Em Paris, empresários brasileiros dizem temer efeitos da seca, juros e fiscal
PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) - Em Paris para um almoço no Palácio do Eliseu com o presidente Emmanuel Macron, empresários brasileiros elogiaram o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mas expressaram preocupação com a conjuntura econômica, marcada pela seca e dúvidas em relação à evolução da taxa de juros e ao cumprimento do arcabouço fiscal.
O encontro de Macron com um grupo de 35 empresários, nesta quinta-feira (12), foi organizado pelo grupo Lide, do ex-governador de São Paulo João Doria, para promover investimentos recíprocos entre Brasil e França. Macron esteve no Brasil em março e retorna ao país em novembro, para a cúpula do G20, e em 2025, para a COP 30, em Belém.
O empresário Luiz Fernando Furlan, um dos dirigentes do Lide, disse não acreditar que ocorra aumento da taxa de juros, hoje em 10,50% ao ano, na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, prevista para a semana que vem.
"Eu sou sempre um otimista realista. Então acredito que não vai haver aumento de juros. Acho que seria uma sinalização equivocada", avaliou.
Para Furlan, a atual seca no país preocupa mais pela queda do nível dos rios da Bacia Amazônica, prejudicando o escoamento de matérias-primas. Mas ele lembrou que, em maio, previa-se um impacto maior das enchentes no Rio Grande do Sul sobre a inflação. "O Brasil é um país muito grande, e uma região acaba suprindo a lacuna da outra."
Ele elogiou a aprovação na noite desta quarta-feira (11), pela Câmara dos Deputados, do texto-base do projeto de lei que mantém em 2024 a desoneração da folha para empresas de 17 setores da economia (entre eles o de comunicação, no qual se insere o Grupo Folha, empresa que edita a Folha de S.Paulo) e de prefeituras com até 156 mil habitantes.
"A desoneração da folha pelos setores que mais empregam é praticamente unanimidade. Só algumas fontes do Ministério da Fazenda são contra. Se perguntar na rua, ou para os políticos, ou para os empresários, todo mundo aprova", afirmou Furlan.
Para Alexandre Birman, do grupo Azzaz, a situação do país é "extremamente volátil, instável, incerta". "Faz com que qualquer orçamento fique sem base, você vai orçar o ano que começa com quais indicadores?", questionou. Birman criticou o que chamou de "criação contínua de medidas provisórias na calada da noite para aumentar a arrecadação 'right away' [de imediato]".
Os empresários, porém, fizeram questão de elogiar o ministro da Fazenda. "Tem feito o que pode", disse Birman. "Tem o bom senso, o equilíbrio, não deve ser fácil estar na posição dele. Agradar gregos e troianos deve ser difícil, e ele está lutando."
"Sou admirador da evolução que ele fez politicamente de lidar com esses temas tão sensíveis", disse Furlan, que entre 2005 e 2007 foi colega de Haddad no gabinete Lula 1 ele como ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e Haddad na pasta da Educação. "Tem sido uma palavra de tranquilização por parte do governo. Tem muita gente que fala bobagem e ele tem mantido uma parcimônia e um diálogo que são realmente muito bons para o setor privado", acrescentou.
No almoço com Macron, os empresários usaram pulseiras fabricadas por comunidades indígenas brasileiras, confeccionadas a pedido de Alexandre Allard, empresário francês criador do megaprojeto imobiliário Cidade Matarazzo, em São Paulo.
Allard disse à Folha que a nomeação de Michel Barnier como novo primeiro-ministro francês, na semana passada, pode fazer andar o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul. A negociação do acordo recuou desde o ano passado devido a protestos dos agricultores franceses, receosos do impacto da redução de tarifas sobre alguns produtos, como a carne brasileira.
"Barnier foi ministro do Meio Ambiente, é um europeu convicto, ótimo diplomata. É muito bom de jogo de cintura, e acho que pode avançar as linhas em relação ao Mercosul", analisou.
No ranking de países que fazem comércio com a França, o Brasil ocupa apenas o 27º lugar. Por isso, os empresários presentes ao almoço disseram acreditar que há enorme potencial de crescimento para as empresas brasileiras. Em diversos discursos no evento do Lide, alguns convidados lamentaram a redução do intercâmbio entre Brasil e França durante o governo Jair Bolsonaro, sem citar o nome do ex-presidente.
"O ex-presidente não facilitava as coisas", disse Allard. "Conheci todos os presidentes brasileiros desde Tancredo Neves, menos um, acho que vocês sabem quem", afirmou o economista Jacques Attali, ex-conselheiro de François Mitterrand quando presidente da França (1981-1995).
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