Fundos de pensão têm R$ 1,7 bilhão de letras do Master sem garantia
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Fundos de previdência dos servidores de estados e municípios aproveitaram condições únicas oferecidas pelo Banco Master para aplicar milhões na instituição financeira, sem garantia do FGC (Fundo Garantidor de Créditos).

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Levantamento feito pela Folha de S.Paulo mostra que, atualmente, dez fundos possuem um total de R$ 1,7 bilhão nas letras financeiras do Master. O que possui a maior quantia é o Rioprevidência, que administra recursos da aposentadoria de servidores do Rio de Janeiro. São R$ 970 milhões investidos atualmente no banco, que correspondem a mais de 7% do total das aplicações do fundo. Os valores foram levantados primeiro pelo jornal O Globo.
Segundo uma ata de uma reunião do comitê de investimentos do fundo, de outubro do ano passado, o diretor de investimentos, Euchério Lerner Rodrigues, e o gerente de operações e investimentos, Pedro Pinheiro Guerra Leal, se reuniram para discutir as aplicações no Master.
A reunião ocorreu no mês em que a área técnica do TCU (Tribunal de Contas da União) concluiu que a Caixa Asset falhou nas diligências realizadas para analisar a compra de R$ 500 milhões em papéis do Master.
No documento do Rioprevidência, é possível ver que Rodrigues citou na reunião a atratividade do retorno oferecido pelo Master, acima dos concorrentes.
"[O diretor] explica que a cada operação era estudado o melhor momento, o valor do mercado e as taxas financeiras, esclarece que as demais instituições não tinham um retorno tão atrativo e/ou a taxa era inferior", diz a ata.
Em outro trecho, Rodrigues citou questionamentos de "diversos órgãos" sobre o investimento, mas voltou a falar dessa atratividade.
"O Diretor Euchério explica que, apesar de estar recebendo questionamentos de diversos órgãos em razão das letras financeiras no Banco Master, o investimento é bom e está dando um ótimo retorno; o Diretor Euchério e o Gerente Pedro seguem explicando que, antes do investimento, foi feita uma due diligence [investigação], que analisou o balanço, e que a única coisa que não é feita internamente pelo RioPrevidência é o rating", diz o documento.
A reportagem tentou contato via email com a assessoria de imprensa do fundo, mas não obteve resposta.
Outra instituição com grande alocação no Master é o Amprev, que administra a aposentadoria de servidores do Amapá. Segundo levantamento feito pela Folha de S.Paulo, o fundo de pensão atualmente tem R$ 410 milhões aportados nas letras financeiras do banco, segundo carteira de investimentos consolidada em janeiro deste ano.
Em ata de reunião do comitê de investimentos de dezembro do ano passado, é possível ver que um conselheiro do fundo propôs alocação em 41 letras financeiras do Banco Master com vencimento em dez anos na taxa de IPCA + 8,35% ao ano. O documento, então, diz que as letras têm o vértice "um pouco alongado, mas a taxa é muito superior das demais".
Procurado, o Amprev também não se manifestou até a publicação da reportagem.
O Banco Master não retornou o pedido de posicionamento da Folha de S.Paulo.
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FUNDOS MUNICIPAIS TAMBÉM INVESTIRAM NO MASTER
Além do Rioprevidência e do Amprev, a reportagem apurou que o fundo de pensão dos servidores do estado do Amazonas detém R$ 54,4 milhões de letras financeiras do banco, conforme posição da carteira consolidada em fevereiro.
Fundos de municípios também engrossam a lista dos que se sentiram atraídos pelo alto retorno oferecido pelo Master. A administração das aposentadorias dos funcionários públicos de Cajamar (SP) possui quase R$ 100 milhões de títulos do banco, o que representa 15,4% do total de investimentos do fundo.
Os recursos de aposentadoria dos servidores de São Roque (SP), por sua vez, somam R$ 55,8 milhões de letras do Master, 10,58% do total dos investimentos do fundo, segundo relatório de outubro de 2024, o último disponível no site.
O fundo de pensão de Aparecida de Goiânia (GO) detém R$ 42,3 milhões. Entre os títulos privados, o do Banco Master é a maior posição.
Na carteira de investimentos da previdência dos servidores de Araras (SP), consta R$ 31,2 milhões nos títulos do Master, 6,8% de participação do total dos aportes. O fundo de pensão de Santo Antônio de Posse (SP) detém R$ 7,7 milhões, que representam 6,73% do total da carteira, terceiro maior investimento do fundo, segundo posição consolidada em fevereiro
Em Santa Rita DOeste (SP) são R$ 1,9 milhão da previdência dos servidores investidos nas letras do banco e Campo Grande (MS) possui R$ 1,3 milhão, que representam 3,58% de participação da carteira do fundo de pensão.
A Folha de S.Paulo tentou contato com todos esses fundos via email, mas não obteve retorno. O fundo de pensão de São Roque foi único que respondeu.
"O instituto está acompanhando as notícias sobre as operações envolvendo a citada instituição financeira. Os aportes foram realizados conforme determina a legislação, com parecer de assessoria de investimentos e aprovação do colegiado do Instituto", disse a assessoria em nota.
Segundo o balanço de 2024 do Master publicado recentemente, o banco possui um passivo de R$ 2,3 bilhões com letras financeiras, imobiliárias, de crédito e similares, uma alta de 54% ante o ano anterior.
O alto risco contido na atratividade dos títulos do Master, tanto para pessoas físicas com a oferta de CDBs a taxas elevadas, alcançando 140% de retorno, como para investidores institucionais, está no centro da venda de parte da instituição financeira para o BRB (Banco de Brasília). A transação é analisada pelo Banco Central e pelo Cade.

ASSUNTOS: Economia