser votadas ainda nesta semana.

Mas, mesmo com a portaria que libera o pagamento de emendas, lideranças parlamentares ouvidas pela reportagem admitem que a chance de votação do pacote diminuiu diante da avaliação de que há temas espinhosos entre as medidas que demandam mais tempo de discussão. Entre os descontentes, a própria bancada do PT.

Já na ponta internacional, o foco foi o CPI (índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês) dos Estados Unidos -o último grande dado macroeconômico antes da reunião do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) da semana que vem.

O indicador subiu 0,3% em novembro, depois de marcar 0,2% nas quatro leituras anteriores. Foi a maior alta mensal desde abril, quando também variou 0,3%. No acumulado de 12 meses, avançou 2,7%, ante 2,6% em outubro.

O resultado veio exatamente em linha com as expectativas de economistas consultados pela Reuters.

Os dados consolidaram expectativas de que um corte de 0,25 ponto percentual ocorra na reunião do Fed da semana que vem, entre os dias 17 e 18 de dezembro. A probabilidade de uma redução nessa magnitude agora marca 95% na ferramenta FedWatch do CME Group, enquanto os 5% restantes apostam em uma manutenção do atual patamar de 4,50% e 4,75%.


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