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Enem dos concursos teve avanço em captar vocação, mas nível fácil para maiores salários

Por Folha de São Paulo

21/08/2024 12h45 — em
Economia



RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Provas do Enem dos Concursos, sobretudo as discursivas, cobraram do candidato capacidade de resolução de problemas ligados ao Estado, o que pode ajudar a captar vocação para atuar no setor público, segundo especialistas.

Mas a seleção teve avanços maiores na etapa de conhecimentos gerais, que era a mesma para os inscritos nos sete blocos para candidatos com ensino superior. Na de conhecimentos específicos, houve provas com baixo nível de dificuldade que não condizem com um exame concorrido e de alta remuneração.

O CNU (Concurso Nacional Unificado) foi o maior da história, com 2,1 milhões de inscritos e 970 mil participantes, uma abstenção de 54,12%.

Quando o edital foi lançado, em janeiro, especialistas apostavam em uma prova fora do padrão tradicional. Gabriela Lotta, professora de administração pública da FGV, afirma que o exame exigiu do candidato um conhecimento além da memorização de conteúdo, capaz de avaliar a habilidade de resolução de problemas.

"Conseguiram trazer para a prova um conjunto de questões relacionadas aos princípios constitucionais, à lógica da inclusão e de pensar para que serve a política pública, que são elementos imprescindíveis para se ter um servidor mais vocacionado", diz.

Houve textos, por exemplo, sobre etarismo e proteção de terras indígenas, que pediam interpretação do candidato para que respondesse às perguntas.

Mas as perguntas dissertativas, que têm maior potencial para identificar a vocação dos candidatos, tiveram destaque, segundo Gabriela Lotta. Essas questões, que integraram a etapa de conhecimentos gerais e variavam de acordo com o bloco, exigiram mais da capacidade de resolução de problemas e do entendimento de políticas públicas importantes para o país.

No bloco de infraestrutura, por exemplo, o candidato era apresentado a uma situação relacionada ao planejamento urbano e, a partir dela, deveria escrever um texto em dois capítulos tratando de instrumentos da política urbana e do Plano Diretor.

A atenção à saúde dos presidiários foi abordada na prova do bloco de gestão governamental. Os candidatos precisaram escrever sobre o papel de agentes penitenciários e como o controle interno e externo pode contribuir para implementação da política.

Para Fernando Coelho, professor de administração pública da USP, a fase de conhecimentos gerais representa um avanço, com perguntas bem elaboradas que exigem reflexão do candidato.

Mas o mesmo não pode ser dito da etapa de habilidades específicas, segundo o professor. Nos blocos, houve provas de baixo nível de dificuldade que afetam a seleção de novos servidores –sobretudo em carreiras com salários elevados, afirma.

As questões eram mais diretas e cobravam se o candidato sabia o conteúdo mínimo conceitual da área de especialidade. No de trabalho e saúde do servidor, por exemplo, havia uma pergunta sobre o que é vacinação de bloqueio. No de gestão governamental, uma das questões tratava do principal objetivo do governo eletrônico.

"Estão selecionando pessoas que vão começar no governo federal com salários de mais de R$ 20 mil, e há questões que não contribuem para a seleção", diz Fernando.

Na opinião do professor da USP, faltaram perguntas que colocassem o candidato em uma situação problema, que seriam capazes de captar melhor sua capacidade resolutiva. Por isso, ele diz que a prova está entre os níveis médio e fácil, o que não condiz com um certame concorrido e com vagas de remuneração elevada.

"Estão selecionando pessoas que vão começar no governo federal com salários de mais de R$ 20 mil, e há questões que não contribuem para a seleção. A prova de conhecimentos específicos deveria ter ficado pelo menos entre o nível médio e difícil."

Na opinião de Humberto Martins, professor de gestão pública da FDC (Fundação Dom Cabral), houve equilíbrio entre questões fáceis, médias e difíceis.

Para ele, o CNU representa uma inovação entre seleções públicas, mas as mudanças ainda não são suficientes, pois o processo seletivo deveria incluir outras etapas, como entrevista e análise de currículo. A aprovação do PL dos concursos na última quinta (15) é um avanço nessa direção.

"O concurso foi um grande acerto do governo Lula, mas é um pequeno passo diante da trajetória que temos, no sentido de melhorar os métodos de seleção", diz Martins.

A prova também teve índice elevado de abstenção, em que menos da metade dos inscritos compareceu. Especialistas concordam com a hipótese da ministra Esther Dweck, chefe da pasta de gestão, de que pessoas se inscreveram no concurso, mas, às vésperas do exame, não se sentiam preparadas para participar.


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