Fitch diz que tensões fiscais e monetárias do Brasil criam ciclo de feedback negativo
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A agência de classificação de risco Fitch afirmou nesta sexta-feira (20) que a necessidade do Banco Central de elevar juros para ancorar expectativas sobre a inflação em meio a crescentes preocupações do mercado sobre as finanças públicas vai agravar o desafio fiscal do país.
Segundo a Fitch, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva adotou uma estratégia fiscal "politicamente arriscada" de permitir um aumento no déficit no primeiro ano de seu mandato para acomodar gastos sociais maiores, focando o restante de seu governo em esforços de aumento de receitas.
"Entretanto, algumas medidas fiscais decepcionaram, outras enfrentaram resistência no Congresso e o gasto cresceu mais do que o esperado. Isso tem forçado autoridades a cortarem gastos discricionários e a depender de receitas extraordinárias."
A agência afirmou que a estratégia posicionou o governo para cumprir o déficit primário permitido pela regra fiscal de 0,6% em 2024, mas "fez pouco para dispersar a incerteza sobre o cenário fiscal dos próximos anos".
O Congresso concluiu nesta sexta-feira (20) a votação do pacote de contenção de gastos proposto pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda). Houve enfraquecimento de medidas e, como resultado, a economia para os cofres públicos deve diminuir.
Os parlamentares blindaram emendas obrigatórias contra bloqueios, afrouxaram o comando para combater supersalários, derrubaram boa parte das mudanças no BPC (Benefícios de Prestação Continuada) e excluíram a medida que permitiria à União reduzir os repasses futuros ao FCDF (Fundo Constitucional do Distrito Federal).
Mesmo com as concessões, o governo precisou reforçar a articulação, destacar uma tropa de ministros para mobilizar as bancadas e acenar com a liberação de emendas extras para conseguir o apoio necessário para o pacote avançar nas duas Casas ainda neste ano.
Do ponto de vista fiscal, ainda não está claro quanto do impacto de R$ 71,9 bilhões esperado em dois anos já se perdeu pelo caminho. Só a derrubada das alterações no FCDF tira R$ 2,3 bilhões desse valor, sem contar as demais desidratações.
Nesta sexta, Haddad disse que as medidas tiram pouco mais de R$ 1 bilhão do impacto e negou que tenha havido desidratação.
O governo também teve de intervir no dólar para diminuir a alta da moeda, realizando leilões diariamente desde a última sexta-feira (13), exceto na quarta-feira (18). O dólar chegou a ficar acima dos R$ 6,30, mas estava na casa de R$ 6,08 nesta sexta. Ao mesmo tempo, o Tesouro realizou venda e compra de títulos públicos entre quarta e sexta desta semana.
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